Brasília – O ano de 2022 chega em sua última semana e marca a despedida do Volkswagen Gol, sucessor do Fusca, outro ícone da produção em massa de veículos da Volkswagen. O líder de vendas e “queridinho” do consumidor brasileiro, produzido ao longo de 42 anos, sai de linha neste ano após oito gerações de modelos, marcando o fim de uma era.
Compacto de maior sucesso do Brasil, ele deixa definitivamente a de montagem e a montadora alemã delega ao Polo a tarefa de sucedê-lo no segmento de carro popular, embora o preço, de popular, não tenha nada. Mas, justiça se faça, não é todo carro que nasce no Brasil e se torna tão longevo. Mesmo às vésperas da aposentadoria, o Gol é um dos carros mais vendidos no ano, perdendo apenas para a Kombi, que durou 56 anos!
O nome Gol é uma alusão ao melhor momento sublime de uma partida de futebol, esporte mais popular do Brasil. A missão do carro na época do lançamento não foi fácil: suceder o eterno Fusca. Enquanto o “besouro (beatle)” teve pouco mais de 5 milhões de unidades produzidas, o Gol superou 8,5 milhões, conseguindo uma marca difícil de ser batida e se tornando o recordista de vendas na história da indústria automobilística brasileira.
Por 27 anos consecutivos – de 1987 a 2013 – o veículo foi o líder de vendas no país. Neste ano, alcançou o topo do ranking por alguns meses pontuais, graças às ações de vendas diretas da Volkswagen, principalmente para as locadoras, o que não tira méritos do compacto.
Voltando um pouco na história, o Gol até demorou para “embalar” quando surgiu, em 1980. Desenho moderno e espaço interno eram os destaques, apesar das críticas ao motor 1.3 a ar.
Após o lançamento, a primeira geração do Gol ficou em linha por impressionantes 14 anos, passando por diversas mudanças. Pouca gente se lembra, mas o Gol chegou ao mercado com o mesmo motor boxer refrigerado a ar do Fusca.
Posteriormente ganhou o popular motor AP. Foi ainda na primeira geração que o Gol teve algumas de suas versões mais desejadas. Em 1982, a plataforma deu origem à ampliação da família: veio a perua Parati, o sedã Voyage e a picape Saveiro.
Apenas em 1985, o compacto receberia o motor 1.6 refrigerado a água que rendia 81 cv, podendo vir com o câmbio de 4 marchas e ou 5 como opcional, conjunto que deixou o Gol mais ágil.
Três anos depois, o Gol trazia uma importante inovação na versão GTI: a injeção eletrônica. Essa nova tecnologia foi pioneira ao dispensar o afogador e ajudou o carro, que saiu nessa versão com motor 2.0 de 120 cv, a superar o Chevrolet Opala como carro mais rápido do Brasil.
O Gol Bolinha
Em 1994, o Gol recebeu sua segunda geração, o G2, que aposentou o design “quadrado”. Com produção bem mais curta que a primeira geração, o Gol G2 era uma revolução em relação ao anterior, a começar pelo formato mais arredondado, a cara dos anos 1990 e que lhe rendeu o apelido de Gol “Bolinha”.
Três anos depois, o Gol trouxe mais uma inovação: o sistema de injeção eletrônica multiponto no lugar da monoponto, que elevou a potência, com o motor 1.0 rendendo 54 cv e o 1.8, 99 cv.
Quase ao fim de mudar novamente, a Volks se rendeu às tendências do mercado e lançou, em 1998, o Gol com quatro portas. Mais moderna e maior, a primeira fase da nova geração não fez muito sucesso com o público. Ainda assim, se manteve na liderança de vendas.
O Gol “Bolinha” também teve algumas versões características. Além da esportiva GTi – com motor com cabeçotes de 8 ou 16 válvulas e o famoso capô bolhado –, a versão Rolling Stones foi bastante limitada. Trazia como item de série uma moderna fita cassete da banda, que vinha ao Brasil para o festival Hollywood Rock. Era equipado com motor AP 1.6 de 76 cv e 12,3 kgfm e limitado a 12 mil unidades produzidas.
Da terceira à quinta, mais inovações
A terceira geração (G3) surgiu em 1999 com desenho mais moderno, evoluindo, em 2003, para o primeiro modelo bicombustível com o motor 1.6 Total Flex do país. Foi nessa época que a Volks lançou o motor 1.0 16V turbo.
Gol G3 – 1999 a 2005
Uma reforma bem feita, essa é a melhor definição para o Gol G3. Com visual moderno, o modelo era um G2 com plataforma alongada e visual bem mais interessante. O modelo revolucionou até o mercado nacional.
Foi, por exemplo, o primeiro carro vendido no país com tecnologia flex – que permitia funcionar tanto com etanol quanto com gasolina de série. Pode-se dizer também que foi o primeiro modelo a adotar o downsizing.
Esse Gol teve a versão 1.0 Turbo lançada em 2000, mas sem apelo esportivo. No entanto, sem ser esportivo e também sem ser econômico, o modelo não fez muito sucesso. Sua mecânica também não era tão robusta quanto a fama que a linha tinha.
Completamente configurável, o G3 foi um dos Gol mais democráticos. Você poderia ter um carro com motor 1.0 e acabamentos topo de linha, ou até mesmo ter um Gol 1.8 completamente pelado. Foi também o primeiro da linha a ser equipado com airbags e ABS, opcionais na época.
Gol G4 – 2005 a 2008
O Gol G4 foi a reforma da reforma, e deu errado. Com um visual bastante genérico, durou pouco como geração principal, mas se manteve em linha até 2014 como uma opção de entrada – isso com a terceira geração, G5, já no mercado. Com a mesma plataforma recauchutada do G3, o G4 não tinha um desenho dos mais atraentes.
Foi o primeiro carro a sofrer com corte de custos. Tinha acabamento mais simples que o do G3, por exemplo. Por ter sido a “raspa do tacho”, o G4 não teve nada muito diferenciado. Sua versão mais chamativa foi a Rallye, que elevou a suspensão para disputar mercado com os hatches aventureiros.
Gol G5 – 2008 a 2012
Depois de 24 anos, o Gol enfim ganhou uma nova geração, baseada na plataforma usada pelo Fox – que, por sua vez, era uma simplificada do Polo nacional. Infinitamente mais moderno e superior que os anteriores, o Gol G5 foi tão marcante que sua campanha de lançamento foi estrelada por Sylvester Stallone.
Com visual mais atraente e mais refinamentos, o G5 foi um sucesso e manteve o Gol no topo dos carros vendidos no Brasil.
Na comemoração de 30 anos do Gol, a geração ganhou uma versão especial. Chamada Vintage, foi limitada a 30 unidades e trazia faixas decorativas na carroceria, além de uma guitarra com a mesma pintura do carro.
Virou objeto de coleção instantaneamente, sendo uma das versões mais raras do popular Golzinho.
Gol G6 – 2012 a 2016
A primeira reestilização da terceira geração pegou carona na nova identidade da Volkswagen e tinha uma aparência semelhante a do Fox. A geração ficou marcada por ter atingido o expressivo número de 10 milhões de unidades produzidas da família Gol, que inclui Saveiro e Parati.
Com desenho bastante acertado e bom nível de equipamentos, ficou mais caro e seu maior feito foi ter perdido a liderança de vendas no Brasil em 2014, algo que era do Gol desde 1987. O primeiro modelo a roubar o topo da lista foi o Fiat Palio. No ano seguinte, o posto foi assumido pelo Chevrolet Onix e mantido até o ano passado.
Gol G7 – 2016 a 2018
Visualmente, as mudanças da segunda reestilização da terceira geração foram pequenas. A maior diferença foi debaixo do capô: a aposentadoria do motor 1.0 de quatro cilindros e adotou o 1.0 três cilindros, lançado no VW Up. Além disso, o Gol também teve seu número de versões reduzido e seu acabamento ainda mais simplificado.
Gol G8 – 2018 aos dias atuais
Na contramão da simplificação adotada nos últimos anos, em 2018, na terceira reestilização da terceira geração, o Gol ganhou pela primeira vez a opção de câmbio automático de seis marchas. Ele também recebeu faróis maiores, semelhantes aos utilizados na Saveiro.
É o Gol mais atual e que continua à venda em três versões nas concessionárias da Volkswagen, custando a partir de R$ 62,1 mil na versão 1.0 e podendo chegar a iniciais R$ 76,4 mil quando equipado com motor 1.6 e câmbio automático.
Por Val-André Mutran – de Brasília