Nesta segunda-feira, dia 17 de abril, ações simultâneas realizadas Brasil afora vão lembrar o fatídico Massacre de Eldorado do Carajás, onde 19 trabalhadores sem terra foram assassinados em confronto com a Polícia Militar na Curva do S. A agenda foi anunciada durante o lançamento da 26ª Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
De acordo com a organização, haverá mobilizações, marchas, vigílias e ocupações de terra em todos os estados em memória e justiça pela ação violenta da Polícia Militar do Pará, em 17 de abril de 1996, de repressão a uma marcha de Sem Terras que saiu de Curionópolis em direção a Belém, mas que nunca terminou.
No auditório da Unidade I da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Campus de Marabá, às 19h, será realizada uma mesa-redonda intitulada “Conflitos na Floresta: linguagens, personagens e suas lutas nas Amazônias”.
O evento faz parte do encontro organizado em parceria com a Faculdade de Educação do Campo (Fecampo), do Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA), do Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIST) e do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD/Amazônia). A conversa tem como objetivo debater algumas das estratégias e expectativas de camponeses, ambientalistas, indígenas, posseiros-agroextrativistas contra agropecuaristas, mineradoras, usinas hidrelétricas e empresas de extração de madeira em contexto amazônico.
As inscrições serão realizadas pelo Sigeventos Unifesspa, até hoje, 16 de abril. Mais informações podem ser obtidas na página do evento.
NO PARANÁ
Famílias do MST do Paraná distribuirão, entre segunda (17) e quarta-feira (19), 20 toneladas de alimentos a famílias ameaçadas de despejo em Curitiba. Moradores de ocupações urbanas, entre as quais da comunidade Tiradentes II, ao lado de um lixão na Cidade Industrial, receberão arroz, feijão, mandioca, legumes e frutas.
A doação integra a agenda da 26ª Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária neste mês de abril, que marca os 27 anos de impunidade do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, quando foram assassinados pela PM 21 camponeses, e outros 69 foram mutilados. Por isso, a data marca oficialmente o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
Neste ano, o lema da jornada é “Contra a fome e a escravidão: por terra, democracia e meio ambiente”. Em todo o país, as ações têm como objetivo denunciar a concentração de terra nas mãos de poucos, os latifúndios improdutivos e as áreas do agronegócio que descumprem a função social da terra, cometendo crimes trabalhistas e ambientais.
NÚMEROS
Em 2022, 47 camponeses foram mortos em conflitos fundiários no Brasil. É o que indica o levantamento anual feito pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O material completo será apresentado às 9h desta segunda-feira (17), durante seminário no Auditório Esperança Garcia, da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UNB). O evento será transmitido ao vivo no canal do YouTube da instituição.
De acordo com a CPT, o número de assassinatos de camponeses em 2022 subiu 30,55% em relação ao ano anterior. A programação do lançamento do relatório se estenderá até as 17h, com mesas de debate.
COMBATE AOS JUROS ALTOS
O MST incluiu a defesa da política de juros baixos na pauta de sua 26ª Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária. O combate aos juros altos passou a dividir as prioridades do movimento.
“Nossa tarefa número 1 é defender o governo Lula, que ajudamos a eleger. E em segundo lugar lutar contra a política de juros do Banco Central. Neste mês de abril vamos chamar os trabalhadores do campo e da cidade para explicar tudo isso. Não está em discussão a importância do Banco Central, mas essa política desnecessária no atual momento econômico,” afirma João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do movimento.
OCUPAÇÕES DIDÁTICAS
As ocupações, marca do abril de lutas do MST, serão reduzidas. E realizadas apenas com objetivo “didático”. Ou seja, de denunciar o latifúndio improdutivo.
“Nossa jornada é de esperança. Não é justo o agronegócio ficar com a fama quando é a agricultura familiar que produz alimentos,” diz João Paulo. “Além disso, há aproximadamente 100 milhões de hectares usados na agricultura, dos quais 65 milhões com o agronegócio e apenas 35 milhões com os pequenos e médios produtores. Nossa luta é pela democracia na terra, produção de alimentos, preservação ambiental e paz”.