Brasília – Audiência pública da comissão externa da Câmara criada para acompanhar ações de combate ao coronavírus, ouviram na quarta-feira (22), especialistas que disseram que a corrida dos cientistas brasileiros é para descobrir um conjunto de tratamentos eficazes contra a Covid-19. Isso porque a vacina brasileira para a doença, conforme informou a pneumologista Margareth Dalcolmo, deve demorar pelo menos dois anos para ser criada, testada e aprovada.
Vários medicamentos tradicionais vêm sendo testados para diferentes fases da doença. São projetos de pesquisa nacionais e internacionais que até agora, segundo eles, não apresentaram conclusões significativas.
Estevão Nunes, da Fiocruz, explicou que a cloroquina, que vem sendo bastante discutida entre leigos, é apenas um entre vários medicamentos testados. Segundo Nunes, a cloroquina teve eficácia, por exemplo, para tratar doenças como a influenza em laboratório. Mas, quando foi testada em situações reais, praticamente não teve efeito.
O presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Luiz Ribeiro, também disse que a eficácia da cloroquina contra a Covid-19 ainda não tem comprovação. Mas ele informou que em breve o conselho vai divulgar uma nota oficial sobre o assunto. Emocionado, Ribeiro pediu união para tratar do problema: “Eu acho que neste momento nós estamos passando pela maior ameaça da história da nossa existência. Eu não sou catastrofista, quem me conhece sabe. Algumas dezenas de brasileiros vão morrer como já estão morrendo. E não temos uma droga para tratar essa doença. Neste momento, não. E temos uma situação totalmente politizada. Disputas pela paternidade da hidroxicloroquina, que é uma droga que não se sabe se tem efeito ou não; uma disputa política sobre quando sair do afastamento social. (…) E isso está fazendo muito mal para a sociedade brasileira.”
O deputado Hiran Gonçalves (PP-RR), que é médico, disse que a decisão sobre o uso da cloroquina deveria ser dos médicos de maneira individual: “Médicos que eu conheço que usam cloroquina de maneira profilática, usando 200 mg por dia, porque acreditam que se previnem da doença. E eu levanto a questão: se não seria pertinente que a gente estabelecesse uma norma técnica para o uso dessas terapêuticas que protegessem o paciente e os profissionais que utilizam no sentido de salvar vidas ou de amenizar o sofrimento das pessoas. Porque eu não acho justo que nas camadas diferenciadas todo mundo use e o povo não tenha acesso.”
Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna lembrou que o protocolo do governo para a cloroquina, por enquanto, é apenas para uso hospitalar para pacientes graves. Até porque o medicamento pode causar parada cardíaca, como aconteceu com um médico na Bahia.
A pneumologista Margareth Dalcolmo disse que a sociedade precisa dar tempo aos pesquisadores, que estão fazendo o possível: “Mas eu acho que hoje, como disse o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), o que nós precisamos é despolitizar a Covid-19. Despolitizando, nós talvez consigamos um caminho de controlar, de mitigar um pouco essa tragédia que se abateu sobre o Brasil.”
O infectologista Esper Kallas, que trabalha no Hospital das Clínicas em São Paulo, disse que a instituição tem 28 projetos em andamento. Para os tratamentos, são testados medicamentos como antivirais, medicamentos que previnem a formação de coágulos, medicamentos que estimulam a ação dos linfócitos e anti-inflamatórios. Kallas afirmou que os médicos estão testando medicamentos que são usados para outras situações como um que é usado para transplantes de medula óssea.
O Hospital das Clínicas também participa de um estudo maior com 120 pacientes que estão recebendo plasma de pessoas que já tiveram a doença. Segundo o infectologista, cada doador pode beneficiar de três a quatro pessoas e o plasma deve ser transferido em até 12 dias após o início dos sintomas.
Sobre a vacina, Kallas disse que o Brasil está tentando se associar a países que estão mais avançados na pesquisa como Estados Unidos e China.
Já o imunologista Luís Vicente Rizzo, que trabalha no Hospital Albert Einstein em São Paulo, lembrou que também é necessária uma preocupação com a saúde mental das pessoas: “Tanto os profissionais de saúde que estão enfrentando pela primeira vez na nossa geração uma pandemia dessa magnitude, com toda a gravidade que ela apresenta pela gravidade dos pacientes. Pelo risco de contaminação, pelo risco de contaminação dos familiares, o que acrescenta alguns níveis de preocupação e consequentemente de degaste. Mas também dos pacientes que aí adentrarem ao hospital, primeiro têm uma doença com risco razoável de morte, ficam isolados de seus familiares. Ou seja, estresse que não ajuda na evolução da doença. E das pessoas que estão em casa em quarentena.
O deputado Marcelo Ramos (PL-AM) disse na reunião que a situação de Manaus é trágica por falta de leitos, mas afirmou que no interior do Estado nem leitos há. Ele fez um apelo para que as emendas de parlamentares ao Orçamento de 2020, já destinadas ao setor de saúde, sejam liberadas pelo governo.
A comissão aprovou convite ao ministro da Saúde, Nelson Teich, para que participe de reunião com o colegiado nos próximos dias.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.