Ela nasceu Liá Sophie, na Guiana Francesa. Mas se tornou a brasileiríssima Lia Sophia quando se mudou para o Amapá e, posteriormente, para o Pará. E, portanto, não poderia ter nome mais apropriado para batizar o disco que inaugura nova fase na sua carreira e a parceria com uma grande gravadora, a Som Livre. “É um trabalho que me traduz porque é todo alegre, festivo e por isso tem esse nome simples. Muito prazer: Lia Sophia”, resume a cantora e compositora.
A artista, que continua vivendo em Belém, apesar de passar a maior parte do tempo viajando, diz que não consegue abrir mão da capital paraense. É o lugar onde, antes de mais nada, tira sua inspiração. “Amo essa cidade, amo essa coisa de chover todos os dias. Se pudesse ficaria aqui o resto da vida. Mas está cada vez mais difícil conciliar, porque Belém é muito longe de tudo. É caro viajar com a banda, encarece o trabalho. Por enquanto, estamos nos virando, mas daqui a pouco não sei como vai ser”, diz.
Na década de 1970, os pais de Lia foram clandestinamente tentar a vida na Guiana e a filha acabou nascendo por lá. A família enfrentou muitas dificuldades e não conseguiu enriquecer. “Brinco que o maior tesouro que eles trouxeram de lá foi eu, porque nasci lá. Mas não tenho lembranças, porque vim morar no Brasil com 3 anos. Voltei a Caiena muito tempo depois. É outro mundo e, querendo ou não, essas influências francesas, essa coisa da música crioula e do zouk, são fortes pra mim”, admite a cantora.
Aliás, o quarto álbum da carreira traz não só essas referências, mas tudo o que ela ouviu e ouve ao longo da vida como o carimbó, o pop, o brega, o merengue, a guitarrada. Lia Sophia conta que até os 17 anos nunca tinha ouvido Chico Buarque, João Gilberto, Caetano Veloso ou outro representante da MPB, mostrando justamente a força da música paraense no estado. “Minha casa era muito festeira. A gente colocava música alta e tocava lambada, guitarrada, essas coisas dançantes. Valorizava mesmo os ritmos da terra. Então, nunca ouvimos bossa nova, MPB, nada disso. Claro que hoje escuto e adoro. E quando entrei em contato com esses artistas cresci muito musicalmente. Mas naquela época isso não chegava pra gente”, lembra.
E é essa música alegre e dançante que está no disco. Desde a faixa de abertura, Amor de promoção, até a que encerra, Ai menina, que inclusive fez parte da trilha sonora da novela Amor, eterno, amor. Das 14 músicas, 10 são de autoria de Lia e ela ainda abriu espaço para outros artistas da Região Norte do Brasil, como Mestre Curica (Beleza da noite) e Dona Onete (Quando eu te conheci). Destaque também para as releituras de Quero você, clássica canção brega de Carlos Santos e Alypio Martins, e Noite de prazer, hit de Claudio Zoli dos anos 1980. O CD Lia Sophia conta ainda com a participação do maestro Luiz Pardal e dos guitarristas Chimbinha, da Banda Calypso, e Felipe Cordeiro. “Tenho esse lado festivo, essa coisa da música quente pra dançar”, resume Lia, que já há algum tempo tem uma parceria com o projeto Natura Musical, e vai percorrer cinco cidades com a nova turnê: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Belo Horizonte. “Nunca fiz um show sozinha em BH. Ano passado, estive na cidade, em agosto, para o Natura Musical, mas junto com outros artistas. Não vejo a hora de mostrar meu trabalho para os mineiros”, avisa.