Arte regional para quebrar a dureza do concreto em Marabá

Bino Souza usa cores fortes para contrastar com o cinza opaco do cimento e promover os ciclos econômicos do município

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Escadaria de acesso aos barcos na Orla do Rio Tocantins; viadutos de duas passagens na Rodovia Transamazônica, na Folha 33; paredão externo do Ginásio Osorinho, na Velha Marabá. O que esses três locais têm em comum? Primeiramente, concreto puro; “segundamente”, a suavidade da arte criativa e regional de Bino Souza.

Os motivos da arte multicolorida de Bino neste verão são personagens dos ciclos econômicos de Marabá e que se tornaram referência nacional e até internacional, como garimpeiro, castanheiro, todos cravados nas paredes com a linguagem popular do grafite.

E Bino Souza não é toy (grafiteiro iniciante), tendo vários trabalhos anteriores com essa técnica já registrados, também em espaços públicos, embora a maior parte de sua arte tenha sido limitada a telas pequenas que cabem na parede de uma casa. Agora, ao dar vida a quadros grandiosos que todos veem a dezenas e até centenas de metros de distância, o artista mostra que tem tutano e “braços longos” para uma composição mais densa.

Segundo Bino Souza o que motivou a escolha dos desenhos foi o fato de ele ter uma identificação pelos ciclos econômicos, sobretudo pela história de Marabá. “Pretendo retratar numa série de grafites um pouco de história, da riqueza e economia regional”, ressalta o artista plástico, explicando que a princípio, a proposta foram três imagens, porém, a pretensão é disseminar a arte grafiteira em toda cidade.

O painel de grafite localizado na lateral do Ginásio Municipal Osorinho retrata o ciclo da castanha, após o ciclo do caucho (borracha) a exploração da Castanha-do-Pará foi uma das mais importantes molas econômicas de Marabá, entre as décadas de 1920 e 1970, estimulando o crescimento da cidade.

Na imagem pintada na escada de embarque da Orla “Sebastião Miranda” é retratada a lenda indígena de Iara, do folclore brasileiro. Souza explica que, para esse ponto, a ideia era fazer uma imagem relacionada ao verão. “Quando o rio começar a subir ele [grafite] vai embora, a Iara pode ficar ali quando a água estiver subindo do ladinho dela, na altura da calda. Ficará interessante a imagem”, prevê.

No viaduto Três da Nova Marabá, o grafite é relacionado ao ciclo do ouro, que ocorreu em Serra Pelada, na década de 1980, considerado o maior garimpo a céu aberto do mundo, sendo Marabá o ponto principal da passagem desse ouro. “É muito gostoso falar do ciclo do ouro. Quando eu estava pintando lá [no viaduto] apareceu um garimpeiro, com dentes cheios de ouro. Ele lembrou que vendeu picolé no tempo do garimpo, portanto se identificou com a imagem. É legal quando as pessoas se identificam com os desenhos, que contam a história da cidade e das pessoas que nela vivem”, pondera.

As cores retratadas no grafite de Bino são vibrantes, apesar de alguns artistas optarem por cores leves, mais brandas, outros só trabalham com preto e branco.

Os desenhos em grafite já estão fazendo sucesso na cidade. Prova disso foi a opinião da servidora pública Tainara Dantas ao visualizar as imagens. “Essas manifestações artísticas, além de expressar a identidade do povo marabaense, afirmam na paisagem da cidade uma cultura local, que para muitos não é conhecida ou até mesmo é esquecida. Mas ainda temos o valor artístico, porque possui grande atrativo turístico”, diz Tainara Dantas.

Bino Souza é artista plástico há 18 anos em Marabá. A história dele com o grafite começou em 2014, porém ele já é bastante conhecido na cidade pelas pinturas, com várias exposições na Galeria Vitória Barros, onde atua no dia a dia, e até mesmo fora de Marabá.

Ulisses Pompeu e Emilly Coelho (Ascom PMM)