Alta de taxa de óbito materno, feminização da Aids e aumento da quantidade de mulheres com transtornos mentais foram alguns dos assuntos apresentados brilhantemente pela enfermeira da rede pública de Parauapebas, Cleice Reis, durante a palestra magna de abertura da I Conferência Municipal de Saúde da Mulher, realizada na sexta-feira (19), no auditório do IFPA.
O evento foi promovido pelo Conselho Municipal de Saúde (CMSP) e Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, com apoio das secretarias municipais de Saúde e Mulher, com o foi objetivo discutir a “Implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher”, tema da Conferência.
Durante a conferência foram eleitos delegados que participarão do evento estadual, que realizar-se-á em Belém, promovido pelo Conselho Estadual de Saúde. As conferências municipais e estaduais para tratar da Atenção à Saúde da Mulher ocorre em todo o país e todas as propostas discutidas serão levadas para a 2ª Conferência Nacional de Saúde, que realizar-se-á em Brasília, no mês de agosto, promovida pelo Conselho Nacional de Saúde.
Em sua fala, na abertura do evento, o presidente do CMSP, Mardem Henrique, destacou os impactos que as reformas trabalhistas e previdenciárias terão na saúde da mulher, caso elas se efetivem da forma como têm sido propostas pelo governo federal, e reforçou a necessidade de discutir de forma mais ampliada as políticas voltadas à saúde da mulher.
“Temos que discutir no contexto político nacional a PEC que limita os investimentos em saúde e em educação. Isso é um absurdo, temos que repudiar. Esta plenária é de suma importância para que a sociedade participe, solte sua voz, para que não permitamos um retrocesso do Sistema Único de Saúde, que garanta a sua universalidade e equidade. Não é simplesmente tratar do câncer ou do preventivo, existe toda uma política macro que delineia os investimentos nas políticas públicas implementadas e na saúde da mulher não é diferente”, afirmou Marden Henrique.
Sobre a realidade municipal, o presidente do conselho disse que a rede de atendimento à saúde da mulher não está boa. “O Conselho está aqui para ajudar a encontrar essas falhas. Precisamos fazer uma reflexão da situação da atenção à saúde da mulher em nosso município, não adianta fazermos conferência e a partir de amanhã cada um ir para suas casas e as políticas públicas de fato não sejam implementadas por quem é de dever implementar e por quem é de direito cobrar que somos nós, o controle social. Precisamos rever sim a situação do preventivo em Parauapebas, que já está parado desde o ano passado e até então não foi retomado. A mamografia está estagnada e são todos avanços de política preventiva de saúde da mulher. Então se vamos discutir, vamos começar por aqui, pelo nosso quadrado, pela nossa realidade”.
Dados apresentadas na Conferência
De acordo com o último Censo realizado pelo IBGE, Parauapebas contava com 76.015 mulheres, o que representava 49,39% da população. As principais causas de morte de mulheres em Parauapebas, nos últimos anos, são: Diabetes Mellitus, Acidente Vascular Cerebral e Infarto Agudo do Miocárdio. Outro dado preocupante é o relacionado ao aumento de mulheres com transtornos mentais. De acordo com os dados do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), 58% do público atendido na unidade de saúde é de mulher, a maior parte com quadros de Depressão e Transtornos Ansiosos.
Os dados relacionados à taxa de mortalidade materno infantil também foram discutidos durante a conferência, no sentido de propor melhorias nas políticas voltadas para o atendimento do pré-natal e assistência ao parto. Em 2017 a taxa de mortalidade materna do município está em 135,96 por 100 mil nascidos, de acordo com o Ministério da Saúde. Esse número é calculado levando em consideração o “número de óbitos femininos por causas maternas, por 100 mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado” (OPAS, 2002).
O número de nascidos vivos em Parauapebas reduziu ao longo dos últimos anos, de 2013 à 2016, foram 5.162, 5.355, 5.014 e 4.638 respectivamente. Em 2017, até agora, foram 1.471 nascidos vivos, conforme os registros do Ministério da Saúde.
Com relação à sífilis congênita, doença sexualmente transmissível durante a gravidez e que pode causar graves sequelas, tanto para a mãe quanto para o feto, inclusive podendo levar ao óbito, Parauapebas tem uma taxa elevada de incidência, a média entre 2013 e 2016 foi de 11,5%.
Os números relacionados à proporção de gravidez na adolescência caíram entre 2013 e 2016, os percentuais foram 24,04% e 18,40% respectivamente, mas em 2017 houve um leve aumento, até a presente data o percentual está em 19,5%. Em 2016 o número de mulheres com HIV e de gestantes com HIV se equipararam, 26 em cada grupo, totalizando em 52 casos.
Em 2016 também foram registrados 12 casos de grávidas com Zika Vírus, e, de acordo com a enfermeira Cleice Reis, o município tem quatro crianças com caso de microcefalia, porém apenas uma tem relação com o Zika Vírus. Dentre as doenças infecciosas transmitidas sexualmente, a Síndrome do Corrimento Cervical em Mulheres foi a que teve os maiores índices de ocorrência entre 2013 e 2016.
Os dados relacionados à violência contra a mulher também foram apresentados. Conforme os órgãos oficiais, apenas 234 casos foram registrados em 2016. “Diariamente a Polícia Militar (PM) realiza pelo menos dois procedimentos relacionados à Lei Maria da Penha (esses dados são informais). Onde estão essas mulheres? Elas estão procurando a rede de saúde? Claro que sim, mas nossos profissionais não estão preparados para verificar os sinais das vítimas de agressão e fazer a notificação. Temos dados irrisórios, dessa forma não conseguimos lutar por políticas públicas. É preciso notificar mais os casos de violência doméstica. Também precisamos de um protocolo de atendimento eficiente para essas mulheres, tanto na rede de Saúde, quanto na rede da Secretaria Municipal da Mulher”, afirmou a assistente social, Juliana Araújo, que também participou da palestra magna.