A barragem de rejeitos da mineradora multinacional Vale na Mina Córrego Feijão, em Brumadinho (MG), certamente seguia “os mais altos padrões internacionais de segurança”. Mas rompeu e, lamentavelmente, deixou mais de uma centena de mortos e mais de duas centenas de desaparecidos. As barragens existentes da mesma empresa no complexo minerador de Carajás, aqui no Pará, também seguem esses “altos padrões”. Então, será que há algum risco de elas estourarem também? Quantas pessoas poderiam ser afetadas?
O Blog do Zé Dudu mandou um questionário à mineradora multinacional Vale, que precisou de 48 horas para responder o que, ultimamente, tem tirado o sono de cidadãos que convivem nas cercanias das barragens da empresa privada mais rica do país, em valor de mercado, em faturamento e em lucro.
Mesmo num momento muito delicado por que passa o Brasil, comovido com o episódio de Brumadinho, a Vale não perde a oportunidade de propagandear, dizendo-se “comprometida com a segurança de suas estruturas” — o mínimo que se pode esperar dela, embora a população de Minas Gerais não comemore tal compromisso, conforme tem sido visto nos noticiários de uma semana para cá.
Segundo a mineradora, são realizados monitoramentos e inspeções em todas as estruturas que se enquadram na Política Nacional de Segurança de Barragens. No Pará, o método construtivo de todas as suas barragens de rejeitos é diferente da barragem da Mina Córrego Feijão, em Brumadinho. A Vale diz que em seus empreendimentos ferrosos do complexo de Carajás é utilizada a tecnologia de processamento a seco e cerca de 80% da produção dispensam uso de água, o que reduz a quantidade de rejeitos.
As plantas de beneficiamento de Serra Leste (em Curionópolis) e do complexo S11D (em Canaã dos Carajás) já operam com essa tecnologia e, por isso, não dispõem de barragem de rejeitos. Em Parauapebas, as usinas 2 e 3 funcionam assim em sua produção total, enquanto a Usina 1 opera parcialmente. “A Vale também reaproveita o material armazenado em barragens de alto teor, fazendo o reprocessamento e gerando produto,” informa a mineradora, destacando que o método vem sendo feito na barragem do Geladinho.
Barragem tem risco médio por causa de comprimento
A barragem Pondes do Igarapé Bahia, localizada dentro do município de Parauapebas, possui grau de risco considerado “médio” (é a única com grau médio entre as barragens de rejeitos de mineração do Pará) e tem classificação para dano potencial “alto”. No entanto, a multinacional minimiza a avaliação, dizendo que a Agência Nacional de Mineração (ANM) tem critérios próprios para definir categoria de risco, levando-se em consideração o porte da estrutura (pequeno, médio ou grande). Nesse contexto, o Pondes do Igarapé Bahia tem categoria de risco médio devido a seu comprimento.
No tocante ao dano potencial associado, considerado alto, a Vale diz que a categorização deve-se ao fato de a estrutura estar inserida na unidade de conservação da Floresta Nacional de Carajás, mas que não existe população nas cercanias da barragem. Aliás, segundo a empresa, ela tem o “mapeamento e ou cadastro da população no entorno” de suas barragens. O Blog até quis saber quantas pessoas existem, mas a Vale se esquivou da informação, talvez para não dar volume “per capita” à sensação de pânico que a população está sentindo em decorrência do rompimento da barragem em Brumadinho.
“As barragens da Vale estão em conformidade não apenas com a legislação ambiental brasileira, mas seguem, também, os mais altos padrões internacionais de segurança,” reforça a mineradora, comunicando que montou plano para elevar o padrão de segurança dessas estruturas de sua responsabilidade. O objetivo é superar os parâmetros mais rigorosos existentes hoje no Brasil e no mundo.
Produção encerrada em Minas será, sim, compensada
Com relação ao fechamento das barragens construídas com método de alteamento a montante, que sepultará uma produção de minério de ferro estimada em 40 milhões de toneladas por ano, a multinacional diz que ainda está sendo montado um plano de compensação parcial da produção de minério de ferro que será paralisada por conta dos trabalhos de descomissionamento em Minas Gerais.
Para não dar pistas de que a produção será compensada mediante o aumento da extração em Parauapebas e em Canaã dos Carajás, aqui no Pará, como já divulgado pelo Blog, a assessoria da empresa repetiu uma resposta quando questionada sobre o cenário de vida útil das minas. Sabidamente, a Vale não gosta de discutir essa questão para não ser responsabilizada pela catástrofe social e financeira que deverá sobrar se as atuais administrações de Parauapebas e Canaã — hoje dependentes da presença da empresa — não se programarem para o encerramento da atividade minerária em seus espaços.
Como antecipado em primeira mão pelo Blog do Zé Dudu, a empresa está se preparando para a abertura de novas minas (N1 e N2) para dar sustentação à produção de N4 e N5, em Parauapebas, que devem exaurir-se a partir da próxima década. A Vale confirma os projetos, cujos processos tramitam para licenciamento no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas se limita a dizer que eles não preveem barragens.
1 comentário em “‘Barragens seguem mais altos padrões internacionais de segurança’, diz Vale”
ZE DUDU, o negócio da VALE se sustenta no Pará. Não tenha dúvida quanto isso!
O faturamento da VALE será mantido seguramente por aumento de preço e ajuste de produção no Pará. Pode até ser que o faturamento da empresa aumente.
O minério de Carajás é muito rico e recebe bônus de preço no mercado pelo diferencial de qualidade e ainda tem custo produtivo menor que o de MG. O preço balizador do mercado é para minério com 62% de ferro, mas a qualidade do minério Carajás ultrapassa 65%.
Para finalizar e refletir, mesmo com tudo isso exposto, não existe um posicionamento sobre VERTICALIZAÇÃO MINERAL no estado.
Até Ceará, sem produção de minério, foi objeto de uma parceria da VALE com empresas coreanas na construção de uma siderúrgica.