Do Valor Econômico
O retorno dos trabalhadores e da rotina nos canteiros de obra de Belo Monte não acaba com as preocupações que estão tirando o sono do consórcio Norte Energia, responsável pela hidrelétrica em construção no rio Xingu, no Pará. O Valor apurou que o consórcio começou a montar um “plano B” de engenharia para garantir a execução da obra de sua barragem provisória.
A execução dessa estrutura, conhecida como ensecadeira, deveria ter começado há exatamente duas semanas, mas nada foi feito porque a companhia precisa obter autorização do Ibama para executar a ação. Erguida com o uso de terra e de rochas, sem concreto ou materiais industriais, a ensecadeira é usada para fazer o desvio do rio. A obra é necessária para que o consórcio possa dar início à construção à construção da barragem definitiva. O receio é que esse projeto não fique pronto até dezembro, quando começa o período das chuvas.
A informação foi confirmada pelo diretor de Construção da Norte Energia, Antônio Kelson Elias Filho. “O prazo realmente é o que nos aflige. Temos esperanças de que a autorização seja liberada ainda nesta semana”, comentou. “A ensecadeira tem que começar imediatamente, senão realmente teremos que considerar a possibilidade de adia-la para o ano que vem.”
Um eventual adiamento significa, na prática, o atraso de um ano no cronograma das obras. O plano B tem justamente a função de tentar encontrar outras opções de engenharia de obras que garantam a conclusão do desvio do rio num prazo mais curto que aquele originalmente estimado. Os cálculos dessa alternativa estão sendo avaliados, mas já se sabe que o custo seria superior àquele já projetado.
Há duas semanas, o Ibama fez uma série de apontamentos para a Norte Energia. Segundo o órgão ambiental, o consórcio ainda não tinha garantido que a navegabilidade do rio Xingu seria 100% mantida durante as fases das obras. Pelas regras do Ibama, não pode ocorrer qualquer interrupção no fluxo do rio, em nenhum momento. Os analistas ambientais também levantaram dúvidas sobre a navegabilidade de embarcações pequenas, como as chamadas “voadeiras”, por conta da velocidade da água que o canal do Xingu passaria a ter a partir do desvio, da ordem de 2,5 m/s, considerada alta.
Segundo Elias Filho, todos os apontamentos feitos pelo Ibama foram respondidos pela Norte Energia. Na semana passada, a diretoria da empresa teve um encontro no Ministério do Planejamento com gestores do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e representantes do Ibama. “Todas as dúvidas foram esclarecidas e tivemos a sinalização, de viva-voz, de que não havia mais nenhuma pendência. Por isso, acreditamos que a autorização será dada o mais rápido possível”, disse o diretor do consórcio.
Ontem, a atividade de mais de 13 mil trabalhadores de Belo Monte voltou ao normal, após a decisão do Supremo Tribunal Federal, que decidiu acatar as justificativas apresentadas pela Advocacia-Geral da União (AGU) e autorizar a retomada das obras. A Procuradoria-Geral da República ainda pode recorrer ao plenário do STF.