Por Ulisses Pompeu – de Marabá
Das 35 mil famílias beneficiárias do Bolsa Família em Marabá, pelo menos 490 estão sob investigação. É que o Ministério Público Federal começou a fazer cruzamento de informações em bancos de dados diferentes e a peneira apontou que em Marabá, um total de 490 benefícios são altamente suspeitos. Desse grupo, nada menos que 412 cadastros são de pessoas que têm empresas registradas em seus nomes e que, portanto, não se enquadram no perfil do programa. O diagnóstico Raio-X se refere ao período de 2013 até maio deste ano de 2016.
O levantamento aponta, ainda, que 60 beneficiários do Bolsa Família em Marabá são servidores públicos, os quais receberam um “bônus” do programa no valor global de R$ 157.772,00. Outro dado incomum é que havia 10 falecidos que ainda “ganhavam” o benefício do programa e neste período de quase quatro anos levaram para o túmulo nada menos que R$ 39.832,00.
Por fim, o MPF abriu os olhos, também, para o fato de quatro dos beneficiários do programa fizeram doações a campanhas eleitorais para deputado (em 2014) maior que o benefício que recebiam do governo federal: R$ 3.506,00 e, pasmem, todos eles servidores públicos.
Com os dados, o MPF emitiu recomendações para o município de Marabá, com o objetivo de que uma equipe técnica visite os domicílios dos 490 mil beneficiários suspeitos de irregularidades.
Por conta disso, os benefícios dessas pessoas foram cortados e uma equipe do Comitê de Marabá está visitando um a um os beneficiários suspeitos para tirar a “prova dos nove”.
Juntos, esses beneficiários suspeitos receberam nada menos que R$ 1.919.500,00 de um total de R% 126.492.097,00 pagos para cerca de 35 mil pessoas que são clientes do programa Bolsa Família em Marabá. O percentual suspeito representa 1,52% do total de beneficiários neste município. De janeiro a outubro deste ano, o governo federal já liberou para os 35 mil beneficiários do Bolsa Família em Marabá um total de R$ 23.056.711,00.
Hoje à noite, a coordenadora do Comitê Bolsa Família, Elane Lima, confirmou os números à Reportagem e disse que foram visitadas todas as famílias que o MPF apontou terem praticado possíveis irregularidades. Informou que está à frente do Comitê desde março deste ano e que sua equipe está trabalhando com transparência e legalidade.
Elane informou que o Ministério Público pediu informações sobre esses casos esta semana e que tudo que dispunha foi repassado. Mas não disse se há possibilidade de envolvimento de cadastradores com possíveis fraudes no programa.
Uma servidora do Bolsa Família em Marabá, que não quis se identificar temendo represália, revelou que, no início de 2013, um colega foi transferido porque não fazia vista grossa para pretendentes do Bolsa que tentavam omitir a renda de sua família e outros dados. Como era concursado, acabou sendo transferido para outro órgão do município.
Essa mesma servidora disse que os beneficiários do Bolsa Família não querem receber capacitação para não ter que trabalhar e “perder o dinheiro que entra na conta todo mês. A maioria das mulheres que buscam o cadastramento, ‘mata’ o marido para aparentar que é carente, mas ele fica lá fora do prédio esperando a esposa na moto”, conta.
Ainda nesta quinta-feira, dia 17, vamos publicar os números da irregularidade do programa Bolsa Família nos municípios de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Curionópolis entre 2013 e 2016.