Para lembrar os 22 anos do episódio que ficou conhecido como “Massacre da Curva do S”, ocorrido em 17 de abril de 1996, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) realiza nesta terça-feira (17), das 9h às 13h, Ato Ecumênico seguido de Ato Político. Para Tito Moura, um dos líderes do movimento, é uma forma de não deixar a luta morrer, embora a Reforma Agrária não tenha avançado, apesar do sacrifício das 19 vidas.
Durante a manifestação, o tráfego deve ficar lento na Rodovia BR-155, por conta de interdições alternadas da estrada. “Não vamos fechar a estrada”, garante Tito, explicando que o tráfego para por alguns minutos e logo é liberado, “sem prejuízos ao movimento da rodovia”, numa espécie de pare-siga, na curva em que aconteceu o conflito.
Estão sendo aguardadas lideranças de outros movimentos, que debaterão o momento político pelo qual passa o País, nas palavras de Tito Moura, sem governo: “Nós não temos governo no Brasil. E no Pará também essa relação é muito complicada”, afirma ele em relação à Reforma Agrária.
“Nunca teve Reforma Agrária. O que tem é uma distribuiçãozinha de terra quando os trabalhadores se organizam. A maioria dos acampamentos que têm 10 anos, 15 anos, continua lutando pela terra, para, pelo menos, ser regularizada e nem isso acontece. Quando tem conflito, o governo vai lá e compra a terra ou desapropria, mas voluntariamente não faz”, afirma Tito Moura.
Ele diz que a Reforma Agrária nunca avançou, está pior, com tudo parado em relação aos acampamentos e aos assentamentos e que nada funciona. Afirma que os poucos títulos de terra que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) são uma gota d’água no oceano diante do número famílias acampadas na região.
Sobre esses Títulos Definitivos que o instituto vem entregando, Tito Moura afirma que o MST não é contra a emissão dos documentos, mas sim contra a forma como está sendo feita e faz uma revelação ao Blog: “Em verdade, o Título Definitivo custa muito caro ao assentado. Não é de graça, é pago, cerca de R$ 30 mil. É pago parceladamente, não é de graça, não”, afirma o líder sem-terra.
Segundo ele, uma das aspirações do MST ainda no Governo Dilma, era de que o documento fosse gratuito, “mas não passou”. “Aí, o MST não vai ser contra quem quiser titular, mas depois tem as parcelinhas para pagar”, diz, completando: “Muitos trabalhadores, desinformados, choram por um documento de terra. Mas, na hora em que eles vêm o valor, dizem que não era isso que queriam”.
“Estamos fazendo um debate dentro do MST. Se a turma concordar em não titular, para nós é melhor. Pode ficar com a concessão de uso para 100 anos, 200 anos, se quiser. Mas, a titulação é meio complicada”, afirma. “A morte dos companheiros não foi em vão, mas não há Reforma Agrária no Brasil”, lamenta Moura.
História
O confronto entre integrantes do MST e policiais ocorreu em 17 de abril de 1996 no município de Eldorado dos Carajás, na Rodovia PA-150, hoje BR-155, quando 1,5 mil sem-terra que estavam acampados na região decidiram fazer uma marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras. A Polícia Militar foi encarregada de tirá-los do local. Além de bombas de gás lacrimogêneo, os policiais atiraram contra os manifestantes. Dezenove camponeses foram mortos.
Dos 155 policiais que participaram da ação, o coronel Mário Pantoja e o major José Maria de Oliveira, comandantes da operação, foram condenados a penas que superaram os 150 anos de prisão. José Maria de Oliveira permanece custodiado no Centro de Recuperação Especial Anastácio das Neves. Já Mário Colares Pantoja está em
recolhimento domiciliar para tratamento de saúde. Os demais policiais militares que foram a julgamento foram absolvidos dos crimes.
Por Eleutério Gomes – Correspondente em Marabá