Brasília – Locomotiva mundial, a indústria musical americana se reinventou durante a pandemia da Covid-19 e apresentou na noite de domingo (5), a melhor cerimônia, em décadas, registrando uma das maiores audiências de sua história. O 65º Grammy Awards (2023) transmitido ao vivo do gigantesco Crypto.com Arena, diretamente de Los Angeles, na Califórnia (EUA), consagrou Beyoncé, Harry Styles e Lizzo; Anitta que concorria como artista revelação foi derrotada pelo novo fenômeno do jazz, Samara Joy, que mais cedo já tinha recebido um primeiro gramofone de ouro. Não foi desta vez para a Girl From Rio, que declarou: “Ganhando ou não, me sinto vitoriosa”.
Os premiados do Grammy 2023
O primeiro vencedor das categorias principais foi o inglês Harry Styles, ex-One Direction — um dos vários grupos de adolescentes que fizeram sucesso nos anos 80.
Queridinho do público jovem que fez shows cheios no Brasil recentemente, o pop dançante anos 80 de Styles faturou na categoria de melhor álbum de pop vocal. Depois, Beyoncé, que estava atrasada, e Willie Nelson, não apareceram para receber os prêmios seguintes.O também inglêsSam Smith, que se define como não-binário, e Kim Petras, mulher transgênero, receberam o prêmio de melhor performance pop em grupo ou duo por “Unholy” — canção que apresentariam no palco momentos depois.
Bad Bunny ganhou a categoria de Best Musica Urbana Album — uma nova categoria introduzida nesse ano —, voltada ao público latino e falante de espanhol. No rap, Kendrick Lamar foi o grande vencedor da noite.Beyoncé se emocionou ao receber o troféu de melhor álbum de dance/eletrônica, por Renaissance. Foi seu 32º Grammy, o que lhe rendeu o recorde de maior vencedora da história da premiação, superando o maestro Georg Solti. No discurso de agradecimento, exaltou sua família e também a comunidade Queer.
Bonnie Raitt se mostrou surpresa ao vencer o prêmio de canção do ano por “Just Like That”, música que compôs pensando em pessoas que doaram seus órgãos para outras viverem, dedicada a John Prine. Lizzo também se animou ao subir ao palco para receber o prêmio de gravação do ano pela música “About Damn Time”.
Harry Styles também foi o último premiado da noite, quando subiu ao palco para receber o Grammy de álbum do ano por Harry Styles, coroando a continuação do sucesso na carreira solo do ex-One Direction.Como o nome indica, o prêmio Dr. Dre de impacto global foi dado ao rapper, que brincou: “Eu não esperava por isso”. Seu discurso foi um marco dos trabalhos sociais que a academia da música vem realizando há alguns anos.
Ao receber a estatueta de melhor performance de pop solo, a inglesa Adele revelou que fez a música “Easy On Me” repentinamente, enquanto estava no banho. A britânica ainda soltou um palavrão ao encerrar seu agradecimento.A apresentação do evento ficou por conta de Trevor Noah, que arriscou diversas gracinhas ao longo do evento, como promover o inusitado encontro entre Dwayne Johnson (The Rock) e Adele ou afirmar que o álbum Renaissance, de Beyoncé, é mais bonito que as obras do período da renascença.
Anitta perde para novo fenômeno do jazz
O Brasil, antes da funkeira Anitta, só tinha sido indicado ao Grammy na categoria Artista Revelação outras três vezes anteriores, com João Gilberto, Astrid Gilberto e Tom Jobim. Nunca venceu.
Apesar da expectativa no Brasil e de parte da imprensa internacional apontá-la como favorita, Anitta não venceu a categoria de artista revelação do Grammy em 2023. Mais cedo, no tapete vermelho, a brasileira já havia falado sobre a possibilidade: “Ganhando ou não, me sinto vitoriosa”.O prêmio ficou com Samara Joy, cantora que chegou a se apresentar durante a primeira parte da cerimônia, e havia recebido seu primeiro Grammy mais cedo, na categoria de melhor álbum de jazz vocal.
Boca Livre ganha Grammy para o Brasil
Mas o Brasil não saiu de mãos abanando da premiação. O grupo carioca Boca Livre ganhou o Grammy de melhor álbum de pop latino pelo disco “Pasieros”, que dividiu com o cantor panamenho Rubén Blades. Eles concorriam com a americana Christina Aguilera e os colombianos Camilo, Fonseca e Sebastián Yatra. O ex-integrante Lourenço Baeta recebeu o gramofone dourado em nome do grupo, que está em hiato. O disco foi gravado em 2011, mas só foi lançado no ano passado.
No Brasil “Pasieiros” foi lançado apenas nas plataformas digitais e ganhou uma versão em português, batizada de “Parceiros”, em que as canções do artista panamenho surgiram com versões assinadas por Zeca Baleiro, Nei Lopes, Ivan Santos, Fausto Nilo e Lourenço Baeta.
Famoso por seu disco de estreia de 1979, um dos grandes sucessos da música independente brasileira, dos hits “Toada” e “Quem tem a viola”, o Boca Livre se viu em turbulências em 2021, quando Zé Renato, integrante desde a primeira formação, em 1978, e Lourenço Baeta, que entrou em 1980, deixaram o quarteto por divergências políticas com Maurício Maestro, um dos fundadores. Dias mais tarde, David Tygel, outro dos fundadores, também deixou o grupo, que desde então está parado.
Alinhado com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o filósofo Olavo de Carvalho (razão do afastamento em relação aos outros integrantes), Maurício segue como o detentor da marca Boca Livre.
Performances
O Grammy Awards é uma das, senão a maior, noite da música a cada ano. A cerimônia de 2023 não foi diferente.
Durante uma noite em que a história foi feita, incluindo Beyoncé se tornando a maior vencedora do Grammy de todos os tempos, com 32 gramofones e Viola Davis alcançando o status de uma EGOT, ou seja, uma artista que já venceu os prêmios Oscar (cinema), Tony (teatro), Emmy (TV) e Grammy (música). O 65º Grammy também teve muitas apresentações excelentes.
De Steve Lacy se conectando com Thundercat em “Bad Habits” às rimas intermináveis de Jay-Z em “God Did” do DJ Khaled, a transmissão teve algumas apresentações inesquecíveis. Aqui estão as cinco apresentações favoritas da reportagem.
Stevie Wonder lidera tributo à Motown
Com Berry Gordy e Smokey Robinson recebendo o prestigioso prêmio MusicCares, o legado da Motown Records foi celebrado com uma performance liderada pela lenda Stevie Wonder. O 25 vezes vencedor do Grammy liderou a homenagem com um medley, acompanhado por WanMor (também conhecido como o quarteto de filhos cantores do cantor Boyz II Men, Wanya Morris) para The Temptations, “The Way You Do the Things You Do”. Então, Robinson subiu ao palco para fazer um dueto em sua co-composição com Wonder, “Tears of a Clown”. A apresentação atingiu o clímax quando o cantor country Chris Stapleton fez um dueto em “Higher Ground” com Wonder.
Lizzo diz que “já era hora” de todos nós nos sentirmos “especiais”
A cantoraLizzo levaria para casa o recorde do ano de 2023 por seu single da Billboard Hot 100, “About Damn Time”. Mas no início da noite, ela cantou seu disco de sucesso no palco do Grammy. Saindo em silhueta antes que as luzes se acendessem para revelá-la em um vestido preto com espartilho, ela cantou sua música de sucesso, bem como a faixa-título de seu álbum, “Special”. Um coro acompanhante ajudou a fundir as duas músicas para criar um momento verdadeiramente inclusivo.
Quavo homenageia a memória de Takeoff
Loretta Lynn e Christine McVie, do Fleetwood Mac, receberam homenagens comoventes durante o segmento “In Memoriam”, que homenageou membros da indústria da música que morreram no ano anterior. Talvez a parte mais emocionante da homenagem tenha vindo do rapper Quavo, dos Migos. Em homenagem a seu falecido companheiro de grupo e sobrinho Takeoff, que foi morto em novembro, ele tocou seu disco de homenagem, “Without You”, enquanto a corrente de Takeoff estava pendurada em um microfone vazio no palco. O coletivo gospel Maverick City Music, que ganhou quatro Grammys durante a noite, se apresentou atrás dele, incorporando uma versão comovente de Charlie Puth e “See You Again” de Wiz Khalifa.
Mary J. Blige abraça o amor próprio com “Good Morning Gorgeous”
Mary J. Blige, nove vezes vencedora do Grammy, recebeu sua primeira indicação para Álbum do Ano por “Good Morning Gorgeous (Deluxe)”. Com a faixa-título refletindo sobre sua jornada para alcançar o amor próprio e a autoaceitação, Blige subiu ao palco do Grammy parecendo uma majestosa majestade da música. Vestida com um vestido de lantejoulas douradas, botas de cano alto e um chapéu preto de abas largas, Blige deu ao público sua emoção crua e realeza que a consagraram.
Grammy celebra os 50 anos do hip-hop
Por 50 anos, o hip-hop tem sido um presente para o mundo da música. O tributo ao hip-hop foi a maior apresentação da noite — literalmente. Com mais de 20 artistas se apresentando, apoiados por vários dançarinos de fundo vestidos com agasalhos da Adidas, o segmento com curadoria da Questlove destacou várias gerações de artistas de hip-hop. abrindo com Grandmaster Flash e Melle Mel, e progredindo através de apresentações de Run-DMC, LL Cool J e Salt-N-Pepa, a apresentação levou ao público uma breve história do hip-hop. Uma cronologia não oficial do gênero até hoje e também apresentou clássicos como “UNITY” de Queen Latifah, “Buddy Remix” de De La Soul e “Lose Control” de Missy Elliott, terminando com uma passagem musical da tocha para artistas mais novos como GloRilla e Lil Baby .
Evento dentro do evento
O evento MusiCares #PersonsOfTheYear 2023 Personagens do Ano 2023 repleto de estrelas destacou a missão @MusiCares e homenageou as lendas da gravadora norte-americana Motown, fundada por Berry Gordy, em Detroit, cidade industrial e muito violenta dos Estados Unidos. Stevie Wonder e Smokey Robinson subiram ao palco e fizeram um show incrível lembrando hists da icônica gravado de soul music e pelas conquistas que mudaram a cultura musical para sempre.
Erasmo Carlos e Gal Costa homenageados
Nas tradicionais homenagens In Memoriam, relembrando os artistas que se foram desde a última edição, houve citação a Erasmo Carlos e Gal Costa. O momento emotivo teve início com Kacey Musgraves cantando “Coal Miner’s Daughter”, música de Loretta Lynn, primeiro nome que apareceu no telão. Houve ainda mudanças de ritmo mostrando um vídeo de Jeff Beck cantando, depois com o rapper Quavo e o Maverick City Music, destacando Takeoff, cantor que integrava o trio Migos, com David Crosby e, por fim, uma apresentação conjunta de Sheryl Crow, Bonnie Raitt e Mick Fleetwood.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.