Bolsonaro replica no plano nacional o protagonismo do MDB no Pará

O MDB elegeu, um senador, nove deputados federais e 13 estaduais no Pará. Bolsonaro emplacou 20 senadores e a maior bancada na Câmara dos Deputados
Ao fundo, o Palácio do Congresso Nacional

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Brasília – O rolo compressor comandado pelo governador Helder Barbalho, que apoiou as candidaturas de seus correligionários, venceu a disputa para a única vaga ao Senado, elegeu majoritariamente, com larga vantagem, as vagas que renovaram a composição da Assembleia Legislativa do Pará e a Bancada Federal, na Câmara dos Deputados. No campo nacional, o fenômeno foi replicado pelo PL, do presidente Jair Bolsonaro.

Na noite de domingo (2), durante a apuração das urnas, constatou-se uma avalanche de novos senadores eleitos com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, que saiu vitorioso com a confirmação de 20 candidatos eleitos para 27 vagas no Senado. O fenômeno da avalanche conservadora acendeu o “sinal vermelho” nos gabinetes do STF e no comando nacional do PT.

Mas, não foi só isso. O partido do presidente consolidou nestas eleições a posição de maior bancada da Câmara dos Deputados, com crescimento dos 76 deputados atuais para 99 na próxima legislatura. Isso significa que, se Lula for eleito, ele terá dificuldades logo no primeiro dia de governo, não conseguirá eleger as Mesas Diretoras nas duas Casas federais, muito menos terá votos para aprovar, por exemplo, as reformas que está prometendo na campanha e nem sequer aprovará um projeto emenda constitucional, que precisa de quórum qualificado para virar norma.

A Bancada Conservadora sai com vitória maiúscula das urnas. Dos 27 novos senadores, 20 foram apoiados pelo presidente ou têm simpatia por ele. O vice Hamilton Mourão e cinco ex-ministros vão compor a bancada.

Prioridades

Com a maioria dos votos do Senado, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) entenderam imediatamente o recado das urnas e já não resta qualquer dúvida que o grupo de apoio ao presidente vai avançar em certas prioridades na Casa Revisora, tais como: destravar imediatamente a tramitação de projetos de interesse do governo, como o novo marco legal de regularização fundiária no Brasil, Marco Temporal de Demarcação de Terras Indígenas e exploração comercial das mesmas, permitir o porte de arma a cidadãos de bem, aprovação da Reforma Administrativa, Tributária e o “terror dos ministros ativistas”: a abertura de um processo de impeachment para afastar ministros que rasgam diariamente o que está escrito na Constituição.

Força política

O bolsonarismo emergiu das urnas, como uma das forças do Congresso para a próxima legislatura. Dos novos 27 eleitos que vão compor 1/3 do Senado, nada menos que 20 têm alguma ligação ou simpatia pelo atual presidente da República e candidato à reeleição.

Além de cinco ex-ministros e um secretário com estreita ligação com o Palácio do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) conquistou uma das cadeiras na Casa dos estados como representante do Rio Grande do Sul. Na Câmara, o Centrão também chega turbinado, sobretudo pela bancada eleita pelo PL.

Chama atenção a eleição, para o Senado, de dois fieis bolsonaristas: Damares Alves (Republicanos), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, que ficou com a única cadeira destinada ao Distrito Federal, e Marcos Pontes (PL), ex-ministro da Ciência e Tecnologia, que passa a integrar a bancada paulista e figurava, de modo criminoso pelos institutos de pesquisa, em terceiro lugar, ao longo de dois meses, como 3º colocado nos levantamentos dessas empresas. Os dois desmentiram as pesquisas de opinião e surpreenderam: enquanto ela tirou uma vaga que era tida como certa para a também ex-ministra Flávia Arruda (PL), o ex-astronauta despachou o ex-governador Márcio França (PSB) — que também era apontado nas sondagens junto ao eleitorado como praticamente eleito.

Embora tenha saído do governo Bolsonaro acusando o presidente de interferir no trabalho da Polícia Federal (PF), Sergio Moro (União Brasil) retorna à cena política agora como senador eleito pelo Paraná com o discurso anti-PT e anti-Lula, e com acenos a Bolsonaro — como aconteceu nos últimos dias antes da eleição. O ex-secretário da Pesca Jorge Seif Jr., que era um frequentador assíduo das lives do presidente no Palácio do Planalto, agora é um dos três representantes de Santa Catarina no Senado.

Já Rogério Marinho (PL), ex-ministro do Desenvolvimento Social, e Tereza Cristina (PP), que comandou a pasta da Agricultura, eram nomes fortes para aumentar a bancada conservadora na Casa dos estados. Um tinha as obras no Nordeste como credencial para conquistar a vaga, outra era ungida pelo agronegócio, onde realizou um dos mais brilhantes trabalhos de um ministro nessa área vital da economia nacional.

O bolsonarismo também está representado em personagens que jamais ocuparam cargos no primeiro escalão do governo, mas que são expoentes do conservadorismo. O Rio de Janeiro, por exemplo, reelegeu Romário, que reforça a bancada fluminense do PL na Casa. No Espírito Santo, o pastor neopentecostal Magno Malta (PL) — que na eleição de Bolsonaro, em 2018, tinha a convicção de que ocuparia algum cargo no governo — volta à Casa da qual saiu quatro anos atrás. O ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil) foi reeleito pelo Amapá e sempre contou com o apoio do Palácio do Planalto. Alcolumbre teve uma reeleição muito difícil no Amapá.

Lulistas

No extremo oposto, os apoiadores ou simpáticos ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que emergiram das urnas rumo ao Senado são somente sete: Renan Filho (MDB-AL), Flávio Dino (PSB-MA), Otto Alencar (PSD-BA), Camilo Santana (PT-CE), Beto Faro (PT-PA), Tereza Leitão (PT-PE) e Wellington Dias (PT-PI).

Avalanche na Câmara dos Deputados

Das 513 cadeiras na Câmara dos Deputados, o PL conseguiu preencher 99. A Federação Brasil da Esperança, formada por PT, PCdoB e PV, terá a segunda maior bancada da Casa, com 80 parlamentares. Em terceiro lugar está o União Brasil, com 59. O PP elegeu 47 deputados, MDB e PSD fizeram 42 cada e o Republicanos, 41.

O PSDB é um partido condenado a desaparecer do mapa político e está federado com o Cidadania — um sinal de sua agonia. Junto a legendas de esquerda processo semelhante ocorreu nessas eleições, como PDT e PSB, essas siglas elegeram bancadas modestas: fizeram, respectivamente, 18, 17 e 14 deputados. No Pará, desde 2014 o PDT não consegue eleger um deputado federal e o PSB, perdeu o único federal que tinha. O PSDB também perdeu seu único deputado na Câmara e o Cidadania, há três legislaturas não tem representante eleito pelo Pará.

Com esse resultado, as três legendas do Centrão, que compõem a base aliada de Bolsonaro — PL, PP e Republicanos —, conseguiram fazer 187 deputados federais e 23 senadores. Apesar de divergências com quadros importantes do União Brasil, como a candidata à Presidência pela legenda Soraya Thronicke (MS), o presidente deve contar com apoio da maioria da legenda, que elegeu 59 deputados e terá 12 senadores em 2023.

Já as esquerdas formam um grupo com 125 deputados federais. No Senado, os partidos desse espectro ideológico têm 13 parlamentares.

No caso de MDB e PSD, duas siglas que costumam acompanhar o ocupante do Palácio do Planalto, ambas totalizam 84 deputados federais e têm 10 senadores cada.

Com a nova configuração que representa a vontade popular, será quase impossível o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ter qualquer chance de se reeleger presidente da Casa, que também é o presidente do Congresso Nacional.

Ao longo da semana o Blog do Zé Dudu fará análises mais aprofundadas do resultado dessas eleições históricas em resultados e recados enfáticos dos eleitores.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.