A antecipação do anúncio do governador Aécio Neves de que não será candidato à Presidência vem depois de duas conversas com o governador José Serra. Não há sinais de que seja uma decisão tomada sob tensão. O governador de Minas fala em facilitar as negociações. Trata-se de um bom cenário para Serra. Agora, a exemplo do que acontece com a petista Dilma Rousseff, todos saberão que o candidato do seu partido será ele, sem que precise “assumir” a candidatura. Afinal, até onde sei, Dilma participa de inaugurações e lidera a comitiva brasileira em Copenhague como “ministra de estado”, não como candidata do PT.
O que fará Aécio? Ele tem um desafio em Minas que, sem dúvida, não é pequeno: fazer seu sucessor. O PT tem dois fortes pré-candidatos: Fernando Pimentel e Patrus Ananias. O PMDB tem Hélio Costa. No PSDB, a possibilidade é lançar o vice, Antônio Augusto Anastasia. O único que poderia ser caracterizado como oposição de fato a Aécio é Patrus. Uma equação com Pimentel, desta feita, não é possível. A composição com Hélio Costa até seria possível, mas tudo depende do que fará o PMDB. Aécio tem a ampla aprovação dos mineiros, e não é impossível que consiga emplacar o nome do seu vice, mas é tarefa difícil.
E ele próprio? O consenso vai dizer que será candidato ao Senado e se esforçará para fazer seu sucessor. E, em princípio, é isso mesmo. É, mas depende. Digamos que o PSDB chegue à convenção que vai aclamar Serra candidato com o tucano numa dianteira convincente — não folgada, mas convincente —, com chances reais de vitória. Entendo que o movimento “Aécio Vice” será inevitável. Virá das chamadas “bases do partido”. E se a candidatura de Serra, àquela altura, já tiver naufragado? Aí Aécio vai assumir a sua vaga certa no Senado “em nome do bem do PSDB”. E “Aécio vice” é uma possibilidade que apavora o PT. “Mas não seria muito melhor que Serra e Aécio se entendessem desde já numa chapa conjunta?” Claro que seria. Mas a política de fato não existe no futuro do pretérito.
Há mais cenários que assustam os petistas? Há. Falo de mais um. Firma-se desde já que Aécio vai mesmo disputar o Senado, sem chances para recuo, e o DEM aceita um nome para a vice-presidência que não venha dos seus quadros. E aí alguém poderia indagar: “Por que não Marina Silva?” Difícil??? Muito difícil!!! Mas todos viram uma dobradinha explícita entre o governador e a senadora em Copenhague. O PV participa do governo ecologicamente correto de Serra — que, de fato, está convencido da chamada “causa ambientalista”. Marina daria à chapa o necessário viés utópico. E emprego o adjetivo sem qualquer ironia. Não estou defendendo nada. Apenas destaco possibilidades que apavoram bastante os petistas.
E agora?
A esta altura, haverá petistas exultando: “Ah, agora Serra vai TER DE DIZER que é candidato, e Lula vai pra cima dele”. Não tem de dizer coisa nenhuma! E duvido que dirá antes de fevereiro ou março. E se Aécio jamais tivesse se lançado? Ele seria, do mesmo modo, o candidato natural e estaria driblando, do mesmo modo, o debate precoce. Se alguma mudança houve, foi em favor de Serra, é claro. Antes, ele aparecia como aquele que era um dos pré-candidatos, mas tomando o devido cuidado para não ferir o outro. Agora, vive a situação em que o partido diz: “É você!” Todos sabem que é ele. E, por isso mesmo, ele pode articular as suas alianças sem, no entanto, tocar no assunto explicitamente. Como faz Dilma.
Ninguém cobrou ainda a ministra que se declare candidata, embora seja candidata. Serra, agora, está rigorosamente na mesma situação. Até agora, o único que se diz candidato é aquele que tem tudo para não ser: Ciro Gomes.
Fonte: Blog R. Azevedo – Veja Online