Bolsonaro a um passo da filiação no partido Patriota

Ala histórica vai ao TSE para impedir
O presidente da República, Jair Bolsonaro| Foto: Divulgação/Palácio do Planalto

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Brasília – Ao endossar a ficha de filiação do senador Flávio Bolsonaro (RJ), que ingressou no Patriota durante convenção da sigla, realizada nesta segunda-feira (31), o presidente nacional do partido, Adilson Barroso, afirmou que o convite também havia se estendido ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo Barroso, o presidente pretende se filiar à legenda nos próximos dias, “sem pedir uma bala” em troca.

No encontro, Flávio afirmou que, com a chegada do seu pai, o Patriota será um partido maior que o PSL. “Agora, com Bolsonaro na Presidência da República, não tenho dúvida que a gente pode construir um partido maior ainda que o PSL,” disse. Na semana passada, Flávio saiu do Republicanos.

Ala do Patriota vai ao TSE para frear articulação

Apesar da filiação do senador Flávio Bolsonaro (RJ) e da sinalização de filiação do presidente Jair Bolsonaro ao Patriota, uma ala do partido recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para frear as articulações. O grupo, ligado ao vice-presidente da sigla, Ovasco Resende, acusa Adilson Barroso de alterar o estatuto partidário e destituir diretórios regionais para abrigar aliados de Bolsonaro.

Em edital de convocação nacional do partido, publicado no último dia 26, Adilson Barroso chamou os integrantes da sigla para, entre outros temas, deliberarem sobre a filiação partidária de novos membros. A reunião ocorreu nesta segunda-feira (31), no município de Barrinha, no interior de São Paulo.

Conforme a petição protocolada no TSE, o grupo acusa Adilson Barroso de substituir ao menos quatro delegados e criar outros três para conseguir maioria para aprovação da filiação do presidente Bolsonaro. Pelo estatuto do Patriota, candidatura majoritária à presidência precisa ser aprovada por toda a executiva do partido.

“… sabendo-se que o Exmo. Sr. Presidente da República Jair Bolsonaro tem pretensões à reeleição e busca acomodar diversos apoiadores e mandatários, compete à convenção nacional do Patriota decidir democraticamente se o partido terá candidatura presidencial própria em 2022 e, em caso positivo, se é vontade da maioria que o candidato seja o Exmo. Sr. Presidente da República Jair Bolsonaro e que seus apoiadores ocupem posições no Patriota,” diz a petição protocolada no TSE.

Segundo o secretário-geral do Patriota, Jorge Braga, os integrantes dos partidos não são contrários à possível filiação do presidente Bolsonaro, mas sim à forma como a negociação foi feita. “O Bolsonaro sempre tratou com o Adilson e não com o partido. Os integrantes sempre quiseram conversar para saber quais seriam as exigências para essa filiação,” afirmou à imprensa.

Ainda de acordo com o secretário-geral, na convenção que ocorreu nesta segunda-feira, o presidente do Patriota aprovou um novo estatuto para o partido. “Com essa maioria fictícia, ele simplesmente aprovou um estatuto com o povo dele, sem ninguém estar lá e sem ninguém discutir,” completou.

Braga alega que a executiva era composta por 49 membros com direito a voto, sendo que 29 delegados eram ligados ao vice-presidente Ovasco Resende e 20 ligados a Adilson Barroso. Com as supostas manobras regimentais, o presidente do Patriota teria conseguido o apoio de 27 delegados para a aprovação do novo estatuto.

Além da petição no TSE, um boletim de ocorrências foi aberto na Polícia Militar de São Paulo.

“Se vocês [opositores] pegassem o partido, ele [Bolsonaro] não vinha nem se desse o mundo para ele. Mas graças a Deus ele vem hoje para o partido por causa da amizade sem pedir uma bala,” disse Adilson Barroso durante a convenção.

Bolsonaro chegou a anunciar no fim de 2017 que iria se filiar ao Patriota para disputar as eleições de 2018. Mas, devido a desentendimentos com Adilson Barroso naquela ocasião, acabou desistindo do Patriota para ingressar no PSL – sigla pela qual acabou se elegendo para a Presidência.

Durante o atual mandato, o presidente brigou com a cúpula do PSL e se desfiliou da legenda. Após isso, tentou criar uma do zero: a Aliança pelo Brasil. Mas o novo partido nem chegou a conseguir seu registro no TSE.

A partir daí, Bolsonaro começou a sondar uma série de partidos para se filiar. Até recentemente, a opção mais viável era o PRTB – partido nanico, assim como o Patriota. Mas as negociações com a cúpula da legenda não avançaram.

Nas últimas semanas, as principais apostas eram de uma volta de Bolsonaro ao PSL ou a escolha do PP. Ambos os partidos são muito mais bem estruturados do que o Patriota, além de contarem com dinheiro do fundo eleitoral e partidário e com tempo de televisão na propaganda eleitoral gratuita. Mas o problema de ingressar em uma legenda grande é que Bolsonaro não conseguiria controlar o partido – o que é mais fácil numa sigla pequena.

Por Val-André Mutran – de Brasília