Ontem recebi de um amigo um vídeo que mostrava a decapitação de um rapaz de aproximadamente 20 anos. O rapaz, deitado no chão com as duas mãos amarradas nas costas, teve sua cabeça colocada sobre um tronco e o pescoço cortado a golpes de facão desferidos por um outro jovem, aparentemente pouco mais velho que a vítima. Concluído o serviço, a cabeça do jovem rolou para próximo do algoz. Nesse momento, quem filmava o ato aproximou a imagem e esta mostrava aquela cabeça fora do corpo, como se uma bola de futebol fosse, com os olhos ainda piscando. Uma cena macabra, daquelas de causar indignação ao pior dos carrascos da ditadura brasileira das décadas de 70/80.
Ao ver o vídeo percebi o quanto a vida humana se tornou banal para algumas pessoas. Não questiono os motivos que levaram a vítima a receber tão atroz punição, e sim como um ser humano pode fazer esse tipo de ação com outro. Como uma pessoa pode nutrir tanto desprezo pela vida de outra a ponto de praticar tal ato?
O ano novo, 2017, começou com uma verdadeira guerrilha nos presídios brasileiros. Mais de 300 presos foram mortos, alguns de forma cruel como a do mencionado vídeo. Autoridades, imprensa e os que batalham pelos direitos humanos se puseram a discutir o assunto em horário nobre e a buscar soluções para a superlotação das casas penais país a fora. A Lei antidrogas, recentemente promulgada, foi eleita a causa da superpopulação nos presídios e já se questiona sua revogação, ou reformulação. Presos portando algumas gramas de drogas viraram as vítimas de facções criminosas, que dominam os presídios (para não dizer algumas casas legislativas e fóruns espalhados pelo Brasil) e travam uma verdadeira guerra pela consolidação e domínio do tráfico nas grandes cidades brasileiras.
Nos presídios, a vida humana não vale nada! Mas não só dentro dos presídios esse sentimento pela vida humana é exacerbado. Nossa sociedade, incrédula com os políticos, já não sabe mais separar política e viver em sociedade. Uma minoria dessa sociedade vive com um ódio tão grande no coração que é capaz de comemorar a anunciada morte cerebral da esposa do ex-presidente Lula, fato que, em minha opinião, os coloca na mesma condição do algoz do rapaz do vídeo ou dos líderes das facções que dominam os presídios.
É preciso que repensemos nossos conceitos. É preciso que igrejas, seitas e entidades espiritualistas envolvidas na religião, seja ela qual for, se debrucem sobre esse tema e façam algo para tirar todo esse ódio dos corações das pessoas. Não é possível que se comemore a morte nas redes sociais como se isso fosse banal. Não é possível que se tire uma vida de forma tão cruel. Um ser humano, por pior que ela tenha feito, não merece ser tratado dessa forma. Deixemos de lado o rancor político, as rixas ideológicas, a imbecilidade de repercutir tudo que vimos nas redes sociais e passemos a nos preocupar mais com nossa espiritualidade, com nossos ideais, com como tornar nossos corações mais acessíveis ao amor pelo próximo. Assim fazendo, creio, diminuiremos a população carcerária, diminuiremos os desvios de verbas públicas, diminuiremos nossos problemas e construiremos um mundo melhor para nossos filhos.
“Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência” (Lenine)
1 comentário em “Artigo: mais amor e menos guerra!”
Parabéns! Excelente reflexão.