Brasília – Se não houver surpresa, a reunião de dois dias que se encerra nesta quarta-feira (26) do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, deve manter em 13,75% ao ano a Selic — taxa básica de juros da economia. As apostas do mercado, desta vez, são unânimes: os juros vão se manter no mesmo patamar atual. A incerteza é quanto ao período de duração dessa estabilidade da Selic. O rumo da política fiscal, dependente do cenário eleitoral, ainda é o principal vetor de dúvidas para a política monetária, segundo os economistas.
O encontro de setembro foi o primeiro no qual o Copom não elevou os juros, depois de 12 reajustes para cima. Com isso, as apostas são de que a onda de apertos tenha se encerrado.
O Banco Central não confirmou. Inclusive, deixou claro que está atento para o movimento inflacionário do país. Caso a tendência de queda do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acabe e o indicador volte a subir, não estão descartados novos reajustes.
O principal risco está relacionado à autorização para despesas além do teto de gastos em 2023. As projeções do mercado já parecem ter incorporado uma licença para gastar em torno de R$ 130 bilhões. Caso a despesa fique abaixo disso, o BC poderia ter espaço para reduzir mais os juros. Se superar esse montante, a perspectiva é de menos cortes e de uma Selic mais alta no fim do ano que vem.
O mercado precifica que a Selic deve ser reduzida a 7,75% até o final de 2024. O alívio na inflação brasileira oriundo da redução prevista para os preços das commodities no mercado internacional deve contribuir para esse movimento, segundo os analistas. O economista-chefe da Santander Asset, Eduardo Jarra, em relatório aos clientes, considera que o BC somente deve iniciar os cortes da taxa Selic no terceiro trimestre de 2023, em um ritmo de 0,5 ponto percentual por reunião, que levaria os juros a 11,75% no fim de 2023. Segundo o economista, esse prazo deve ser suficiente para observar uma tendência mais clara de queda da inflação, que leve as expectativas para 2024 para o centro da meta, em meio à desaceleração esperada para a economia global.
Para Jarra, o movimento recente de desaceleração da inflação ajuda a reduzir as incertezas com relação à política monetária no curto prazo. A comunicação do BC, no entanto, deve continuar com um tom que reforce o cenário de juros altos por mais tempo.
“Com os juros parados, o BC tem a tarefa de manter a sua credibilidade, e o jeito de fazer isso é manter um tom razoavelmente conservador pelas próximas reuniões”, diz o economista, que vê a persistência da estratégia ao menos até o Copom de dezembro. “Como consequência, acho que a tendência é não deixar o mercado precificar os cortes de juros muito cedo.”
A antecipação desse ciclo de cortes ou um ritmo mais acelerado de afrouxamento são possíveis, mas dependeriam de um cenário de menor risco fiscal no País. “É um cenário em que as expectativas podem reancorar um pouco mais rápido, o que contribuiria para uma apreciação da moeda, ao menos do lado doméstico. Seria um balanço mais construtivo para o BC”, diz Jarra.
O mercado financeiro apresenta grande volatividade nas duas últimas semanas em razão da incerteza de quem ganhará as eleições. A opção Bolsonaro, para o mercado, significa previsibilidade, enquanto que Lula, tem gerado inquietação porque o candidato tem se esquivado de apresentar seu plano econômico.
Confira abaixo a agenda de indicadores desta quarta-feira (26):
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.