Por Eleutério Gomes – de Marabá
Nem tudo foram elogios ou palavras de apoio e incentivo na Audiência Pública pelo Desenvolvimento Socioeconômico de Marabá e Região, na Câmara Municipal de Marabá, na sexta-feira (11). A começar pelo número de deputados estaduais e federais presentes. A explicação de que apenas três dos 17 federais e um dos três estaduais não vieram a Marabá por falta de passagens em empresas aéreas não convenceu a muitos na plateia, que, aos cochichos tecia críticas ao que chamavam de “falta de interesse pelo que acontece aqui” ou “somos mesmo um povo abandonado” e ainda “no ano que vem [de eleições] eles vão dar um jeito e virão pedir votos de qualquer maneira”.
Depois, a inversão da ordem das falas – primeiro os inscritos antes das autoridades – minou de cansaço dezenas de espectadores que começaram a se retirar discretamente, depois do vigésimo discurso de protesto.
E, por falar em protesto, eles não foram poucos, a começar pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Neiba Nunes Dias, que disse não aguentar mais ouvir as mesmas promessas feitas há anos, sem que nada fosse concretizado, enquanto 8.600 trabalhadores perderam o emprego no Distrito Industrial em 2008. “Chega de mentiras”, bradou ele, afirmando que os políticos só demonstram boa vontade perto das eleições.
Flaviciano Lima, presidente da Associação dos Filhos e Amigos de Itupiranga, também protestou afirmando que o pedral a ser derrocado fica naquele município não em Marabá. Por isso, exige que audiências públicas para tratar dessa obra sejam realizadas lá. Ele aproveitou a oportunidade para fazer uma correção: “O nome correto é Pedral do Lourenção e não Pedral do Lourenço”.
O ex-vereador Ubirajara Sompré, representando a comunidade indígena, anunciou que todos podem esquecer a Hidrelétrica de Marabá. Disse que para a construção do empreendimento terras indígenas teriam de ser inundadas, o que é expressamente proibido pelo Artigo 231 da Constituição Federal. Portanto, o projeto continua engavetado.
Raimundo Gomes da Cruz Neto, representante da Cepasp (Centro de Estudo e Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular), chamou os políticos presentes de “traidores do povo”, afirmando que é uma crueldade promover uma audiência para vai falar de destruição e do desalojamento de famílias e disse que é preciso reagir contra isso: “Destruição não é desenvolvimento”, vociferou.
O ativista cultural Dan Baron, galês que desenvolve o Projeto Rios de Encontro no Bairro Francisco Coelho, protestou afirmando que viu muitos números e estudos, mas nenhum com a credenciais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) nem da Universidade Federal.
Outros discursos, mais de duas dezenas, repetiram o mesmo tom: descrédito nos políticos, engodo quanto aos empreendimentos, repetição de promessas antigas, destruição do meio ambiente, mentira e outras palavras de descontentamento e irritação.
Chumbo grosso
Dois momentos de tensão marcaram a audiência. O primeiro foi durante a fala do prefeito em exercício Toni Cunha, que protestava contra as reformas de cunho meramente político que estão sendo feitas pelo atual governo do País, segundo ele, “reformas mequetrefes, oportunistas que são tiros de misericórdia” no povo brasileiro.
Em dado momento, começou a ser vaiado por um grupo de acadêmicos da Unifesspa que vaiavam a interrompiam falas que não fossem de críticas à audiência ou ao projeto de desenvolvimento.
Interrompido mais de uma vez, Toni Cunha, se dirigindo um dos estudantes, o que falava mais alto, bradou: “Cale a boca, você já falou na sua vez. Seu lugar não é aqui é no picadeiro. Você é um artista circense a mando de oportunistas querendo se aproveitar dos espaços políticos”.
Outro momento de tensão, esse mais grave e que quase acaba com a audiência, se deu quando o mesmo grupo de universitários, além de chamarem o deputado federal Beto Salame de traidor – por ter votado a favor do arquivamento da denúncia contra o presidente da República -, começaram a lançar ovos podres contra ele, provocando fuga dos integrantes da mesa diretora.
Imediatamente, o senador Paulo Rocha, do PT, e a vereadora Irismar Melo, que comandou os trabalhos, foram ao encontro dos acadêmicos, repreendendo-os com veemência. “Respeite, respeite aos que estão aqui”, disse ele a uma acadêmica que insistia em seguir com a agressão. “É por isso que nós estamos cada vez mais isolados. Esse tempo já passou. Não se protesta disseminando a cultura do ódio”, bradou Rocha.
Depois disso, os estudantes enrolaram uma grande faixa amarela com a frase “Fora Temer” e se retiraram do auditório, que foi ficando cada vez mais vazio – já por volta das 14h30 – devido ao cansaço, à fome e aos discursos repetitivos.