Brasília – Após recuo, distribuição de notas à cúpula do partido e muito jogo de cena, o presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, anunciou na terça-feira (23), que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se filiará ao partido no próximo dia 30/11.
O evento será às 10h30, em Brasília, no complexo Brasil 21. A data foi definida após reunião entre o chefe do Executivo e o presidente nacional da sigla. O encontro ocorreu no Palácio do Planalto e não estava na agenda do presidente.
A filiação de Bolsonaro ao PL estava marcada para o dia 22, mas foi adiada. Segundo o partido, a decisão ocorreu em comum acordo “após intensa troca de mensagens” entre o mandatário e Costa Neto.
Na semana passada, o presidente da sigla se reuniu com os dirigentes estaduais para discutir o assunto. Segundo fontes que participaram da reunião, o partido deu “carta branca” para que Costa Neto aparasse “todas as arestas” e acertasse a filiação de Bolsonaro.
Arestas
Achegada do presidente ao PL enfrenta resistência no Amazonas, no Piauí e em Alagoas. E tem potencial para gerar atritos em estados como São Paulo e Pará.
No Amazonas, a filiação do presidente deve isolar o deputado federal Marcelo Ramos (PL), que é vice-presidente da Câmara dos Deputados e tem atuado como opositor de Bolsonaro no Congresso.
“Em respeito ao partido que sempre me tratou com respeito, não falarei sobre a filiação de Bolsonaro. Por enquanto… Todos sabem que não é uma situação cômoda para mim e, no momento oportuno, irei me pronunciar”, afirmou Ramos em uma rede social.
A expectativa é que a legenda ganhe o reforço do Coronel Alfredo Menezes, amigo de Bolsonaro e pré-candidato ao Senado no Amazonas.
Questionado sobre a possibilidade de dividir o partido com Ramos, Menezes disparou contra o vice-presidente da Câmara: “Ele é uma imundície de ser humano porque não tem valores. Engana a todos e só quer o poder pelo poder”, disparou.
O partido é comandado no estado pelo ex-senador Alfredo Nascimento, que tende a se alinhar a Bolsonaro e concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados.
No Piauí, o deputado federal Fábio Abreu (PL) é aliado do governador Wellington Dias (PT) e deve manter a parceira com o petista em 2022. Ele afirma que não irá conviver com aliados de Bolsonaro no mesmo partido e, caso haja imposição de novos filiados, irá deixar a legenda.
Em Alagoas, a legenda é comandada pelo ex-deputado Maurício Quintela Lessa, que foi ministro dos Transportes da gestão Michel Temer (MDB). Desde 2019, ele é secretário na gestão Renan Filho (MDB), que deve apoiar o ex-presidente Lula (PT) ao Planalto em 2022.
A situação é semelhante no Pará, onde o partido é fiel aliado do governador Helder Barbalho (MDB), que concorre à reeleição em 2022. Barbalho tenta montar um palanque amplo que deve incluir petistas e bolsonaristas, mas costuma ser alvo de petardos de aliados do presidente.
São Paulo também é um entrave, já que o partido faz parte da base do governador João Doria e havia assegurado apoio ao vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), na sucessão ao governo paulista.
O estado é considerado chave para os bolsonaristas por ser base eleitoral do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente.
Na Bahia, a legenda deixou a base do governador Rui Costa (PT) e aproximou-se de ACM Neto (DEM), que tem adotado uma postura crítica ao presidente.
Líderes do partido, contudo, avaliam que a chegada de Bolsonaro terá potencial para dobrar a bancada do partido na Câmara, incluindo bolsonaristas, aliados de ACM Neto e até apoiadores de Rui Costa.
Se há incêndios para serem debelados em estados do Norte e Nordeste, a chegada do presidente tende a fortalecer pré-candidaturas a governos estaduais do partido, especialmente em estados do Sul.
Em Santa Catarina, um dos principais redutos do presidente, o senador Jorginho Mello será candidato ao governo pelo PL em uma chapa que pode incluir o empresário Luciano Hang ou o secretário nacional da Pesca, Jorge Seif Júnior, como potenciais candidatos ao Senado.
Um dos líderes da tropa de choque de Bolsonaro na CPI da Covid, Mello deve ter o apoio do presidente na disputa contra o governador Carlos Moisés (sem partido), bombeiro militar eleito em 2018 pelo PSL na onda bolsonarista.
O partido tem negociações avançadas para a filiação do ministro Oxyx Lorenzoni (Trabalho), que pretende ser candidato ao Governo do Rio Grande do Sul. O ministro decidiu deixar o DEM após a aprovação da fusão do partido com o PSL, que deve criar a União Brasil.
Ao mesmo tempo em que fortalece a candidatura de Onyx, a opção e Bolsonaro pelo PL pode gerar atritos com o senador Luiz Carlos Heinze, que também é pré-candidato ao governo gaúcho.
O PL ainda tem pré-candidaturas a governos estaduais em ao menos outros três estados, mas esse número pode crescer com a provável filiação ao partido de aliados do presidente, incluindo ministros.
Uma das prioridades é o Rio de Janeiro. A chegada do presidente ao PL, contudo, tem potencial de restringir o arco de alianças do governador Claudio Castro.
Depois de filiar-se ao PL em maio deste ano, em cerimônia com a presença de Bolsonaro, Castro vinha se movimentando para conquistar aliados fora do campo bolsonarista para construir uma candidatura à reeleição competitiva.
A legenda ainda tem outros dois pré-candidatos a governos estaduais na região Nordeste.
No Maranhão, o deputado federal Josimar Maranhãozinho se movimenta para concorrer à sucessão do governador Flávio Dino (PSB).
Em Pernambuco, o nome do partido para o governo é o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira.
A sigla, contudo, selou uma aliança com Cidadania, PSC e PSDB, o que tende a dificultar a montagem de um palanque 100% bolsonarista com a candidatura ao Senado do ministro do Turismo, Gilson Machado Neto.
Por outro lado, potenciais candidatos ao Senado podem ganhar força em outros estados, caso do ex-senador Magno Malta (PL) que tentará retomar o mandato depois de ser derrotado em 2018.
Também ganha tração o nome da ministra Flávia Arruda (PL) para concorrer ao Senado pelo Distrito Federal. Mulher do ex-governador José Roberto Arruda, ela deve fechar uma aliança com o governador Ibaneis Rocha (MDB).
Em Mato Grosso, o senador Wellington Fagundes (PL) passa a ter um forte cabo eleitoral em sua tentativa de reeleição. A escolha, contudo, isola o deputado federal bolsonarista José Medeiros (Podemos), que também pretende concorrer ao Senado.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.