Parece piada de muito mau gosto, mas é verdade e tem assinatura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma das entidades de maior prestígio de seu ramo no mundo: cada paraense passa o mês, em média, com R$ 806,76. É menos que a média da Região Norte (R$ 950,64) e quase metade do rendimento nacional (R$ 1.438,67). É uma vergonha que apenas reforça a condição de subdesenvolvimento do estado que, atualmente, é o 3º maior exportador de commodities do país, de acordo com dados do Ministério da Economia. As informações foram levantadas pelo Blog do Zé Dudu.
Esse contrassenso cruel é fruto do legado de atraso deixado por sucessivas gestões que muito pouco ou quase nada se preocuparam com o progresso social do estado, fortemente sugado por transnacionais em decorrência de suas reservas minerais. Em 2020, o Pará iniciou o primeiro mês do ano no topo das transações comerciais do país, com a fortuna de 1,57 bilhão de dólares em produtos enviados ao exterior, como minérios de ferro, cobre, manganês e alumínio, bem como carnes, couro, papel, soja e madeira. O Blog, inclusive, deu a informação em primeira mão (relembre aqui).
Mas mesmo essa superprodução, que nem fica no estado e interessa a poucos, é capaz de mascarar a quantidade de mazelas a que o estado tem sido relegado. Ontem, sexta-feira (28), o IBGE divulgou os valores dos rendimentos domiciliares per capita consolidados em 2019, calculados com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) e enviados ao Tribunal de Contas da União (TCU). O Pará só não pegou o cetro de pior renda porque Alagoas (R$ 730,86) e Maranhão (R$ 635,59) têm rendimentos ainda piores.
Esses dados, aliás, servem de parâmetro para rateio do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE) e, se serve de consolo, por ter rendimento extremamente baixo, as migalhas recebidas da União pelo Governo do Pará tendem a ser menos piores que os ganhos das demais Unidades da Federação. Os melhores rendimentos anunciados pelo IBGE estão no Distrito Federal (R$ 2.685,76), São Paulo (R$ 1.945,73) e Rio de Janeiro (R$ 1.881,57).
Os indicadores ruins do Pará refletem a situação de degradação do mercado de trabalho paraense, que emprega mal e remunera pior ainda. Não por acaso, segundo o IBGE, o estado encerrou 2019 como o rei da informalidade no país, com absurdos 62,4% de sua população ocupada trabalhando sem vínculo formal. O lado oposto disso é o fato de o Pará deter a menor taxa de contribuição previdenciária, já que somente 38,4% dos trabalhadores estão formalizados.
Na soma de tudo, o mais rico estado do Norte e mais importante do Brasil (considerando-se o lucro na balança comercial) amarga números pífios de desenvolvimento e que não se traduzem em enriquecimento de sua população, esta a qual é freguesa nas estatísticas de precariedade das condições de vida, na teoria e na prática.