A decisão da OpenAI, que custou US$ 49 bilhões em 24 horas para a Microsoft

O prejuízo, recuperado à jato, envolve Sam Altman, o cabeça por trás do ChatGPT
Sam Altman, ex-OpenAI, e, agora, funcionário da Microsoft, é considerado o maior especialista em Inteligência Artificial do mercado

Continua depois da publicidade

Quando o público fã de cinema e tecnologia assistiu ao filme A Rede Social, e descobriu quem era Mark Zuckerberg, a reação não foi muito deferente de quem também já havia assistido outros filmes revelando quem era Steve Jobs e Bill Gates — todos com uma coisa em comum: nerds, revolucionários e depois, os homens mais ricos do mundo. Outro ponto em comum abordado nos filmes, é o lado obscuro de um mundo secreto, paranóico e destrutivo, que ronda as chamadas big techs. E novo roteiro pode estar a caminho, com a notícia da demissão de Sam Altman, na sexta-feira (17), pelo board (Conselho de Administração) da OpenAI, responsável pelo desenvolvimento do ChatGPT — a mais acessada plataforma de inteligência artificial do mercado.

Após a notícia da demissão do executivo, logo veio a pergunta: Quanto vale Sam Altman, agora, ex-OpenAI? O homem que está por trás do frenesi da inteligência artificial.

Em um momento que muitos compararam a demissão de Steve Jobs (1955-2011), da Apple, em 1985, foram necessários 12 anos para que ele retornasse à empresa que fundou, que estava à beira da falência, e a levasse, até sua morte, a se tornar a empresa mais valiosa do planeta, com valor de mercado de US$ 2,965 trilhões de dólares, em valores de mercado desta terça-feira (21), seguida pela Microsoft, com US$ 2,773 trilhões, na cotação da última sexta-feira. Confira aqui, quais são as 100 maiores empresas em valor de mercado no mundo.

E é justamente a Microsoft o ponto central do imbróglio criado na sexta passada. O visionário Sam Altman movimentou muitas cifras desde que o board da OpenAI, a organização por trás do ChatGPT, surpreendentemente o tirou do comando.

Quando sua demissão foi anunciada, as ações da Microsoft, que investiu US$ 13 bilhões na OpenAI, começaram a cair de forma acelerada. No fim do dia, a companhia liderada pelo indiano Satya Nadella perdia US$ 49 bilhões de dólares.

Quando o mercado abriu após o final de semana na segunda-feira (20), quando a Microsoft anunciou que contrataria Altman para liderar as pesquisas de inteligência artificial, a companhia se recuperou do tombo. E como.

As ações chegaram a ser cotadas a US$ 376 na Nasdaq, o maior patamar da história da companhia fundada por Bill Gates. E, ao longo do dia, intensificaram a alta, subindo 2,05%, fechando a US$ 377,44, um recorde. Agora, a companhia vale US$ 2,8 trilhões, encostando no valor da Apple.

A contratação de Altman, na avaliação dos analistas, foi uma estratégia de contenção de danos da Microsoft, que foi pega de surpresa pela sua demissão, o que, aparentemente, deu resultado.

“A Microsoft interveio para garantir que Altman não fosse para uma gigante tecnológica concorrente, e Altman agora pode supervisionar sua antiga empresa em Redmond”, escreveu o analista Dan Ives, da Wedbush.

Mas esses não são os únicos números que mostram o impacto da demissão de Altman. A OpenAI planeja uma abertura de capital que, segundo a mídia americana, poderia avaliar a desenvolvedora do ChatGPT entre US$ 80 bilhões e US$ 90 bilhões.

Agora, sem Altman à frente da OpenAI, muitos consideram difícil ou até mesmo improvável que o IPO (lançamento das ações da empresa na Nasdaq, a Bolsa de Tecnologias de Nova Iorque) siga adiante. A abertura de capital, em si, já seria complicada diante da intrincada estrutura da OpenAI, que tem um modelo híbrido de uma organização sem fins lucrativos e de uma empresa privada.

Altman foi demitido de forma surpreendente pelo board da OpenAI que, em nota pública considerada ridícula, disse que a sua saída “segue um processo de revisão deliberativa por parte do conselho, que concluiu que ele não foi consistentemente sincero nas suas comunicações com o conselho, dificultando a sua capacidade de exercer as suas responsabilidades”.

No mesmo dia, mais uma surpresa para a OpenAI. Mais de 500 funcionários dos 770 da OpenAI divulgaram também uma carta ao conselho ameaçando deixar a organização se Altman não retornar. Eles pedem também a renúncia do board.

“Suas ações tornaram óbvio que vocês são incapazes de supervisionar a OpenAI”, escreveram os funcionários. “Não podemos trabalhar para ou com pessoas que carecem de competência, julgamento e cuidado com nossa missão e funcionários.”

Ao que tudo indica, a novela envolvendo Altman pode ter outros desdobramentos ao longo desta semana.

Na época da geração TikTok, não seria surpresa se Altman voltasse à OpenAI na velocidade de uma dancinha de 15 segundos, mas isso, nem a inteligência artificial pode cravar como certeza.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.