Ex-atleta forja campeões nas ruas de Marabá

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Enquanto se acostuma com a ideia da aposentadoria, o corredor Fabiano Gomes, 40 anos de idade, vai treinando uma nova geração de atletas de alto desempenho que já estão vencendo competições e se destacando até mesmo fora do Pará.

Vencedor da Corrida do Círio de 2009, Fabiano pode não pendurar o tênis tão cedo. Nascido em Jacundá e, atualmente vivendo em Marabá, onde está se formando em Educação Física, o corredor agora pretende se dedicar a formar novos atletas de alto rendimento na mesma modalidade que o consagrou.

No ano passado, ele fundou a Associação Atlética Fabiano Gomes (AAFG), o qual diz que se trata de um projeto social e profissional ao mesmo tempo, porque orienta os jovens e não cobra nada. “Aqueles que percebo terem talento, que querem se tornar profissionais, a gente vai fazendo trabalho específico. Já temos três atletas de alto rendimento de Marabá, que consegui lapidar e que estão nos representando em competições. Também há um grupo de atletas amadores”, explica.

Entre as atletas de alto rendimento está Ione Vieira Guedes, 20 anos, natural de Marabá. Antes de conhecer Fabiano ela já corria, mas em pista e não na rua. “Eu era velocista. Corria meio fundo. Virei fundista e corredora de rua, agora faço 7 e 10 quilômetros”, afirmou, acrescentando que a mudança fez bastante diferença em sua trajetória esportiva.

Em 2016 e 2017, ela foi a vencedora da Corrida do Aço, prova promovida pela Sinobras. “Foi uma das minhas primeiras corridas, logo que comecei a treinar com ele (Fabiano). Já ganhei várias depois dessa, da Unopar, da OAB, uma em Parauapebas. A maioria de 7 quilômetros”, conta a jovem que marcou 27’54” como melhor tempo.

TRAJETÓRIA

A ideia de fundação da associação veio após mais de 20 anos de experiência em corridas de rua que Fabiano Gomes carrega nos ombros. Ainda adolescente, ele jogava futebol em Jacundá, a 115 quilômetros de Marabá. A bola o ligou ao esporte, que o levou à corrida. “Como futebol tem que começar bem cedo e eu já tinha uma idade mais avançada, entrei no atletismo vendo os caras correndo São Silvestre, em São Paulo”.

Em 1997, o brasileiro Emerson Iser Bemt venceu a prova, batendo o então favorito, recordista da prova e, na época bicampeão, o queniano Paul Tergat. No ano seguinte, 1998, próximo à época da São Silvestre, a televisão só falava disso. “O canal que transmite o evento só falava do Emerson e aí eu vendo o programa de esportes, fiquei pensando ‘serei isso aí, vou treinar e praticar’”, relembra.

Em 1999 iniciou a carreira correndo na própria São Silvestre. Ao retornar para Jacundá, o prefeito da época o levou até a Federação Paraense de Atletismo e o “federou”. Em 2000, Fabiano passou a disputar competições de rua. “Em 2001, com 21 anos, me destaquei. Fiquei entre os três primeiros em uma corrida e quis dar continuidade à carreira, vi que tinha futuro. Tinha parentes em São Paulo e decidi mudar para lá e procurar recursos e me transformar em um atleta de alto rendimento”.

Atualmente com 40 anos, o atleta percebe que é hora de desacelerar. “A gente começa a perder velocidade. Continuo com a mesma resistência, mas já não tenho mais a velocidade, aquela pegada de arranque que os caras mais novos têm”.

Quando questionado quantos troféus acumula, Fabiano é rápido em dizer que não tem ideia. “Preciso contar em casa”, brinca. Ele alcançou posições de destaque em grandes competições. Além da Corrida do Círio, foi o oitavo colocado geral e quinto brasileiro na Maratona Internacional de São Paulo. Também ganhou a medalha de ouro no Campeonato Norte e Nordeste de Pista, em Recife, correndo 10 mil metros, e medalha de bronze na prova de 5 mil metros. É vice-campeão da Meia Maratona de Fortaleza e bicampeão da Meia Maratona de São Luís.

Por fim, Fabiano decidiu se estabelecer em Marabá para cursar Educação Física (um sonho) e ter estrutura para continuar treinando. “Eu precisava concluir meus estudos e estava me preparando para o final de carreira, precisava estudar. Como sou do ramo não tem outro curso que não seja Educação Física. Escolhi Marabá porque eu precisava de um local que tivesse bom acesso para treinamento e também ao estudo. Aqui encontrei os dois”.

Por fim, Fabiano Gomes diz que há ao menos 15 pessoas em treinamento com ele, atualmente. “Em Marabá, as premiações são pequenas. A OAB, que paga melhor, oferece R$ 600, R$ 300 e R$ 200 para os três primeiros colocados, respectivamente. A Corrida do Aço paga R$ 500, R$ 300 e R$ 200. É um valor simbólico. Ainda não temos a cultura de valorizar o atleta profissional no quesito premiação, mas é uma questão que vai evoluir”, finaliza.

Por Ulisses Pompeu – correspondente de Marabá