O escritor Airton Souza acaba de retornar a Marabá, depois de participar do lançamento de seu livro mais festejado no País, “Outono de Carne Estranha”, durante a 21ª edição da Flip (Festa Literária de Paraty, no Rio de Janeiro). A obra só chegou ao evento depois que Airton venceu o Prêmio Sesc de Literatura, e foi publicada pela Editora Record. O lançamento ocorreu na última sexta-feira, 24, e a Festa Literária encerrou no domingo, 28.
“Foi a minha primeira vez na Flip. Eu tinha um sonho de um dia estar ali, mas como escritor. O Prêmio Sesc era a minha possibilidade remota disso acontecer. Então, aconteceu. Foi inesquecível. Quem estava lá vivenciou uma noite épica. Eu agradeço muito ao Sesc, à Editora Record, e muitas pessoas que estiveram por trás da publicação dessa obra. Viva ao Prêmio Sesc de Literatura, que alimenta sonhos em todos nós”, disse o escritor.
Para o autor, a obra vai gerar dois tipos diferentes de leitores: os que só irão ler o início e abandonar o livro, e os que de fato vão ler até o final para saber o que acontece.
Questionado sobre a escolha do texto para o início do livro – que chama a atenção por retratar de forma avassaladora a relação entre dois homens no meio do garimpo de Serra Pelada – Airton Sousa conta que esse capítulo era o terceiro, e que a ideia inicial não seria colocar essa parte no começo da história.
“Não sei dizer exatamente o que aconteceu quando decidi colocar essa parte no início. A primeira pessoa que leu esse trecho foi a minha companheira e ela não gostou. Teve uma reação não muito boa e pediu para que eu não colocasse isso no livro de forma nenhuma, da maneira que estava escrito. Mas, mesmo assim decidi colocar sem ela concordar. Ela ficou preocupada com a reação das pessoas e em relação a gente, já que somos professores, funcionários públicos”, comenta Airton, ressaltando que nunca pediu a opinião da esposa em outras obras e que dessa vez queria ouvir justamente o que ela tinha a dizer.
SOBRE A OBRA
O romance vencedor do Prêmio SESC 2023, “Outono de carne estranha”, nos convida a mergulhar nas lamas do garimpo de ouro de Serra Pelada, combinando as memórias e a ficção. Com sua escrita sensível e perfurante, o escritor paraense Airton Souza conta a história de amor entre dois garimpeiros, em um território de embrutecimento dos homens e da terra.
A história se passa no contexto da famosa e trágica Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo, explorada por milhares de homens na década de 80. Nessa terra fragmentada pelas enxadas, marcada pela ganância e pela violência, o romance mescla fatos históricos e ficção para contar a história de Zuza e Manel, dois garimpeiros que se apaixonam, e Zacarias, um padre angustiado diante da própria batina.
Os três protagonistas tentam, a todo custo, bamburrar: encontrar uma grande quantidade de ouro e, assim, ganhar a vida. A terra úmida, os desabamentos e o cheiro do garimpo são cenário de uma história em que talvez já não existam fronteiras entre o sagrado e o profano, entre a morte e o erotismo – constantes dualismos enfrentados pelos personagens.
Apesar de a obsessão pelo ouro e a truculência dos que comandam o garimpo criarem uma atmosfera violenta, assassina e solitária, a ternura narrativa abraça seus personagens para que, de algum modo, escapem à asfixia da repressão, permitindo que amem e sejam amados.