Bolsonaro troca “seis por meia dúzia” e preços dos combustíveis atinge novo recorde

A escalada de preços dos combustíveis turbinou alta da inflação. O presidente não consegue remover o obstáculo que pode lhe tirar votos na corrida à reeleição
Proprietários de veículos estão deixando o carro na garagem devido o alto custo do combustível

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Brasília – O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) não consegue estancar as sucessivas altas nos preços dos combustíveis cobrados pela Petrobras, que justifica os aumentos pelos mais variados fatores, dentro de “combo” atrelado à sua política de reajustes

Ao substituir o presidente da estatal e do Conselho Deliberativo da Empresa, Bolsonaro trocou “seis por meia dúzia”, e segue perdendo milhares de eleitores diariamente. Não há melhor notícia para a oposição explorar do que a falta de competência do presidente para equacionar a questão em ano eleitoral.

O preço da gasolina nos postos brasileiros subiu pela terceira semana seguida e atingiu novo recorde desde que a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) passou a divulgar sua pesquisa semanal de preços, em 2004.

Segundo a agência, o preço médio do combustível ficou em R$ 7,270 por litro na semana passada, alta de 0,7% em relação à semana anterior. O valor é superior ao pico de R$ 7,267 verificado duas semanas após o mega-aumento nas refinarias promovido pela Petrobras em março e que levou o presidente a substituir o comando da petroleira.

A justificativa ao mercado desta vez dado pela estatal é de que a alta acompanha a escalada da cotação do etanol anidro, que representa 27% da mistura vendida nos postos. Apenas em abril, o preço do biocombustível nas usinas de São Paulo subiu 12%, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.

O etanol hidratado segue o mesmo caminho: na semana passada, o preço médio do combustível nos postos brasileiros chegou a R$ 5,496 por litro, alta de 4,8% em relação à semana anterior. Nas usinas, o produto também acumula alta de 12% em um mês.

A escalada dos preços do etanol é provocada pelo aumento da demanda em um período ainda de entressafra. Os usineiros projetavam recuo com o início da colheita este mês, mas ainda não houve mudança de tendência.

A pesquisa da ANP detectou estabilidade nos preços do diesel e do gás de cozinha. O primeiro foi vendido na semana passada por R$ 6,60 por litro e o segundo, por R$ 113,24 por botijão de 13 quilos. Os dois produtos também foram reajustados pela Petrobras em março.

O reajuste, que acompanhava a escalada das cotações internacionais após o início da guerra na Ucrânia, levou a uma conturbada troca de comando na Petrobras, com a demissão do general Joaquim Silva e Luna e a nomeação de José Mauro Coelho para seu lugar. Ficou tudo como era antes e a troca não fez sentido algum para a população, apenas desgastou a imagem da empresa na avaliação dos investidores.

As ações da Petrobras estão em baixa há três semanas seguidas. Ao lado das ações da Vale, também em baixa e dos grandes bancos, igualmente com perdas, o conjunto desses papéis, somados é o principal componente da formação do índice da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo.

Ao assumir o comando da Petrobras, porém, Coelho defendeu a política de alinhamento dos preços dos combustíveis às cotações internacionais, que é criticada tanto pela oposição quanto pelo governo e seus aliados no Congresso.

O gás de cozinha, porém, teve pequena redução nas refinarias em abril, movimento que ainda não chegou ao consumidor final, de acordo com os dados divulgados na terça-feira (26) pela ANP. O aumento vem a galope e é imediato, e a baixa quase nunca chega ao bolso do consumidor, tornando o Brasil uma piada de mau gosto internacional. “Terra de ninguém”, criticam os gringos.

O preço do GNV (gás natural veicular) também permanece em alta, chegando a R$ 4,754 por metro cúbico, aumento de 0,2% em relação à semana anterior. A pesquisa da ANP encontrou o combustível sendo vendido a até R$ 6,821 em Brasília.

Aumento dos combustíveis impacta diretamente na produção de alimentos forçando a alta da inflação

O fantasma do desemprego

O assunto é principal dor de cabeça do chefe do Executivo que pleiteia um novo mandato. A escalada dos preços dos combustíveis é fatal em ano eleitoral. O efeito dominó é incontrolável e desestabiliza todos os setores da economia.

Por lei, a gasolina vendida nos postos deve ter 27% de etanol anidro, enquanto o diesel deve conter 10% de biodiesel. Isso significa que, no campo, as máquinas utilizadas no plantio e colheita das lavouras experimentam desde o início do ano o gosto amargo da explosão de custos de produção. O repasse ao consumidor é inevitável.

Os preços dos alimentos não param de subir e a inflação é o principal incômodo do eleitor porque ameaça diariamente o poder de compra dos salários, já defasados e trás de volta o pior fantasma do trabalhador: o desemprego.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.