Local onde Dorothy Stang foi assassinada será o primeiro a ter guaritas para evitar comércio ilegal de madeira
Evandro Éboli – O Globo
Permanente palco de tensão e violência no campo, o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança, em Anapu (PA), será o primeiro assentamento do país com instalação de duas guaritas e presença de vigilância 24 horas ao dia. Essa região no Oeste do Pará ganhou notoriedade até no exterior após o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, em fevereiro de 2005.
A exploração ilegal de madeira no interior do projeto gera conflito entre assentados e madeireiros, que cooptam colonos no assentamento e promovem o desmatamento. A guarita é para evitar o comércio ilegal dessa madeira e identificar quem está a serviço do esquema desses grupos.
As guaritas serão instaladas nos dois extremos da estrada de acesso ao assentamento e serão construídas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O conflito em Anapu foi discutido em audiência pública, quando o Incra se comprometeu com a construção das duas barreiras.
Cada guarita terá cerca de 40 metros quadrados de área construída, cada uma, e 64 metros quadrados de área coberta. A licitação está em andamento e a obra deve começar ainda este mês. É a terceira licitação das guaritas, promovida pela Superintendência do Incra em Santarém, no Oeste do Pará e próximo da região. Nas duas primeiras tentativas, não houve o número mínimo de inscrição de três propostas, uma exigência da Lei de Licitações.
A superintendente do Incra em Santarém, Cleide Antônia de Souza, explicou que a vigilância armada será feita por servidores do Incra, mas não terão poder de polícia, como dar voz de prisão num caso de flagrante de exploração ilegal da madeira.
– Foi preciso tomar essa medida para conter esse crime. Acreditamos que vamos solucionar o problema com essa fiscalização permanente – disse Cleide Souza.
O conflito em Anapu é uma disputa entre os defensores do modelo defendido por Dorothy Stang, de preservação da floresta, contra o grupo que defende a exploração da madeira no assentamento, o que é proibido por lei.
MPF acusa o prefeito de apoiar madeireiros
O Ministério Público Federal no Pará afirma que a ação dos madeireiros no PDS Esperança tem o apoio do prefeito de Anapu, Francisco de Assis Souza, o Chiquinho do PT, um antigo aliado de Dorothy. Chiquinho elegeu-se numa chapa cujo vice é o fazendeiro Laudelino Fernandes, conhecido como Délio, que chegou a ser investigado como suposto integrante do grupo que assassinou Dorothy. O prefeito nega que estimule essas ações. Para conter a tensão na região de Anapu, o governo chegou a enviar um grupo da Força Nacional de Segurança Pública.