Por Ulisses Pompeu – de Marabá
Quando toma um guaraná de açaí na esquina, um sorvete do mesmo produto no shopping ou ainda quando compra um litro de açaí em um pequeno negócio (batedor) próximo a sua casa para tomar com a família, você não sabe que por trás desses três locais há centenas de pessoas que atuam para que o suco mais desejado da Amazônia seja amplamente comercializado. A cadeia do açaí em Marabá é predominantemente artesanal e informal, mas mesmo assim movimenta cerca de 1.200 pessoas.
Desde a extração, em grande parte manual, passando pelo processamento, transporte, sobretudo da produção da polpa congelada e, depois de produtos como sorvetes, bombons, doces, cosméticos etc, há pessoas que trabalham o ano inteiro neste segmento. A demanda por açaí é crescente e não se restringe ao mercado local.
No país inteiro ele se tornou uma superfruta e tem um forte apelo ao consumo, com inúmeros formatos de produtos de alimentos e bebidas. A gama de clientes – comerciais – é ampla.
Atravessadores de outros estados como Tocantins, Goiás, Minas e até São Paulo vêm a Marabá pelo menos uma vez por mês para comprar polpa do produto e revender para sorveterias de seus estados. Por lá,atualmente, se oferece e consome açaí na praia, em lanchonetes, mercados, padaria, lojas de conveniência, mercados, cantinas de faculdades e colégios, academias de ginástica e clubes, hotéis etc.
Atualmente, há mais de 120 pontos de venda do produto na forma líquida ou em polpa na cidade. A radiografia que se faz é que é preciso investir mais na base da cadeia produtiva para alçar voos mais altos. A primeira constatação que fazemos serve de alerta. A maior parte do açaí produzido no município ainda é oriunda de açaizais nativos, ou seja, aqueles que nasceram por conta própria ao longo do tempo e só produzem em maior quantidade nos meses de sol intenso e calor mais forte.
Entre dezembro e junho a produção despenca, o produto que chega ao consumidor não tem o sabor textura desejados e toda a cadeia produtiva acaba ficando prejudicada. José Carlos Dias, 32, é um experiente tirador de açaí que reside na Folha 16. Ele sabe onde estão os principais açaizeiros perto da cidade de Marabá ou nos municípios vizinhos onde vai apanhar o produto de segunda a sábado. Geralmente, entra nas matas das fazendas por uma estrada vicinal, retira o produto, enche dois sacos de fibra de 50 quilos cada e volta para cidade, onde vende cada um por R$ 120,00. “Às vezes, o gerente da fazenda exige que a gente pague uma ponta pra ele. Aí a gente dá entre R$ 20 e R$ 30. Mesmo assim, dá pra ganhar uma boa grana por semana”, contabiliza.
Como Carlos André há dezenas de tiradores de açaí que transportam os caroços em sacos de fibra jogados na garupa da motocicleta. Eles gastam, geralmente, o dia inteiro entre deslocamento, retirada do produto e retorno para a cidade. “Eu e outros três amigos vivemos do açaí o ano inteiro. Na entressafra é que a gente ganha dinheiro mesmo, porque o produto fica escasso”.
Irismar Sousa Assis trabalha há 13 anos na Feira da Laranjeiras, em Marabá, processando e vendendo açaí. Ele conta com a ajuda do filho, já casado, e de duas funcionárias que trabalham de terça-feira a domingo. O comerciante diz que bate, em média, 15 sacos de açaí por semana durante a safra e 30 na entressafra, quando o produto fica mais caro e a demanda aumenta. “Vendo muito para fora de Marabá. Quem vai viajar leva para parentes e quem vem passar férias por aqui compra também para estocar em casa”, revela. Julimar Manoel Zeferino diz que toma uma “dose” de açaí todo domingo na banca de Irismar e ainda leva um litro para casa para tomar com a esposa. Paraense, ele toma açaí desde criança e garante que mesmo na entressafra, quando o produto chega ao valor de até R$ 20,00 o litro, ele não faz economia.
Na mesma feira, Antônio Moura Lima, o Antônio do Açaí, é concorrente de Irismar. Ele processa uma média de 15 sacos por semana e diz cada um rende uma média de 20 a 25 litros. A diferença, segundo ele, está na origem do açaí. “O melhor é da região do Rio Preto, que rende entre 30 a 40 litros”. Gerando quatro empregos diretos em seu ponto de processamento e venda, Antônio coloca à disposição do cliente até mesmo o “Disque Polpa” e se orgulha com o fato de que seus colaboradores utilizam touca durante o trabalho. “Todos fizeram curso de manipulação de alimentos porque sei que devemos oferecer o melhor para o cliente”, destaca. Ao ser questionado se sua empresa é registrada, Antônio assustou-se e disse que não. Ele considera que a burocracia é grande e os custos para abertura e manutenção do CNPJ são elevados, mas até hoje não procurou o Sebrae para se informar sobre o assunto. “Estou há nove anos nesse ramo e ainda não vi necessidade de abrir empresa”, conta. Além do açaí, Antônio e Irismar comercializam polpas de outras frutas regionais, como cupuaçu, murici, buriti, goiaba, cajá e até acerola. Um fato comum entre os dois é que não falam em crise. “Os fregueses sempre compram com a gente, não sobra nada, porque quando os consumidores locais acham caro, vendemos tudo para outros estados”, diz Antônio, com um sorriso largo.