Brasília – As negociações promovidas diretamente pelo presidenciável Luis Inácio Lula da Silva (PT) com o ex-governador e outrora principal adversário da sigla Geraldo Alckmin podem dar em nada. Fontes ligadas ao ex-governador disseram que ele está furioso com o documento vazado publicado pela Fundação Perseu Abramo — centro de orientação ideológica do partido —, que ataca sem piedade os governos tucanos em São Paulo, citando diretamente o ex-governador Geraldo Alckmin, potencial vice da chapa do petista na corrida presidencial.
Redigido em fevereiro com objetivo de subsidiar o plano de governo do PT para São Paulo, o texto fala em exclusão de pobres, privatização, redução de investimentos e arrocho salarial ao se referir a um modelo que foi conduzido por Alckmin durante 12 anos e três meses.
O diagnóstico afirma que a adoção sistemática das políticas neoliberais, particularmente em São Paulo, ampliou as desigualdades, a concentração de renda, riqueza e propriedade, além de sucatear os serviços públicos. O PT jamais conseguiu governar São Paulo e o documento é um “poço de inveja e dor de cotovelo”, disse uma fonte do núcleo dirigente tucano.
Após a repercussão do teor do documento, Geraldo Alckmin “sumiu do mapa”. O “chuchu sem sal”, como é apelidado pelos militantes petistas, se limitou essa semana a dizer que está próximo de decidir se realmente vai ingressar no PSB, que se retirou das negociações de compor com o PT uma federação partidária (confira).
Segundo o documento do PT, quando não omisso, o PSDB “tem sido tíbio no enfrentamento da fome e da miséria e jamais colocou como opção o enfrentamento das desigualdades sociais”.
O documento omite, mas foi no primeiro governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que a legenda, quando governou o país, implementou o maior programa social após a redemocratização de 1980: o que hoje é o Auxílio Brasil, ex-Bolsa Família usado e abusado pelo petistas para ganhar eleições.
O texto diz ainda que, apesar de o PSDB ter sido criado como um partido social-democrata, “não honrou essa opção político-ideológica”. “Desfigurando-se e assumindo uma postura conservadora em direção ao neoliberalismo, tanto no plano nacional como aqui em São Paulo”, continua o petardo.
“Para amenizar o estrago, porque o PT continua e continuará a ser o PT, Lula tentará defender a aliança com Alckmin”, garante um dos membros da cúpula tucana.
“O PSDB do governador e pré-candidato à Presidência João Doria não é o mesmo que abrigou figuras importantes da sigla, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra e o ex-governador Mario Covas”, disse Lula para tentar contornar o mal estar após o documento se tornar público.
“Espero que o Alckmin esteja junto, sendo vice ou não sendo vice, porque me parece que ele se definiu em fazer uma oposição não apenas ao Bolsonaro, mas ao ‘dorismo’ aqui em São Paulo”, afirmou Lula.
Lula também tem afirmado publicamente que seu vice-presidente em um eventual governo não será decorativo e deverá desempenhar papéis significativos.
Segundo interlocutores, o petista já afirmou que, com o ex-tucano de vice, poderia dormir tranquilo: Alckmin, que foi quatro vezes governador, teria experiência e estatura política. E não transformaria a vice em um centro de conspiração e sabotagem para desestabilizar o governo.
Pré-candidato do PT ao Governo de São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad participou de debates que antecederam a elaboração do documento da fundação, mas não de sua redação.
Sua mulher, Ana Estela Haddad foi uma das coordenadoras do grupo encarregado da elaboração do texto, assim como a ex-ministra Eleonora Menicucci e o ex-reitor da UFSCar e ex-deputado federal pelo PT-SP Newton Lima.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.