Por Eleutério Gomes – de Marabá
Eles anunciam a vinda de Cristo de modo bem diferente, cantando e tocando pandeiro e instrumentos de sopro nas esquinas e praças. São canções de ritmo folclórico, mas com mensagem cristã. Em troca, as pessoas lhes dão moedas ou dinheiro em papel, geralmente cédulas de dois reais e uma ou outra de cinco. Eugeme da Selva e Catalina são peruanos, vieram da cidade de Glaio e entraram no Brasil pela fronteira da Islândia peruana com Benjamin Constant, no Amazonas. A viagem, em sua maioria de barco, “durou muitos dias”, não sabem dizer quantos, pois em cada porto desembarcavam, cantavam, tocavam e depois seguiam em frente. Esta semana chegaram a Marabá.
“Não buscamos fama, queremos apenas fazer nossa manifestação cultural”, afirma ele, falando uma mistura de português e espanhol. Conta que começou a ter contato com a música aos oito anos de idade, tocando canções folclóricas de raízes indígenas. “Fabricamos os nossos instrumentos, pois também somos artesãos e trabalhamos com bambu e barro”, informa ainda Eugeme.
Indagado sobre o motivo de sair pela América Latina cantando, ele afirma que é “uma renovação de votos com Deus, que está acima de todas as coisas”. Diz que não segue uma denominação religiosa específica e que sua religião é o “amor de Jesus Cristo”. “Ele disse aos seus discípulos ‘amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros’. E nós estamos fazendo isso com a nossa música”
“Em Mateus, capítulo 10, Jesus diz: ‘Por onde forem, preguem esta mensagem: O Reino dos céus está próximo’. E é isso que estamos fazendo”, reforça Eugeme, que não gosta muito de falar sobre si mesmo nem de Catalina, que carrega uma gravidez e oito meses, ou da filha Kaia, de oito anos, que os acompanha nessa aventura.