Em Copenhague, na Dinamarca, aproximadamente 40 mil pessoas, de 192 países participam da COP 15, promovida pela ONU, onde serão discutidas idéias para conter o processo de aquecimento global. A última década foi a mais quente de todos os tempos, desde que o homem passou a medir a temperatura. Isso tudo vale para depois de 2012, quando se encerra o período de outro acordo parecido: o Protocolo de Kyoto.
A minha preocupação é com a Amazônia, tema obrigatório nos debates, porque seus rios possuem 20% de toda água doce da Terra e o desmatamento das florestas é um dos fatores da elevação climática. É uma discussão moderna, charmosa e até assisti na tevê, por esses dias, brasileiros chamarem de Coperrraguen a capital da Dinamarca. É moda. O mundo inteiro espera que nós, amazônidas, vivamos na mais absoluta pobreza, sem interagir com o meio ambiente ou dele tirar sequer o sustento, pois eventos extremos são previstos num quadro pra lá de apocalíptico caso haja mais intervenção do homem na natureza. Será que os países ricos, cujas populações usufruem comodamente dos benefícios da modernidade (podem beber água puríssima das torneiras de seus banheiros), se lembram que por aqui água potável é coisa rara? Será que governantes do chamado primeiro mundo imaginam que Santarém, por exemplo, banhada por toda beleza do rio Tapajós, não tem água tratada na maioria das residências, porque os investimentos em captação e tratamento de água são altíssimos? Será que o preço de deixar uma árvore em pé é ver nossos filhos sem nenhuma perspectiva de futuro? À mercê de todo tipo de doença causada pela pobreza extrema?
Espero que em Copenhague seja discutida a paisagem humana. Em 1982, depois de percorrer o Pará de ponta a ponta, vi que as riquezas da Amazônia estavam muito distantes da sua população. Água potável era um luxo de poucos. O Projeto Belém 2000 solucionou a questão de captação e aumento de distribuição de água na Região Metropolitana e a Cosanpa teve sua capacidade de investimentos comprometida com a implantação dos microssistemas de abastecimento de água na maioria dos municípios. Em muitas noites daqueles tempos cheguei a pensar que aquele refrão de dia falta água e de noite falta luz não fizesse mais parte da vida dos paraenses. Hoje, no ano de 2009, falta água diariamente em muitas ruas dos subúrbios de Belém e aí voltou o velho refrão: lata d’água na cabeça, porque é assim que a população se protege. Enche as bacias e baldes de água durante as poucas horas que esse precioso bem aparece nas torneiras das casas, para garantir a roupa lavada, o banho tomado e suas refeições. Esse é o cenário de quem tem uma das maiores riquezas, mas não pode dela usufruir, em razão das charmosas retóricas, ou simples pavulagem dos rotewweillers, que não passam de vira-latas, quando gritam e bradam sobre a preservação da Amazônia, como se isso não representasse nada na vida dos homens daqui.
A Amazônia é um depositário estratégico para controlar a aceleração da crise climática, que eleva a temperatura da terra em 2 graus a cada década e o Brasil tem que se impor e afirmar que, em razão da voracidade poluidora dos países mais ricos, que aumentam a cada dia sua capacidade industrial, tem que pagar pelos sacrifícios de quem resguardou a maior floresta e a maior rede de água doce do mundo.
Jader Barbalho
*Texto originalmente publicado no jornal Diário do Pará no dia 13 de dezembro de 2009