Banco Central decide nesta quarta-feira (3) se altera a taxa Selic

Mercado financeiro aposta na manutenção de 13,75% da taxa básica de juros
Edifício-Sede do Banco Central em Brasília

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Brasília – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anuncia no início da noite desta quarta-feira (3), se altera ou não a Selic, taxa de juros de referência da economia brasileira. A manutenção da taxa em 13,75% é a fonte principal de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contra a política econômica do economista Roberto Campos Neto, que dirige a instituição.

O consenso entre economistas é que BC deve manter o índice, além de seguir com um tom mais duro em relação a possíveis cortes futuros. Os juros básicos estão desde agosto do ano passado em 13,75%, no maior patamar desde 2016.

Os diretores do BC só devem mudar, consideravelmente, o tom mais duro em relação aos próximos passos, mesmo com a avaliação crescente, que ganhou corpo nos últimos meses, de que há espaço para que o BC comece os cortes na taxa mais cedo.

Entretanto, em audiência no Senado na semana passada, o presidente Campos Neto explicou que a redução seria um desastre e que a inflação sairia do controle, “ficando ainda mais caro para o conjunto da sociedade, notadamente os mais pobres, trazer a inflação novamente para o controle”.

As declarações irritaram o presidente Lula que vem, ostensivamente, desde a campanha eleitoral do ano passado, ameaçando “acabar com a autonomia do Banco Central”. Isso só seria possível com a autorização do Congresso Nacional, cujos líderes já adiantaram “que não há a menor possibilidade de acontecer”.

Alguns indicadores, de fato, passaram a ajudar o BC na tarefa de aliviar os juros altos e, com eles, a pressão que causam sobre a economia. Foi o caso de vários sinais de uma desaceleração já em curso no Brasil e no mundo, como o PIB negativo no último trimestre do ano passado, as quedas na indústria e no varejo e uma inflação que passou a perder força rápido.

Também trouxe alívio para o cenário a apresentação pelo governo, no fim de março, de sua proposta para a regra fiscal que deverá substituir o atual teto de gastos, entretanto, ao analisar com profundidade a proposta, experientes economistas afirmam que o chamado “arcabouço fiscal” é uma miragem.

Por outro lado, há diversos fatores que ainda turvam o caminho para juros mais baixos, e mesmo que uma ala dos bancos e consultorias esteja revisando para baixo suas projeções para os juros, as reduções são bem suaves.

“O Copom deve manter o tom duro na sinalização da política monetária, reforçando que o cenário não pressupõe cortes de juros iminentes e em linha com as recentes falas dos diretores e do próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto”, diz o chefe de pesquisa macroeconomica da Kínitro Capital, João Savignon, em entrevista a um canal de TV.

Preços de itens como serviços ainda alta, expectativas para a inflação deste e do próximo ano ainda afastadas da meta e, também, um mercado de trabalho resiliente e aquecido estão entre os elementos mencionados pelos analistas do outro lado do balcão que ainda impedem o BC de ser mais agressivo em sua descida dos juros.

Atualmente, a projeção média do mercado, de acordo com o relatório semanal Focus, do BC, é que a Selic chegue ao fim de 2023 aos 12,5%, numa ligeira redução em relação ao projetado há duas semanas (12,75%), mas ainda acima do que no começo do ano, quando a estimativa geral estava em 12,25%. É também um nível bem pouco abaixo dos 13,75% atuais.

As projeções para a inflação, por outro lado, seguem sendo revistas para cima e falam, atualmente, em um IPCA a 6% ao fim do ano — mais alto, inclusive, do que está agora (4,65% foi registrado março) e ainda longe da meta que deveria ser cumprida pelo BC neste ano, que é de 3,25%, com margem de tolerância entre 1,75% e 4,75%.

Alguns economistas vêm falando em aumento da taxa Selic para 14%, devido a fragilidade dos fundamentos apresentados pelo governo no texto do arcabouço fiscal, a demora do Congresso em concluir a votação da reforma tributária, a suspensão ordenada por Lula de qualquer possibilidade de reforma administrativa, extinção do programa de privatizações e nenhuma palavra sobre redução de despesas na máquina federal seriam fatores mais do que justificáveis, caso o BC resolva aumentar a taxa Selic.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.