Brasília – Um fiasco sem precedentes em início de um governo, essa é a dura realidade que a equipe da linha de frente do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está vivendo. Historicamente qualquer que tenha sido o novo governo eleito, existia uma espécie de lua de mel com o mercado. Eleitores inconformados com a derrota baixavam as armas e uma nota de crédito da classe política era concedida com prazo de curta validade. Mas, no caso do terceiro mandato de Lula, ele mostra serviço já ou o país será jogado prematuramente numa recessão cujas consequências não se sabe ainda. Após reunião fechada, o czar da economia, ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi chamado às falas pelo presidente, que exigiu ação imediata. Na saída da reunião o que os jornalistas ouviram foi um ministro monossilábico.
Não é para menos, em apenas três dias do novo governo o mercado de capitais derrubou o valor de face de todas as ações das empresas estatais, cujo o próprio governo é o acionista majoritário, algo como R$ 25 bilhões com os quais o governo não poderá mais contar porque foi o valor das perdas globais dos papéis.
Guardião dos papéis, que na prática pertencem ao povo brasileiro, a continuar a sangria dos recursos das estatais e com essa velocidade alucinante, o governo nem precisará de oposição, porque ele mesmo terá problemas gravíssimos de caixa. Alertado, Lula farejou encrenca e dores de cabeça, uma vez que ainda é frágil a composição com os partidos com vistas à formação de base de sustentação política no Congresso Nacional.
Políticos, de esquerda, direita ou os do Centrão, não querem ouvir falar em quedas dos números deixados como legado por Jair Messias Bolsonaro (PL), apontado pelos petistas e partidos associados como o “diabo encarnado na Terra” — e acusado de ser o responsável por tudo, mas tudo mesmo, que existe de errado na terra descoberta por Pedro Álvaro Cabral.
Noves fora a cansativa cantinela de que herdou um país destruído pelo antecessor, a área econômica é a mais pressionada para mostrar trabalho e pausar a ópera de uma nota só de formulações teóricas, sonhos de uma noite de verão e coisas parecidas. Vacilante, o governo esperou até a última hora para prorrogar a isenção de impostos sobre combustíveis como Haddad queria, mas foi solenemente desautorizado pelo cardinalato petistas. “É para prorrogar”, teria dito um Lula irritado.
Ressabiado, Haddad não adiantou detalhes das medidas a serem anunciadas na próxima semana. Apenas disse que as fará.
A declaração ocorre num dia em que o governo teve de corrigir declarações divergentes na área econômica. Ainda na quarta-feira (4), o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse que não está em estudo nenhuma revisão da reforma da Previdência, ao contrário do que tinha anunciado na terça-feira (3) o ministro da Previdência, Carlos Lupi, o primeiro da lista de desautorizados a falar pelos cotovelos. Para estancar “o samba do crioulo louco”, Lula convocou reunião de emergência com todos os ministros na sexta-feira (6).
Durante a transição, Haddad tinha afirmado que a equipe econômica pretendia analisar as contas públicas para reestimar as receitas do governo e refazer a previsão de déficit primário para este ano. Caso a arrecadação venha menor que o previsto, o governo poderá ter de aumentar impostos ou rever desonerações, mas o ministro se esquivou e não falou sobre essa possibilidade.
O déficit primário representa o resultado negativo das contas do governo sem os juros da dívida pública. O Orçamento de 2023 estabelece como meta um déficit de R$ 231,5 bilhões.
Por causa da reunião com Haddad, o presidente Lula não participou da cerimônia de posse da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no Palácio do Planalto, dado a gravidade da situação e clima de terror no mercado financeiro. Goste Lula ou não, quem banca os papéis de rolagem da dívida pública é o mercado.
Antes da reunião com Lula, Haddad participou de reunião com o líder do Governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), no prédio do ministério.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.