Falta de neuropediatra é a principal queixa dos pais que buscam diagnóstico de autismo em Parauapebas

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O neuropediatra é fundamental para o fechamento do diagnóstico de uma pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que geralmente conta também com a colaboração de outros profissionais das áreas de fonoaudiologia e psicologia. Em Parauapebas não se encontra neuropediatras, nem na rede pública e nem na privada.

“Meu filho foi diagnosticado com TEA por um médico em Minas Gerais, um neuropediatra. Não encontrei aqui em Parauapebas profissional nessa área. Tenho que levá-lo pelo menos duas vezes por ano lá (MG), para acompanhamento”, relatou a técnica em mineração, Ana Cristina de Souza. “Nós tivemos que ir para São Luís para entender o que o meu filho tinha, mas só em Santa Inês encontramos um médico que nos disse que ele era autista”, disse a dona de casa, Maria das Dores.

É o neuropediatra quem fecha o diagnóstico e avalia, inclusive, a necessidade de medicamento para o paciente ou se apenas com atividades terapêuticas e atendimento psicológico e fonoaudiólogo a criança se desenvolverá bem. Pediatras também podem fazer o diagnóstico, mas infelizmente a maior parte não está preparada para identificar os sinais do autismo logo nos primeiros anos de vida da criança. É o que afirma a maior parte das Ong’s e associações que lutam pelos direitos dos autistas no Brasil.

“Normalmente, os sinais de risco de autismo não são percebidos, o que leva a atrasos nos diagnósticos e, por consequência, a intervenções tardias. Mas já haveria uma complexidade de sintomas que não apontam para um prognóstico favorável de desenvolvimento devido à cristalização dos sintomas deste transtorno”. Foi a conclusão que chegaram as psicólogas Mariana Rodrigues Flores e Luciane Najar Smeha, após uma pesquisa cujos resultados foram públicos no artigo “Bebês com risco de autismo: o não-olhar do médico”.

Os sintomas do autismo variam de criança para criança e podem apresentar desde traços discretos até os mais severos. Identificar, portanto, um Austimo Leve, muitas vezes é um desafio pois os quadros discretos são mais difíceis de diagnóstico. Além disso, não há ainda exames de imagem ou de laboratórios que o comprovam, dependendo totalmente da observação clínica, comportamental e relato de pais, cuidadores e profissionais da escola para confirmar ou descartar sua presença.

Este processo pode levar à uma demora maior nas consultas e até possível desistência dos pais, ficando a criança sem uma definição e sem um possível tratamento que faria diferença. Assim, conhecer os sintomas da forma leve do autismo é muito importante, devendo ser investigado rotineiramente durante a puericultura e também nos centros de educação infantil ou creches, dos 18 aos 30 meses de vida.

Os principais sintomas que devem ser observados com atenção por pais e cuidadores são:

– pouco contato visual;

– não dar continuidade a processos sociais ou conversas;

– não saber se comunicar por meio de gestos;

– fala existente, mas sem muito nexo com a realidade a sua volta;

– algumas manias e repetições;

– no contato com os outros a criança olha mais para a mão ou para o objeto da pessoa do que para seus olhos;

– dificuldade em aceitar espontaneamente regras e rotinas;

– pouco disposto a se socializar e tendência a se isolar ou brincar do seu jeito, sem flexibilizar de acordo com o que o amiguinho pede ou quer e pouco responde ao ser chamado pelo seu nome. A linguagem expressiva (ou a fala), nestes casos, pode estar preservada, mas é comum ser uma fala mecânica e sem emoção, porém com uma funcionalidade satisfatória para atividades sociais e escolares.

Neste contexto, é importante relatar que alguns fatores podem atrapalhar sua identificação. A presença de hiperatividade, por exemplo, pode confundir a escola e o especialista, pois inquietude excessiva pode passar a impressão de que a criança não seja autista, mas sim que ela tenha Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A falta de conhecimento acerca do que é e dos sintomas de TEA também posterga sua identificação, pois podem ser interpretados como falta de limite, preguiça ou até como outros distúrbios, como Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD).

Intervenção precoce

Após o encerramento das atividades da Apae para o público infantil, a Prefeitura de Parauapebas passou a ofertar serviços de intervenção precoce para crianças autistas ou com outras deficiências. Foi implantado o Centro de Estimulação Precoce, na Policlínica, ano passado, depois de muita reivindicação dos familiares dessas crianças.

Atualmente são 75 crianças atendidas com estimulação precoce na Policlínica. A equipe é formada por duas terapeutas ocupacional, duas fonoaudiólogas, três fisioterapeutas e uma psicóloga. “Atendemos crianças de até 12 anos, porém, a prioridade é para a faixa etária de 0 à três anos, destinamos 70% das vagas para eles, conforme diretriz do SUS”, informou a fonoaudióloga, Rita Maia, que é coordenadora da Rede de Atenção à Pessoa com Deficiência, da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa).

Para a criança ter acesso ao serviço é preciso encaminhamento do médico ou pediatra do postinho de saúde. Sobre a falta de neuropediatra na cidade, Rita Maia concorda que é a principal lacuna no atendimento aos autistas em Parauapebas e acrescenta: “a falta de diagnóstico não impede que façamos o atendimento, porém, dificulta muito o prognóstico terapêutico”.

Quando se fala de intervenção precoce, a rede privada em Parauapebas também conta com profissionais que fazem um atendimento diferenciado para pessoas com TEA, como é o caso da psicóloga, Ana Carolina, que atua com a cinoterapia, que é a terapia com cães; e a fonoaudióloga Tanise Morgana da Silva Ramos Santa Rosa, que atende crianças autistas desde julho de 2014. Atualmente 19 delas passam semanalmente em seu consultório.

É necessário um atendimento multidisciplinar para o melhor desenvolvimento dessas crianças. “Vejo que as áreas mais carentes de profissionais aqui são neuropediatria, psiquiatria infantil, psicologia e terapeuta ocupacional com formação em integração sensorial”, informou Tanise Rosa, acrescentando que “em um contexto de terapia multidisciplinar, em que a equipe seja parceira, mantenha contato frequente e atue de forma coesa, a criança apresenta grandes possibilidades de desenvolver-se, facilitando sua independência e inclusão na sociedade”.

1 comentário em “Falta de neuropediatra é a principal queixa dos pais que buscam diagnóstico de autismo em Parauapebas

  1. ADRIANA ARAUJO LEÃO MOL Responder

    Parabenizamos a iniciativa de desenvolver essas três brilhantes matérias no blog que com certeza contribuirão para o inicio de conscientização da população de modo geral . É gratificante vermos matérias tão fundamentadas nos blogs, principalmente sobre um assunto ainda muito complexo para todos nós. Mas acreditamos esse ser o caminho!!! Quantos avanços !!! Que bom!!! Ha quatro anos atrás esse assunto era muito novo em Parauapebas e agora já encontramos excelentes profissionais tanto na rede pública quanto na privada. Parabéns ao blog do Zedudu e em especial a jornalista responsável que com certeza procurou se embasar para escrever, sendo visível a busca de um referencial teórico , quanto a pesquisa em loco. Sucessos !!!!

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