“Este é um momento histórico para a siderurgia”, explica o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, ao comemorar o início dos testes com carga da primeira planta de briquete de minério de ferro na planta industrial de Tubarão, em Vitória (ES). O produto vai contribuir para reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) da indústria siderúrgica, apoiando a luta do planeta contra as mudanças climáticas.
“Depois de vários anos de desenvolvimento no Brasil, estamos oferecendo um produto inovador que vai apoiar nossos clientes no desafio de promover a descarbonização de suas operações, atendendo às demandas da sociedade na luta contra as mudanças climáticas”, relatou o CEO da Vale S/A.
Os testes coroam mais uma etapa que faz parte do comissionamento da planta industrial — uma das últimas fases antes do início da produção.
O briquete é produzido a partir da aglomeração a baixas temperaturas de minério de ferro de alta qualidade utilizando uma solução tecnológica de aglomerantes, que confere elevada resistência mecânica ao produto final.
Anunciado pela Vale em 2021, o briquete tem capacidade de reduzir em até 10% a emissão de GEE na produção de aço em relação ao processo tradicional no alto-forno porque elimina a etapa da sinterização, intensiva em carbono. Essa redução é relevante quando se leva em conta que a siderurgia é responsável por cerca de 8% das emissões de CO² do mundo.
O produto reduz ainda a emissão de particulados e de gases como dióxido de enxofre (SOX) e o óxido de nitrogênio (NOX), além de dispensar o uso da água na sua fabricação. O briquete também pode ser utilizado na rota de redução direta, substituindo a pelota.
O início da operação da primeira planta de briquete em Tubarão (ES) está previsto para ocorrer ainda este ano e o da segunda planta no início de 2024. As duas unidades terão capacidade para produzir 6 milhões de toneladas por ano (mtpa) de briquete. Elas são oriundas da conversão das usinas 1 e 2 de pelotização. O investimento no projeto foi de R$ 1,2 bilhão e gerou 2.300 empregos durante as obras.
Pesquisa e desenvolvimento
O briquete começou a ser desenvolvido pela Vale há cerca de 20 anos no Centro Tecnológico de Ferrosos (CTF), em Nova Lima (MG). Ele faz parte da linha de evolução dos produtos de minério de ferro oferecidos pela empresa ao longo de sua história, resultado de investimentos expressivos em pesquisa e inovação. Até os anos 1960, o produto básico era o granulado de alto teor de ferro, o “lump”. Com a queda da oferta do “lump”, foram implantadas as primeiras usinas de pelotização no Brasil, que permitiram o aproveitamento do minério fino (pellet feed) e seguem sendo importantes para a cadeia siderúrgica. O briquete vem se somar às pelotas no portfólio de produtos de alta qualidade da Vale, cuja qualidade não tem concorrência no mundo. A expectativa da empresa é expandir sua capacidade produtiva para 100 mtpa de briquetes e pelotas após 2030.
O briquete está incluído na estratégia da Vale de reduzir em 15% as suas emissões de escopo 3, relativas à cadeia de valor, até 2035. A empresa também busca reduzir suas emissões líquidas de carbono diretas e indiretas (escopos 1 e 2) em 33% até 2030, como primeiro passo para se tornar uma empresa carbono zero em 2050. A Vale já assinou mais de 50 acordos com clientes para oferecer soluções de descarbonização, que são responsáveis por 35% das emissões de escopo 3 da empresa. Entre as soluções propostas, está a construção de plantas de briquete localizadas nas instalações de alguns clientes.
Entre os acordos assinados, três deles visam a instalação de Mega Hubs em países do Oriente Médio (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã) para produzir “hot-briquetted iron” (HBI), visando suprir os mercados locais e transoceânico, com redução significativa das emissões de CO². Espera-se que nos hubs a Vale construa e opere as plantas de concentração e briquetagem de minério de ferro, fornecendo a matéria-prima para as plantas de HBI, que serão construídas e operadas por investidores e/ou clientes. A Vale também estuda a criação de hubs semelhantes no Brasil e ainda não há definição de localização.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.