Marabá está próximo de dispor de tratamento pela equoterapia

Visita técnica e oficial aconteceu nesta quinta-feira (26), quando oficiais da Unidade de Reabilitação da PM estiveram avaliando o local oferecido pelo Sindicato Rural e deram sinal verde

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O romancista espanhol Miguel de Cervantes, autor do clássico “Dom Quixote”, escreveu: “Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha junto é o começo da realidade”. E agora, parece que o sonho do pecuarista Antônio Vieira Caetano, da terapeuta Lusiane Vale, da fisioterapeuta Cecília Fraga e do vereador Antônio Márcio Farias Gonçalves (PSDB), de implantar em Marabá o tratamento de equoterapia, está perto de se realizar.

Nesta quinta-feira (26), a cidade recebeu a visita do tenente-coronel Márcio Fernandes, da Unidade de Reabilitação da Polícia Militar do Pará, que veio avaliar a possiblidade de instalar o projeto no Parque de Exposições do Sindicato Rural de Marabá. Em Belém, a equoterapia já existe há mais de 20 anos e aos poucos vem se estendendo ao interior, com polos em Santarém, na região oeste do Pará; e em Castanhal, no nordeste do Estado.

O oficial afirma que na capital atualmente 80 crianças são atendidas no picadeiro, mais as que são atendidas em processos de avaliação e orientação. “A equoterapia se destina, principalmente, ao tratamento de pacientes com deficiência. A nossa maior clientela é de pacientes com Síndrome de Down, paralisia cerebral, espectro autista e também temos alguns militares com sequelas da atividade policial”, descreve o tenente-coronel.

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Otimismo

Segundo ele, os casos de progresso com o tratamento equoterapia são incontáveis nesses mais de 20 anos de atividade em Belém: “Temos muitos exemplos, de crianças que não andavam, de pessoas que conseguiram até emprego depois da equoterapia e de crianças que chegaram lá com deficiência cognitiva e conseguiram superar, entre muitas outras”, conta o oficial da PM.

Ele lembra que, “obviamente, não há cura para esse tipo de patologia”, mas, o que os pacientes têm de funcionalidade pode ser estimulado e eles saem do tratamento bem melhores. “Esse é sempre o relato que os pais nos trazem durante esses anos”, afirma Márcio Fernandes.

Sobre a possibilidade de adaptar as áreas do parque oferecidas pelo Sindicato Rural, para a prática da equoterapia, o tenente-coronel disse que está muito otimista quanto a isso. “Desde que chegamos estamos percebendo o apoio da Prefeitura de Marabá, do vereador Márcio e do sindicato. Então, quando há esse clima de interação, de energia de trabalho, muito provavelmente vai dar certo”, avaliou ele.

Para começar o tratamento, serão necessários cinco cavalos, o 4º Batalhão de Polícia Militar já se dispôs a doar dois animais; e alguns produtores filiados ao sindicato também já se propuseram fazer doações. “Quanto aos técnicos nós vamos ter de contar com a prefeitura”, antecipou ele.

Engajamento

O capitão Ângelo Pontes Scotta, fisioterapeuta e também oficial da Polícia Militar, vê boas perspectivas conforme as instalações oferecidas pelo Sindicato Rural: “O espaço é incrível, com muita área a ser explorada. O atendimento de equoterapia não se restringe a um espaço delimitado, precisa de uma área grande, uma espécie de bosque a ser utilizado nos atendimentos. Então, eu vejo isso com bons olhos, a gente percebe que as pessoas estão engajadas nessa ideia e, quando há boa vontade, pode se considerar que vai acontecer”.

Cecília Fraga, fisioterapeuta e ligada ao Sindicato Rural, disse que sempre pensou em implantar a equoterapia em Marabá, no Parque de Exposições e, agora, diante dessa possibilidade, “parece que há uma luz no fim do túnel”. “Eu acho que agora as coisas estão mais concretas, parece que agora vão sair do papel”, acredita ela.

O pecuarista Antônio Vieira Caetano, mais conhecido com Neném do Manelão, presidente reeleito do Sindicato Rural, revelou que desde sua primeira gestão à frente da entidade já tinha a intenção de implantar a equoterapia dentro do parque. Mas, em 2015, ao fazer o levantamento do que era necessário para realizar o projeto, chegou à conclusão de que a entidade não tinha condições de efetuá-lo sozinha.

Realização

“Buscamos parceria com a prefeitura, na época, mas não obtivemos êxito. Então agora, com o vereador Márcio à frente e essas autoridades que estão aqui hoje, da Polícia Militar, do Exército e em parceria com a Câmara Municipal e outros órgãos, eu estou achando que nós vamos conseguir realizar esse sonho, que é ter uma equoterapia aqui no Parque de Exposições, e fazermos também a nossa parte social”, afirma Neném, completando: “No que puder o sindicato está aqui à disposição. Eu estou muito feliz!”.

O vereador Antônio Márcio Farias Gonçalves, mais conhecido como Márcio do São Félix, contou que a ideia de implantar a equoterapia em Marabá surgiu a partir de uma ação do Núcleo de Cidadania do Governo no Estado na cidade, durante a qual foi apresentado e Plano Existir, cujo objetivo é a inclusão social de pessoas com deficiência.

“Na oportunidade foram apresentadas algumas alternativas e eu foquei, de uma forma muito carinhosa e especial, na equoterapia. A partir daí, estive com a primeira-dama do Estado, Ana Jatene, pedindo a ela apoio e orientação”, detalha o vereador, contando que foi encaminhado ao CIEQ (Centro Interdisciplinar de Equoterapia).

Ele diz que teve “o prazer de conhecer a equipe de equoterapia do Estado” e construiu uma rede em Marabá: “Essa rede foi formada com o apoio do Sindicato Rural, voluntários, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e a sociedade de uma forma geral, o que culminou com a visita técnica e oficial, hoje, do CIEQ, Então eu acho que é um prenúncio de um projeto que será perpetuado e trazer bons resultados para a nossa região. Fico feliz por poder, como vereador, estar participando e contribuindo para a melhor qualidade de vida da nossa comunidade”.

O que é equoterapia?

Segundo a terapeuta ocupacional Lusiane Assunção da Silva Vale, a equoterapia é um método terapêutico e educacional, que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiências e/ou necessidades especiais.

Na questão física – descreve ela – o movimento do cavalo reproduz o nosso movimento de marcha, o nosso andar: “Quando a pessoa está sobre o cavalo, faz um movimento tridimensional, para cima, para baixo, para frente e para trás. A marcha do cavalo reproduz isso, o que dá um estímulo neurológico e a pessoa tende a ganhar movimentos, melhorar o tônus muscular e ter melhor qualidade de vida”.

Um dos ganhos psíquicos, segundo a terapeuta, está muito relacionado ao vínculo emocional do praticante com o cavalo, pois o animal cria um vínculo e, normalmente, a criança e o próprio adulto passa a ter carinho e a se reconhecer e aquele outro ser começa a socializar com quem o está acompanhando sobre o cavalo.

“Então, a sensação de estar mais alto, de estar sendo visto, de estar sendo acolhido, tem um ganho emocional pelo próprio prazer e o lazer que a terapia causa. Há uma interação entre o praticante, o animal e o técnico”, observa ela.

Lusiane afirma que, a partir daí, a criança pode ter seu lado educativo estimulado, para que conheça cores, letras números, uma série, enfim, de estimulações cognitivas relacionadas ao raciocínio, ao pensamento, à atenção, à concentração, “porque ela está ali num momento de prazer, de alegria e de descontração”.

Sobre a chance de sucesso nesse tipo de tratamento, Lusiane Vale diz que depende muito do problema de cada um, mas afirma que, pela sua experiência, aquele resultado que o terapeuta muitas vezes passa de um a dois anos para conseguir, com a equoterapia obtém em três ou quatro meses. “Varia muito de praticante e vai depender do organismo, mas é uma terapia cujo resultado é visto muito rapidamente”, afirma ela, que desde 2013 almeja que Marabá tenha equoterapia. “Agora temos a confiança de que vai acontecer”, torce.

Por Eleutério Gomes – Correspondente em Marabá

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