Por Monick Veloso ( * )
Entre os transtornos psicológicos observados na infância, a depressão tem provocado crescente interesse, pela frequência com que este diagnóstico tem sido feito e pelo reconhecimento de que essa doença pode estender-se para a fase adolescente e adulta, afetando as mais variadas funções e causando os mais variados danos biopsicossociais no indivíduo.
É importante ressaltar que durante muito tempo acreditou-se que as crianças raramente apresentavam depressão, de forma que o interesse científico por este transtorno em crianças é recente. Até a década de 70 acreditava-se que a depressão nessa faixa etária fosse rara ou até inexistente.
Para que o diagnóstico de Depressão Infantil seja feito, há necessidade de se destacar a relevância das características próprias de cada fase do desenvolvimento na infância, as quais modelam as manifestações clínicas da depressão.
A depressão em crianças pré-escolares (idade até 06, 07 anos) se manifesta por queixas físicas como, por exemplo, dores abdominais, dor de cabeça, dores imprecisas, queixas de fadiga e tontura. Essas queixas são seguidas por ansiedade, fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite e alterações do sono. Com menor frequência, podem ocorrer enurese e encoprese (ausência de controle sobre a urina e as fezes), fisionomia triste, comunicação deficiente, choro frequente, movimentos repetitivos e comportamento agressivo e destrutivo. O prazer de brincar ou ir para a escola diminui ou desaparece e as aquisições de habilidades sociais próprias da idade deixam de ocorrer naturalmente.
Em crianças escolares (idade entre 07 anos a 12 anos) o humor depressivo já pode ser verbalizado. Nessa idade, quadros depressivos se expressam pela aparência entristecida, abatidas, apáticas e demonstrações de inabilidade em se divertir. Podem chorar frequentemente, mostrando-se cansada, fugindo, isolando-se de outras pessoas e lugares. Há perda no desempenho escolar, o desejo de morrer torna-se presente, e a baixa autoestima pode ser manifestada pelo autoconceito negativo dessas crianças que se denominam de tolas, sem inteligência, etc.
Tendo em vista a complexidade deste fenômeno, reconhecer os sintomas depressivos nas crianças tem sido uma tarefa difícil tanto para os pais, quanto para os professores, dado a sua similaridade com outras dificuldades como a hiperatividade, os distúrbios de conduta e a agressividade. Porém, com a ampla utilização de critérios bem definidos de diagnóstico, acredita-se que para o bom profissional, a depressão não ficará mascarada por qualquer outra queixa ou problema apresentado pela criança.
O tratamento da Depressão Infantil deve levar em consideração o ser humano em sua totalidade, incluindo as dimensões biológicas, psicológicas e sociais. Dentre as diversas formas de se tratar a Depressão Infantil, destaca-se o tratamento biológico realizado por fármacos antidepressivos e o tratamento psicológico proposto pela abordagem cognitivo-comportamental, entre outras abordagens psicológicas. No caso específico da utilização de fármacos, estes devem ser prescritos por profissionais capacitados (de preferência psiquiatras) e sempre tentando equilibrar os riscos com os ganhos para a qualidade de vida da criança.
A medicação antidepressiva age no cérebro estimulando os neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, os quais têm um profundo efeito no humor. Já o tratamento baseado na terapia cognitivo-comportamental tem como objetivo ensinar à criança habilidades para que ela possa reagir à depressão, bem como melhorar seu desempenho nas tarefas que executa. O psicólogo atua como um consultor, avaliador e educador, e seu papel deve ser ativo, funcionando como um modelo na transmissão das intervenções terapêuticas e ensinando a criança a ter maior controle sobre comportamentos e cognições disfuncionais, facilitando, assim, um desenvolvimento emocional mais satisfatório.
Encerra-se, enfatizando que a Depressão Infantil é um transtorno afetivo grave, incapacitante e cada vez mais comum. O diagnóstico deste transtorno devido a sua complexidade deve ser feito observando-se minuciosamente o comportamento da criança, a forma com que interpreta os acontecimentos e como enfrenta as situações diárias. Além disso, por ser consequência de vários fatores (vivência traumática, história familiar de depressão), as crianças estão cada vez mais propensas a desenvolverem este transtorno, sendo seu diagnóstico precoce uma medida importante para o tratamento e prevenção contra os vários prejuízos que a depressão pode causar na vida da criança como um todo.
( * ) – Monick Veloso é psicóloga atuante no SUS municipal nas Unidades de Saúde da Família do Bairro dos Minérios e Casas Populares.
1 comentário em “Artigo: Vamos conversar sobre Depressão Infantil?”
Amei, esse trabalho Doutora, me interessei porque também tenho dois filhos, disseram que um é imperativo e com TDh. E outro já é grande tem todos os diagnósticos que fala essa Depressão. O grande trata pelo CPS. O Pequeno faz tratamento com o Neurologista .