Brasília – A queda-de-braço travada na disputa entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o Palácio do Planalto, sobrou para o mais fraco. Abandonado pelo seu partido, Maia foi literalmente rifado nas últimas 24 horas. Abandonado pelo próprio partido que liberou a bancada em votar em quem quiser, esvaziando ainda mais o bloco de apoio ao seu candidato, Baleia Rossi (MDB-SP). Num ato de desespera, ameaça aceitar a abertura de um dos 61 pedidos de impeachment contra o presidente Bolsonaro. De quebra, disse que vai sair do Democratas.
O clima ficou pesado desde a decisão da Executiva do DEM de desembarcar do bloco de apoio à candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), indicado por Maia e a disposição do PSDB e do Solidariedade de seguir o mesmo caminho. A eleição que vai escolher a nova cúpula da Câmara e do Senado está marcada para esta segunda-feira, 1.º, a partir das 19h00.
O presidente do DEM, ACM Neto, informou a Rodrigo Maia na noite do domingo (31), de que a maioria dos deputados do partido apoiaria a candidatura de Arthur Lira (Progressistas-AL) para o comando da Câmara, e não Baleia, Maia ficou irritado. O presidente da Câmara ameaçou até mesmo deixar o DEM. A reunião ocorreu na casa dele, onde também estavam líderes e dirigentes de partidos de oposição, como o PT, o PC do B e o PSB, além do próprio MDB.
O relógio trabalha contra Maia que encerra o mandato à frente da Câmara nesta segunda-feira, 1º. O cenário está claro e praticamente definido. O DEM vai impor uma derrota às pretensões de Rodrigo Maia de fazer o seu sucessor. O que se comenta pelos corredores da Câmara é que ele já tomou a decisão de sair do partido e autorizar um dos 61 pedidos de afastamento de Bolsonaro. Integrantes da oposição que estavam na reunião apoiaram o presidente da Câmara e chegaram a dizer que ele deveria aceitar até mais de um pedido contra Bolsonaro.
No domingo (31), ACM Neto passou na casa de Maia antes da reunião da Executiva do DEM justamente para informar que, dos 31 deputados da legenda, mais da metade apoiava Lira. Pelos cálculos da ala dissidente, 22 integrantes da bancada estão com Lira, que é líder do Centrão. Se houver mais adesões de outros partidos, a eleição pode ser liquidada logo no 1º turno, caso a maioria absoluta dos votos, ou seja, 247 sejam alcançados pelo candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro.
O PSDB e o Solidariedade têm reuniões marcadas para esta segunda-feira, 1º e, diante da fragilidade da candidatura de Baleia, também ameaçam rifá-lo. “Ou mostramos força e independência apoiando claramente o Baleia ou adeus às expectativas de sermos capazes de obter alianças e ganhar as próximas eleições. Se há algo que ainda marca o PSDB é a confiança que ele é capaz de manter e expressar. Quem segue a vida política estará olhando, que ninguém se iluda”, disse recentemente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em um grupo de WhatsApp da bancada tucana.
O ex-senador José Aníbal foi na mesma linha. “O PSDB assumiu compromisso com Baleia. Espero que cumpra. De outro modo, é adesão ao genocida”, afirmou Aníbal no domingo (31).
Maia lançou a candidatura de Baleia à sua sucessão em dezembro, com o respaldo de uma frente ampla, que incluiu partidos de esquerda. Na ocasião, o líder do DEM, Efraim Filho (PB), assinou um documento no qual o partido avalizava o nome do MDB.
Diante do racha, ACM Neto atuou para amenizar a crise. Saiu da casa de Maia e foi direto para a sede do partido. Conduziu a reunião da Executiva pedindo para que o DEM ficasse oficialmente neutro. Além das ameaças de Maia, partidos de oposição afirmaram que, com o abandono de Baleia por parte do DEM, também a esquerda poderia desembarcar da candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ao comando do Senado. Até agora, Pacheco é o favorito para a cadeira de Davi Alcolumbre (DEM-AP).
O candidato do Progressistas chegou a anunciar em sua agenda que, nesta segunda, 1.º, receberia o apoio do DEM, às 9h30. A operação, porém, foi abortada por ACM Neto, que pediu aos correligionários para não humilharem Maia.
Nos bastidores, deputados comentavam neste domingo que o racha pode afastar o apresentador Luciano Huck do DEM. Huck planeja entrar na política para disputar a eleição para a Presidência, em 2022, e tem flertado tanto com o DEM como com o Cidadania ao defender uma frente de centro para derrotar Bolsonaro.
Também na manhã desta segunda, 1.º, os filhos do presidente Jair Bolsonaro, detonaram Rodrigo Maia nas redes sociais. O senador Flavio Bolsonaro disparou: “Bom dia a todos, menos para o ‘democrata’ que não sabe perder democraticamente dentro do próprio partido.
O projeto de Maia, ‘viva eu e foda-se o Brasil’, está a poucas horas de terminar.”
O Vice-Presidente, Hamilton Mourão, disse em sua conta no twitter: “Afirmo que não há nenhuma motivação para a aceitação de pedido de impeachment do nosso PR @jairbolsonaro, o qual tem trabalhado incansavelmente para superar os desafios que o século XXI impõe ao Brasil.”
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.