BID libera crédito de 1,2 bilhão de dólares para socorrer a cadeia produtiva brasileira

Os recursos ficarão disponíveis por dez anos para atender projetos de desenvolvimento rural que se enquadrem no plano estratégico 2020-2031 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Fazenda Vitória Régia , no Sul do Pará, faz a integração pecuária-agricultura

Continua depois da publicidade

Brasília – Numa conjunção de fatores que preocupa os agricultores de Brasil, como quebra de safra no Sul, eventos climáticos extremos no Nordeste, explosão de preços dos fertilizantes devido à guerra Rússia-Ucrânia, uma boa notícia chega com o anúncio da assinatura de um termo de cooperação entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o governo brasileiro, para destinar US$ 1,2 bilhão (R$ 5,86 bilhões, cotação de hoje) ao financiamento de projetos de desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas agropecuárias.

A linha de crédito poderá ser utilizada por entes do governo federal e também estaduais. Instituições financeiras que atuem como intermediárias com o setor privado e atendam as normas da Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) também terão acesso aos recursos.

Os recursos ficarão disponíveis por 10 anos para atender projetos de desenvolvimento rural que se enquadrem no plano estratégico 2020-2031 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Segundo os termos do acordo, “serão atendidas as áreas de defesa e inovação agropecuária — incluindo pesquisa, assistência técnica e extensão rural —, regularização fundiária e ambiental, além de sustentabilidade ambiental e resiliência às mudanças climáticas”, disse o governo, por meio de uma nota conjunta do Mapa e do Ministério da Economia.

De acordo com a nota conjunta, o primeiro programa a ser contemplado será Programa de Apoio ao Desenvolvimento Agropecuário do Nordeste (AgroNordeste), que receberá US$ 230 milhões.

Por intermédio do AgroNordeste, serão irrigados com recursos projetos que envolvam o fortalecimento econômico das cadeias agropecuárias nordestinas, como a ampliação da área livre de moscas-das-frutas, no Rio Grande do Norte e no Ceará, e a consolidação da Área de Proteção Fitossanitária de moscas-das-frutas, no Vale do São Francisco. As duas regiões são grandes exportadores de fruto para o mercado internacional.

Desafios

O ano de 2022 será desafiador para o agro no Brasil e no Mundo após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro. A forte seca que atingiu nos últimos meses os três estados do Sul e o Mato Grosso do Sul, bem como a chuva torrencial no Nordeste começaram a apresentar a conta. Estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apontam, até o momento, uma quebra de 25,2 milhões de toneladas na produção de grãos nessas regiões por causa da estiagem. Neste pacote, estão soja, arroz e as primeiras safras de milho e feijão semeadas nos três Estados do Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) e no Mato Grosso do Sul.

A oferta mais apertada de alimentos já bateu nos preços ao produtor e começa a chegar no prato do brasileiro e nos índices de inflação. Em janeiro, a alta dos alimentos respondeu sozinha por 43% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 0,54%, a medida oficial de inflação. Também em janeiro, o valor da cesta básica de alimentos apurada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) subiu em 16 de 17 capitais.

Estimativas da CNA feitas com base na mais recente projeção de safra da Conab de fevereiro e em dados fornecidos pelas federações estaduais de agricultura apontam que o maior impacto da seca é na soja, com uma perda de 19 milhões de toneladas nos três estados do Sul e no Mato Grosso do Sul.

Em seguida vem o milho da primeira safra, com 5,2 milhões de toneladas, o arroz com quase um milhão de toneladas e o feijão da primeira safra, com 125 mil toneladas. Apesar de irrigado, o cultivo do arroz no Rio Grande do Sul depende da água dos rios que estão afetados pela estiagem.

De acordo com a estimativa da Conab, a safra total de grãos do País para este ano deve atingir 268,2 milhões de toneladas. Serão 22,8 milhões de toneladas a menos do que as projeções iniciais de dezembro, de 291 milhões de toneladas. Mas, mesmo assim, um volume maior do que a safra do ano passado, de 252,7 milhões de toneladas.

Como o Brasil é o maior exportador do mundo de algumas das mais negociadas commodities agrícolas, uma quebra de safra no país vai afetar o preço de alimentos globalmente.

A guerra na Ucrânia é uma das incertezas e preocupação do governo e dos maiores produtores do agro nacional. O Brasil tem atualmente estoque de fertilizantes para os próximos três meses, informou a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), citando dados de agentes de mercado. “O volume atual encontra-se acima da média dos anos anteriores”, disse a Anda, entidade que representa a indústria brasileira de fertilizantes.

Os preços dos fertilizantes já subiram 30% no mercado internacional e há uma busca frenética por fornecedores, e como a guerra envolve ações diplomáticas, a chancelaria brasileira está trabalhando em comum acordo com os Ministérios da Economia e da Agricultura e estudam apresentar nos organismos multilaterais a proposta de retirar das sanções impostas à Rússia a proibição de embarques de fertilizantes para seus clientes internacionais.

De acordo com dados da Anda, o Brasil importa cerca de 9 milhões de toneladas por ano de insumos para fertilizantes do Leste Europeu. Ou seja, em torno de 25% de tudo o que compramos é do exterior.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.