Bois gêmeos dizigóticos vencem Festejo Junino em Marabá

Eles vieram de Parintins-AM, capital nacional do Boi Bumbá, e defenderam na arena a hegemonia do Estrela Dalva

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O boi-bumbá Estrela Dalva foi o grande campeão do 33º Festejo Junino organizado pela Prefeitura de Marabá. A vitória veio com méritos, resultado da inovação dos organizadores, que levaram para a arena instalada na Orla do Rio Tocantins, no Bairro Santa Rosa, dois bois gêmeos dizigóticos. O que é isso? Dê uma clicada no Google e você saberá que a gestação dizigótica é aquela em que dois óvulos são fecundados por dois espermatozoides, resultando em dois bebês com características genéticas distintas. Pode ser cor dos olhos, pele, cabelo. Isso é raro, mas pode acontecer.

E essa raridade foi levada pelo Estrela Dalva ao Bumbódromo com um boi de couro negro e outro em tom branco. O Estrela desbancou os concorrentes nos itens “beleza”, “criatividade”, “simpatia”, “originalidade” e “carisma”. Mas também se destacou com toada, levantador de toadas, batuque da marujada, cunhã-poranga, pajé e coreografia de um modo geral.

Mestre Genival Alves de Almeida, 59 anos de idade, é o criador do boi-bumbá Estrela Dalva. Ele revela que começou a dançar boi com 8 anos de idade na cidade de Bacabal e depois em Pedreiras, ambas no Maranhão. Em 1987 foi morar em Imperatriz, no mesmo Estado, onde criou um boi-bumbá e colocou o nome de Estrela Dalva. Em 1991 mudou-se para Marabá e formou novo boi, mas com a mesma denominação.

Desde então, disputando o Festejo Junino da Prefeitura, o Estrela Dalva já conquistou 14 títulos de campeão, sem contar as competições que venceu em municípios vizinhos, sempre no mês de junho.

DA FRAQUEZA, A FORÇA

Quando questionado sobre o custo para levar um boi à arena e contagiar o público, Mestre Genival revela que os valores são altos, muito além do que ele conseguiria ganhar como fotógrafo (sua profissão). “Mas fazemos da fraqueza a força”, sintetiza.

Primeiro vem a origem dos bois. Eles foram adquiridos em Parintins, Amazonas, cidade que ficou famosa pelos bois Caprichoso e Garantido e que se especializou na confecção de “animais” estilosos e com movimentos específicos de cabeça, orelhas, rabo e até soltam fumaça. Genival revela que cada boi sai por uma média de R$ 3.500,00, porque envolve uma logística complexa, com transporte por navio, e depois via rodoviária até chegar a Marabá.

As fantasias também demandam custo muito alto e Mestre Genival diz que ele os demais membros da diretoria do Estrela Dalva passam “vergonha” pedindo ajuda para comerciantes e empresários. A ajuda da Prefeitura (R$ 6.000,00) é sempre bem vinda, diz ele, mas reconhece que o município não pode arcar com todas as despesas dos grupos que participam do evento. “Todo ano precisamos de, no mínimo, R$ 25.000,00. Temos 120 pessoas que levamos para a arena e vestir a todos de forma adequada carece de um bom investimento, o que lamentavelmente nós não temos”, desabafa.

Para a produção das indumentárias, as plumas também levam uma grande fatia do custo de um boi-bumbá, que são adquiridas em São Luís-MA. “Os preparativos começam no final do mês de abril, depois que a coordenação realiza bingos, rifas. Nunca tivemos patrocínio de empresa, apenas ajudas isoladas de algumas pessoas”, conta Mestre Genival.

O vice-campeão do 33º Festejo Junino foi o boi-bumbá Brilho da Noite, seguido por Flor do Campo. As apresentações de todos eles foram superiores às do ano passado, mas o trio sofre do mesmo problema: dificuldade de captação de recursos para financiar as atividades culturais.

O PESO DO BOI

Cada boi do Estrela Dalva pesa cerca de 15 quilos e o dançador precisa ser resistente para aguentar esse peso durante 30 minutos ininterruptos, fazendo movimentos frenéticos durante boa parte desse tempo. Há dois dançadores escalados como titulares, mas sempre ficam outros dois como reservas, para uma eventualidade como lesão. “A arena é muito grande e resolvemos colocar dois bois ao mesmo tempo para que o público não se sinta muito distante dele. Dançam juntos no início, mas depois saem percorrendo a arena em sentido inverso, para animar a galera”, explica.

E AS MÚSICAS?

Durante os 30 minutos de apresentação, o boi-bumbá Estrela Dalva utiliza 12 canções. Algumas delas são compostas pelo próprio Mestre Genival, mas a maioria vem do Maranhão. “Um amigo lá de Pindaré mandou um CD cheio de músicas para mim, só coisa linda. Usei várias este ano”, revela Genival.

E os muitos personagens que compõem o boi-bumbá não são apenas figurantes. Há uma história que é contada na arena, com uma “guerra” que envolve Pai Francisco, Mãe Katirina, Kazumbás, vaqueiros, rajados, índias, bois, morcego, burrinhas e o próprio boi, objeto de desejo dos grupos antagônicos.

Ulisses Pompeu – de Marabá