Surto de leishmaniose em Canaã atinge índices alarmantes

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A tensão era evidente. Vários animais chegavam junto aos seus donos no ginásio do bairro Novo Brasil para a coleta de sangue do teste de leishmaniose. Alguns deles chegavam abraçados aos donos. A torcida era que os sintomas, muitos já avançados da doença, fossem apenas indicadores de outros problemas que pudessem ser tratados. Os animais pareciam também nervosos com a situação. Em fila, presos por coleiras, os cães aguardavam a sua vez para fazer o teste.

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Na fila, o agente de endemias Fabio Alves identificava quais animais tinham sintomas mais graves do mal e orientava os donos sobre o procedimento. A história se repetia várias vezes: o dono segurava o nervoso animal, que não queria saber da agulha de coleta, e o sangue era retirada para a análise. O final da maioria das histórias era o mesmo: o cão estava, de fato, contaminado com a doença e a principal recomendação da Secretaria Municipal de Educação era que o sacrifício do animal fosse feito.

Essa é a mesma história vivida por Laisse Sousa. Ela contou, em entrevista, que foi obrigada a sacrificar uma de suas cadelas, uma Rottweiler, por conta da doença e que trazia agora uma outra para passar pela testagem: “É lamentável, pois a gente cuida do quintal, cuida do bicho e de repente você tem essa surpresa negativa. Os sintomas de que o animal não quer comer direito aparecem, você leva no veterinário, achando que é uma doença comum, e, quando vê, dá positivo pro calazar. Aí você tem que sacrificar e dói no coração. Hoje a Pitucha vai passar pelo exame e eu já estou com medo. Já faz três anos que ela mora com a gente e não quero perde-la” disse a mulher emocionada.

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A Pitucha fez o exame, mas o resultado ficou para depois, já que a análise é feita em laboratório e entregue ao dono na Secretaria de Saúde. Fabio Alves falou sobre o trabalho que vem sendo feito nos últimos dias: “Estamos aqui com essa ação preventiva desde terça-feira (20). Estamos coletando o sangue dos animais para saber se eles estão com o vírus da leishmaniose ou não. Está havendo, na prática, um surto da doença no município. Só para a gente ter uma ideia, dos 64 exames feitos desde terça feira, apenas 11 deram negativos. Ou seja, mais de 80% dos exames. Esse é um índice altíssimo e alarmante, tanto aqui no bairro Novo Brasil, como nos outros bairros do centro.”

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Fabio também lembrou que nem só os cães têm sofrido com a doença: “Temos alguns casos confirmados em seres humanos no município. Temos hoje dois casos de leishmaniose tegumentar e mais cinco casos de leishmaniose visceral, que é a forma mais grave da doença e que pode levar a pessoa à morte.”

Sobre as formas de prevenção, o agente de endemias lembrou: “Há maneiras de se evitar a transmissão do vírus. No animal, o ideal é que se compre uma coleira repelente, pois ela afasta o mosquito da leishmaniose, e também o uso de repelentes. Além disso, há uma vacina que imuniza o cão. Ela é dividida em três doses, mas antes da aplicação é necessário que se faça o exame laboratorial para constatar se ele já tem a doença, pois se ele tiver, não vai adiantar nada a vacina.”

Em todos os casos que a doença é diagnosticada, a decisão final é do proprietário. A recomendação é que o sacrifício seja feito. Caso o dono opte por isso, um termo de doação é assinado para o sacrifício dele. Mas, caso a escolha não seja pelo sacrifício, o animal deve ser tratado e a prevenção deve acontecer para que a doença não se propague no ser humano. Com o período de chuvas, o cuidado com os quintais deve ser redobrado para evitar a reprodução do mosquito transmissor. Vale lembrar que o tratamento existente para o animal adoecido é apenas para evitar que o mal seja transmitido, já que ainda não há cura para a leishmaniose em animais.