Brasília – Ao debaterem os impactos causados pelo uso nocivo do álcool, em audiência promovida pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados, especialistas convidados apresentaram uma realidade preocupante. Em todo o mundo, uma em cada 20 mortes e 5% das doenças ocorrem por causa do uso excessivo de bebidas alcoólicas.
No caso do Brasil, o álcool provoca uma perda de 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) por causa de gastos com o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Previdência Social. As estimativas são da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgadas em 2018.
Segundo dado apresentado pelo psiquiatra Guilherme Messas, especializado na substância e presidente do Comitê de Regulação do Álcool (CRA), 64% dos brasileiros já se sentiram incomodados por alguém que fez uso abusivo da bebida. O psiquiatra destaca que a decisão de exagerar na bebida pode afetar outras pessoas.
“Mudança de comportamento é decisão individual sobre impacto coletivo. Ela é partilhada. A gente é responsável pela liberdade que decide ter. Se a gente sabe que beber e dirigir mata o outro, na verdade, a sociedade entende isso como um agravante porque não é liberdade pessoal me colocar em risco e colocar terceiros, em risco”, discorreu o psiquiatra.
A coordenadora do Programa em Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo, Zila Sanchez, deu exemplos de medidas que reduziram os impactos negativos gerados pelo uso exagerado de álcool.
“Na Alemanha, restrição dos horários de venda de bebidas evitou 54 mil lesões, em um ano. Em Diadema, no Brasil, o fechamento dos bares às 23 horas reduziu em 44% os homicídios na cidade. No Canadá, o aumento de 10% no preço do álcool está associado a uma redução de 32% nas mortes atribuídas ao álcool. São números relevantes”, apontou Zila Sanchez.
O procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Mário Sobrinho, cobrou medidas efetivas para reduzir o problema. “É importantíssimo que nós pensemos, como sociedade, em medidas de prevenção para o álcool. Redução da oferta, redução da demanda. Devemos espelhar-nos na experiência do tabaco. O tabaco foi no Brasil lidado, debatido, discutido e temos uma legislação, temos uma consistência de ações muito importantes. Então eu penso que no aspecto de referência nacional nós temos para fazer uma boa e ampla discussão e regulação do álcool”, destacou.
A OMS lançou, em 2018, uma iniciativa que traça estratégias que podem ajudar a reduzir o uso nocivo do álcool. Entre as propostas, reforçar as restrições à disponibilidade de álcool, aplicar proibições à publicidade, patrocínio e promoção de bebidas alcoólicas e aumentar os preços da bebida.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu, em Brasília.