Após experimentar uma meteórica expansão em seus negócios, a distribuidora de insumos agrícolas no Pará, Grupo Portal Agro, alegando dificuldades financeiras, entrou com um pedido de recuperação judicial na 2ª Vara Cível e Empresarial no Fórum de Paragominas, onde fica sua sede. O pedido foi protocolado no último dia 5 de setembro. Na quarta-feira (25), a Justiça concedeu provimento provisório.
O valor da causa no processo é de R$ 700 milhões. Sete empresas do grupo e os membros da família Maraschin, dona da empresa, são os autores do pedido: Carmem Raphaella Scherer Maraschin, Leila Piacentini Maraschin, Gilberto Maraschin e Gilson Maraschin, que é o CEO do Portal Agro. As informações são da Agência AgFeed, que cobre o setor do agronegócio.
O despacho do juiz titular Agenor de Andrade suspendeu, durante 45 dias, execuções contra o grupo paraense e também proibiu, nesse período, retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão sobre os bens do grupo.
Dessa forma, o grupo conseguirá preservar neste período de tempo, por exemplo, os 42 bens que haviam sido alienados ao Banco Paccar, braço financeiro do grupo de caminhões de mesmo nome, um dos credores no processo.
Segundo alega o Portal Agro no processo, os ativos são essenciais para a continuidade da empresa, e estavam prestes a sofrer busca e apreensão. Só à instituição financeira, a empresa deve R$ 6.787.387,28.
A decisão do juiz não significa, no entanto, que o pedido de recuperação judicial tenha sido aceito pela Justiça. Para seguir adiante com o processo, o magistrado da causa aguarda ainda um parecer do Ministério Público do Pará (MPPA), a manifestação das fazendas públicas e dos principais credores da companhia.
Na listagem entregue à Justiça pelos advogados do grupo, os três maiores credores são bancos – o Banco do Brasil à frente, com uma série de citações entre credores com garantias reais e extraconcursais, em real e em dólar, que somam mais de R$ 80 milhões –, as securitizadoras Ceres e Opea e o Portal Insumos Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais Fiagro, gerido pela Milenio Capital.
No texto da decisão, o juiz Agenor de Andrade trouxe também os motivos apresentados pela empresa em seu pedido de recuperação judicial.
O grupo disse estar “completamente descapitalizado” e com dívidas aumentando de forma “exponencial” pela necessidade de aquisição de linhas de crédito e alta nas taxas de juros do país.
A empresa atribuiu as dificuldades financeiras da empresa à crise do agronegócio brasileiro nos últimos dois anos, “caracterizada pela alta dos preços dos insumos e pela subsequente queda dos preços das commodities, resultando em prejuízos às empresas e seus sócios”.
O grupo disse ter sido “surpreendido” com a queda dos preços dos commodities na safra 2022/2023, “resultando em custos altos e péssima rentabilidade.”
“Esse cenário teria ocasionado em alta inadimplência entre os produtores rurais clientes do grupo, e que apenas parte de seus clientes promoveram renegociações de suas dívidas,” afirma o texto.
Dessa forma, o Grupo Portal Agro teria sido “obrigado” a “contrair financiamentos junto a instituições financeiras, especialmente em 2022 e 2023, a fim de maximizar sua produtividade, e cobrir os prejuízos da safra 22/23”.
Já em crise, a empresa disse ter “depositado todas as suas esperanças” na safra 2023/2023, e emitiu recebíveis em favor da Ceres Securitizadora, que emitiu Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), que são títulos de Renda Fixa emitidos por securitizadoras que representam créditos imobiliários ou agrícolas. Essa expectativa acabou sendo frustrada, emenda a Portal Agro, por “uma série de fatores que prejudicaram não somente a sua lucratividade, como a de todo o mercado brasileiro”.
De acordo com a empresa, na colheita da safra 2023/24, choveu mais que em outros ciclos, trazendo prejuízos à operação, “uma vez que mesmo lavouras prontas para colheita não foram colhidas, devido o excesso de chuvas”.
Também houve prejuízos no processo de secagem, perda de peso nos silos e desvalorização dos grãos por não terem qualidade para exportação. “Isso teria sido agravado pela queda contínua no preço da soja, resultando em um efeito cascata, em que o plantio caro e a colheita muito mais barata do que o esperado se repetiram,” diz o texto do processo.
A lista dos credores obtida pelo AgFeed é longa e diversa, indo de grandes empresas a uma expressiva quantidade de funcionários que ainda não receberam sequer valores de rescisão de contrato trabalhista e do 13º salário proporcional.
Entre as instituições financeiras, figuram gigantes do mercado como o BB, Rabobank, Banco da Amazônia, Itaú Unibanco, Safra, Santander, entre outros.
O BTG Pactual, a quem o grupo Portal Agro deve R$ 16.048.086,99, já havia inclusive começado a executar suas dívidas com a companhia, mesmo caso da gigante de fertilizantes ICL, que tem R$ 26.483.341,27 a receber. Nos dois casos, assim como no do Banco Paccar, a Justiça mandou suspender provisoriamente as execuções.
Entre os credores financeiros, além das securitizadoras, constam veículos como o FIDC Ura Agro, FIAGRO Insumos Milenio Terramagna, FIDC Agro Citi-Bayer – criado no ano passado numa associação entre o banco e a multinacional alemã e também credor listado na RJ do AgroGalaxy – e FIDC Multisetorial Daniel LP.
As dificuldades financeiras do setor não estão restritas ao Portal Agro. Outra gigante da comercialização de insumos, a AgroGalaxy, grupo varejista de insumos agrícolas, protocolou no último dia 18, um pedido de recuperação judicial. O anúncio ocorreu pouco após ter sido comunicada a renúncia do diretor-presidente, Axel Jorge Labourt, e de cinco membros do Conselho de Administração. O então diretor financeiro da companhia, Eron Martins, foi nomeado para o cargo de CEO.
A empresa disse em comunicado que o pedido de recuperação judicial foi protocolado em caráter emergencial diante do vencimento antecipado de operações financeiras, visando à proteção de seus ativos e de suas investidas e para viabilizar a readequação de sua estrutura de capital diante dos desafios do agronegócio brasileiro.
Relatório expõe dificuldades do Portal Agro
No mais recente relatório da emissão de CRAs feita pela Ceres Securitizadora, divulgado em julho, os problemas financeiros da companhia ficam mais evidentes. Dos R$ 117,4 milhões que constavam na carteira de recebíveis naquele momento, R$ 92,9 milhões estavam vencidos e outros R$ 24,4 milhões estavam por vencer.
Na listagem estão ainda grandes empresas de insumos agrícolas como DSM, Corteva, Basf e Fertipar.
Expansão foi rápida, e queda também
No ano passado, o grupo Portal Agro teve um faturamento bruto de R$ 874 milhões, tendo comercializado 227 mil toneladas de grãos, 84 mil toneladas de fertilizantes e corretivos de solo, 5 mil toneladas de produtos para nutrição animal, 4 mil toneladas de sementes de soja, milho, capim, sorgo e outros grupos e 1,9 mil toneladas de defensivos, produtos para nutrição vegetal e produtos biológicos.
Do faturamento da empresa no ano passado, 55% vieram da comercialização de grãos, 44% de insumos e 1% de serviços.
O foco do Portal Agro está na comercialização e armazenagem de grãos e insumos, defensivos agrícolas e produtos para nutrição animal e vegetal, atendendo pequenos e médios produtores do sudeste do Pará e do Maranhão.
A empresa possui três unidades de revendas, em Ulianópolis, Rondon do Pará e Açailândia (MA), e três armazéns, localizados em Paragominas, Dom Eliseu e Tailândia, com capacidade total estática de armazenamento de 75,1 mil toneladas.
A origem do Grupo Portal Agro vem dos anos 2000, quando Gilberto e Gilson Maraschin chegaram ao Pará. Em 2008, fundaram a primeira revenda de insumos pecuários e agrícolas da empresa, a Portal Produtos Agropecuários, em Paragominas.
Nos últimos anos, o grupo foi crescendo rapidamente, tendo inaugurado quatro unidades em três anos, entre 2019 e 2022 – e o crescimento acelerado talvez explique um pouco o momento atual da companhia.
As informações constavam de um relatório de sustentabilidade que havia sido publicado no site do Portal Agro, fora do ar neste momento. Até o fechamento da reportagem, a página seguia inacessível ao público.
Fonte: AgFeed
Por Val-André Mutran – de Brasília