Embora não figure na lista de países com as maiores reservas, o Brasil, em um ano, pode se tornar, o 4° maior produtor de lítio do mundo, subindo uma posição no ranking atual. É o que diz o Gestor de Renda Variável da Ace Capital, Tiago Cunha. Houve um aumento da produção do minério na América Latina.
Há um incentivo cada vez maior à produção de veículo e utilitários que não dependam de combustíveis fósseis, gerando uma grande oportunidade para a América Latina. Com quase 60% das reservas globais de lítio, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a região pode despontar como área estratégica para a fabricação de baterias dos carros elétricos.
Na nova corrida para a produção de carros — elétricos —, o mercado global deve atingir venda anual de 40 milhões a 50 milhões de unidades em 2030.
Há, no entanto, uma questão a ser resolvida nesse setor, que são os riscos ambientais trazidos pelo método de extração, o que tem fomentado um debate sobre como mitigá-los, segundo analistas do setor.
A Argentina, a Bolívia e o Chile formam o chamado “Triângulo do lítio”, com cerca de 60% das reservas globais reconhecidas do metal. Presidente e fundador da Cámara Latinoamericana del Litio, Pablo Rutigliano, diz que os países com os maiores recursos poderiam potencializar toda uma cadeia produtiva em torno do metal na região, além de integrar México, Peru e Brasil, nações também com reservas de lítio.
Dois métodos de extração
Tiago Cunha discorre sobre alguns aspectos importantes desse ramo da mineração. No “Triângulo do lítio”, o minério [lítio] é de salmoura, extraído de salares em regiões desérticas. No Brasil, o quadro é distinto, pois o lítio vem de formações rochosas, como no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Até hoje, o mercado tem domínio do lítio de salmoura, do Chile e, mais recentemente, da Argentina. Mas Cunha ressalta o quadro no Brasil.
Na avaliação dele, tem sido pouco destacado no País “o tamanho da oportunidade”. Ele nota que, em menos de um ano, o Brasil deve virar o quarto maior produtor global de lítio. Hoje, o País é o quinto maior produtor, com 2,2 mil toneladas, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME).
Essa participação deve ser elevada com os projetos em andamento no País. O ministério calcula que a produção de lítio e seus derivados pode receber investimentos de cerca de R$ 15 bilhões até 2030 apenas no Vale do Jequitinhonha. A região concentra 85% do lítio já identificado no País e vem sendo chamada de “Vale de Lítio” — área que envolve 14 municípios, uma das mais pobres do Brasil.
Segundo o MME, estimativas do Banco Mundial, mostram que a demanda global pelo minério deve aumentar quase 1.000% até 2050. “Por ser um metal leve, tem um alto potencial eletroquímico e uma boa relação entre peso e capacidade energética. Por isso, seu uso para as baterias de carros híbridos e elétricos é diferencial”, diz o órgão, em nota.
O maior projeto no Brasil é o da Sigma Lithium, empresa criada no Brasil, registrada no Canadá, inscrita na bolsa americana Nasdaq e que entrou recentemente na B3. O grupo iniciou operações comerciais em abril nas cidades de Araçuaí e Itinga, no Vale do Jequitinhonha, com investimentos de R$ 3 bilhões.
“Investimos R$ 3 bilhões no desenvolvimento tecnológico e construção de uma empresa pioneira na indústria de lítio pela escala de sexto produtor mundial e inovação industrial verde: zero uso de químicos nocivos, zero barragem de rejeitos, 100% dos rejeitos reciclados, 100% da água reutilizada no processo. Com isso, colocamos o Brasil como um dos principais fornecedores das cadeias globais de mobilidade elétrica”, conta Ana Cabral, CEO da Sigma.
Veja a íntegra da entrevista com a executiva.
Outras duas empresas que já atuam na mineração de lítio em Minas Gerais, a Companhia Brasileira de Lítio (CBL) e a AMG Brasil, têm programas de ampliação para também disputar o mercado de baterias automotivas.
Além disso, mais três grandes mineradoras internacionais estão se instalando no Vale do Jequitinhonha — a americana Atlas, a australiana Latin Resources e a canadense Lithium Ionic —, todas com projetos de produção sustentável, na linha do que vem fazendo a Sigma. Outra australiana, a Si6 Metals, adquiriu em julho 50% da Foxfire, empresa brasileira que comercializa áreas de mineração e detém ativos na região e em outros Estados. As gigantes Rio Tinto e Vale também avaliam projetos na região.
Riscos ambientais
Há ganhos potenciais, com benefício financeiro a regiões de extração. Ao mesmo tempo, existe um temor ambiental importante. Diego Cacciapuoti, economista da Oxford Economics, destaca o risco de “consequências desastrosas para a segurança da água”. Como Cunha, Cacciapuoti menciona uma ameaça em especial para o Chile, com produção localizada em uma região com alto estresse hídrico, no Deserto do Atacama.
Alec Lucas, analista de pesquisa da Global X ETFs, lembra que há uma corrida entre mineradores de lítio para desenvolver novas técnicas a fim de reduzir a pegada ambiental, com tecnologias de extração direta de lítio sem a necessidade de evaporação da água — o lítio salmoura.
Tema é destaque na eleição argentina
No domingo (19), a Argentina realiza o segundo turno presidencial, com disputa entre o governista Sergio Massa, atual ministro da Economia, e o libertário Javier Milei. Durante a campanha, o setor de lítio foi apontado como estratégico, por ser fonte de dólares e por seu potencial para crescer mais, ajudando a combalida economia local.
Um dos planos de governo do candidato Javier Milei, o de dolarizar a economia argentina, precisa de dólares, que hoje não existem nas reservas do país e qualquer projeto que incremente a entrada da moeda americana no país, facilita a concretização de seus planos, caso seja o eleito. Ele lidera, com margem considerada empate técnico, as pesquisas eleitorais.
Analistas não esperam que o resultado eleitoral signifique uma reversão nesse processo, mas destacam que cada um dos candidatos pode representar ênfases distintas para o setor em geral.
Já o candidato Sergio Massa, como fez ao longo da campanha, não detalha nenhuma de suas propostas de governo, e fala tangencialmente sobre o incremento da produção de lítio, cujo país detém a segunda maior reserva e é o 4° maior produtor do minério no mundo.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.