Agronegócio aguarda retomada de julgamento da Ferrogrão após estudos apresentados pela ANTT

O projeto está paralisado desde 2021, por decisão cautelar do ministro Alexandre de Moraes, atendendo ação movida pelo PSOL
Participantes do Fórum Caminhos da Safra destacam que os investimentos em infraestrutura não acompanham o mesmo ritmo de crescimento da produção

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Paralisado desde 2021, por decisão cautelar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Ferrogrão, projeto ferroviário com 933 km de extensão para ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA), pode voltar à pauta do tribunal após a entrega de estudos solicitados pelo ministro à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

A informação é do diretor-geral da ANTT, Rafael Vitale, durante a realização do Fórum “Caminhos da Safra”, realizado na quarta-feira (28). Ele disse acreditar no avanço da Ferrogrão a partir do “destravamento”, no STF, da ação que envolve a ferrovia. “A Ferrogrão é um projeto que sempre despertou o interesse do agro. E, agora, destravando com o STF, acredito que possamos avançar mais rápido e voltar a ter debates mais amplos com a sociedade”, avaliou Vitale.

De acordo com o diretor, a agência apresentou os estudos técnicos necessários que o STF demandou e agora aguarda avaliação e deliberação pela Corte. “Entregamos o estudo atualizado e precisamos aguardar a manifestação para avançarmos com mais previsibilidade quanto ao cronograma para realização do leilão. Temos expectativa de que isso aconteça ao longo das próximas semanas e possamos lançar cronograma para leilão, obras e entrega da infraestrutura”, detalhou.

Estudos

Em julho, um novo estudo sobre a Ferrogrão foi finalizado e agora atualizado. Uma reunião ocorrida em 17 de julho, representantes da ANTT, da Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário do Ministério dos Transportes (MTrans), da Estação da Luz Participações S.A. e da Infa S.A. alinhou as informações exigidas pela justiça sobre a EF-170, a Ferrogrão.

Durante o encontro, foram debatidas as frentes de trabalho dos estudos de impacto ambiental e do estudo para a concessão.

A Ferrogrão (EF-170) é um projeto de ferrovia que pretende conectar as regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, estendendo-se por cerca de 900 quilômetros e atravessando os estados do Mato Grosso e Pará. Seu objetivo principal é melhorar o escoamento da produção agrícola do Brasil Central para os portos do Arco Norte, facilitando a exportação de commodities como soja e milho, basicamente, mas com grande expectativa de outros produtos, como combustíveis, por exemplo.

A premissa que sustenta o estado, é garantir que o projeto da Ferrogrão seja viável não apenas economicamente, mas também ambiental e socialmente responsável.

A ação

O PSOL, autor da ação que questiona o projeto da Ferrogrão no STF, pediu ao ministro Alexandre de Moraes mais tempo para a conclusão de estudos sobre a viabilidade e os impactos da obra. Ainda não houve deliberação do ministro sobre os prazos. O projeto está paralisado desde 2021 por decisão cautelar do ministro, que é relator da ação. A suspensão vai completar quatro anos.

Carência do modal ferroviário

Os participantes do painel “Do campo ao porto, os novos caminhos da safra”, no evento de quarta-feira, destacaram que os investimentos em infraestrutura não acompanham o mesmo ritmo de crescimento da produção. “A nossa infraestrutura sobe de escada, enquanto a nossa produção sobe de elevador”, resumiu o coordenador da EsalqLog/USP, Thiago Péra.

O diretor-geral da ANTT destacou que o número de ferrovias no País cresceu, mas ainda está aquém da necessidade de escoamento do agronegócio, que cresce em maior proporção. “Temos a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) sendo construída e vamos fechar este ano com 33% das obras concluídas. Em mais dois anos, a Fico estará operacional e trazendo o oeste de Mato Grosso para a ferrovia, diminuindo a dependência da rodovia”, apontou. “A concessão da Fico está em andamento e, quando estiver em estágio de maturação suficiente, vai para leilão para acontecer o mais rápido possível”, acrescentou.

Ele ressaltou ainda que a segunda fase da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) está em construção, com 70% das obras concluídas com orçamento público, mas em desenho de concessão para consolidar o corredor Oeste-Leste. “Além disso, temos os investimentos na Transnordestina, que promete ser uma nova rota para os grãos alcançando o norte do Matopibapa (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia e Pará). Em breve, esse investimento estará pronto com bom andamento do cronograma”, projetou.

Segundo Vitale, a restrição orçamentária que atinge o Ministério dos Transportes e o Ministério das Cidades “gera aflição” quanto ao andamento dos investimentos no modal ferroviário. “A nossa preocupação é de que, se houver limitação orçamentária no âmbito da ANTT, possa haver frustração na velocidade dos leilões, liberação de obras nas concessões e entrega das obras e liberação para tráfego”, observou.

Grandes players do agronegócio criticam a demora da ação no STF, mas ninguém quis se pronunciar nem contra o governo, muito menos contra o STF.

* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.