O Pará é um dos estados brasileiros com a população mais empobrecida e dependente do Bolsa Família, um socorro do Governo Federal para auxiliar cidadãos em situação de vulnerabilidade social. De janeiro a novembro do ano passado, 926,5 mil famílias paraenses receberam R$ 2,1 bilhões, que irrigaram a economia dos 144 municípios do estado, mesmo em municípios tradicionalmente conhecidos pela geração de riqueza, emprego e renda.
As informações foram levantadas com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que analisou os indicadores mais recentes do Bolsa Família disponibilizados pelo Ministério da Cidadania. Os números revelam que, fora da capital, Belém, onde há 115,5 mil famílias dependentes do benefício, os campeões por quantidade de famílias são Abaetetuba (33,8 mil), Ananindeua (30,2 mil), Santarém (27 mil), Cametá (18,9 mil), Breves (16,7 mil), Moju (15,4 mil) e Bragança (15,2 mil).
Eles também foram os que mais faturaram em volume de recursos nos 11 meses do ano reportados pelo Ministério da Cidadania. A metrópole paraense recebeu R$ 206,75 milhões, sendo seguida por Abaetetuba, onde foram despejados R$ 77,31 milhões às famílias cadastradas. Santarém (R$ 59,96 milhões), Ananindeua (R$ 52,32 milhões), Breves (R$ 45,44 milhões), Cametá (R$ 45,36 milhões), Moju (R$ 36,43 milhões) e Bragança (R$ 33,61 milhões) também receberam valores expressivos.
Valor distribuído revela pobreza
Embora alguns municípios sejam campeões em número de famílias dependentes do Bolsa Família e em valor total recebido ao longo de 2019, há um terceiro indicador que revela o quão agressivo está o empobrecimento de algumas localidades. É o valor médio repassado, que é calculado pela divisão dos recursos pelo número de famílias. Quanto mais alto o valor médio, mais pobre é o município.
No estado, há pelo menos 20 lugares cujas famílias receberam mais de R$ 3 mil durante o ano passado, o que dá uma média de mais de R$ 270 por mês. Os mais pobres estão na Ilha do Marajó, uma das regiões com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, e quem puxa a fila é Gurupá, onde as pouco mais de 5.900 famílias dependentes do Bolsa Família receberam em média R$ 3.819 no ano. Almeirim (R$ 3.590), Porto de Moz (R$ 3.585) e Anajás (R$ 3.563) também rompem a média de R$ 3.500 em benefícios.
Esse é um panorama cruel que dá uma prévia do que o recenseamento geral da população irá encontrar nos rincões do Pará: a permanência acentuada das mazelas e, por conseguinte, da transferência de renda, já que a população que era carente no censo de 2010 segue sendo e sobrevivendo — sem trabalho e renda — à custa de programas sociais da União. Nesse aspecto, o Marajó deve, mais uma vez, aparecer em cenário nacional como uma das regiões mais subdesenvolvidas do país, totalmente alheia a políticas públicas de desenvolvimento do estado.
No outro extremo, os municípios mais socialmente organizados têm famílias que receberam apenas metade do benefício dos lugares mais pobres. Tucumã, no sul do Pará, é o lugar que apresentou a menor média. Lá, cada uma das pouco mais de 1.700 famílias recebeu no ano passado algo em torno de R$ 1.590 — cerca de R$ 145, considerando-se o período de janeiro a novembro. Médias baixas também foram registradas em Castanhal (R$ 1.618), Ananindeua (R$ 1.734), Santa Izabel do Pará (R$ 1.765), Parauapebas (R$ 1.777) e Belém (R$ 1.790).