Brasília – Casos excepcionais como emergência médica ou compromissos inadiáveis serão a tônica que vai decidir a compra de um bilhete numa companhia aérea. Os preços de uma viagem de avião são os mais altos já praticados na história e um conjunto de fatores aponta que o cenário vai demorar para mudar. Embora As três maiores companhias aéreas do país: Azul, Latam e Gol se esforcem para restabelecer o patamar pré-pandemia nos voos domésticos até o início de 2022, tudo leva a crer que isso não será possível.
O cenário é preocupante. A velocidade da retomada está ameaçada pela alta dos custos no setor, impulsionada principalmente pela desvalorização do real frente ao dólar, que influencia os gastos das empresas com combustível, arrendamento (leasing) e manutenção de aviões.
Outras razões interferem na precificação dos preços das passagens aéreas. O país, nessa semana, entrou em recessão técnica, está previsto problemas nos fundamentos econômicos em 2022 (já prevista por bancos como Itaú e Credit Suisse) e as ainda moderadas preocupações com a variante Ômicron do coronavírus que têm o potencial de reduzir o ritmo da recuperação do fluxo de passageiros, que é mais vigorosa na aviação doméstica que na internacional.
O resultado dessa combinação de fatores deve ser o repasse de custos ao consumidor e maior cautela das empresas na ampliação da oferta de voos, o que dificulta ainda mais a queda dos preços das passagens aéreas, apontam analistas. Entre julho e setembro, o preço médio dos bilhetes foi o maior em oito anos.
Atividade parlamentar é afetada
O alto preço das tarifas aéreas afeta também, a atividade dos parlamentares com alto impacto na verba de gabinete que não é corrigida com muita frequência.
Deputados da Bancada do Pará e de outros estados do Norte e do Nordeste, que são distantes de Brasília, viram a frequência de voos minguar desde o início da pandemia do novo coronavírus há dois anos e os preços dispararam. Eles reclamam dos altos preços das tarifas. “Quase dobrou”, afirmaram todos ouvidos pela reportagem, que toda semana precisam viajar para o Pará para dar assistência às suas bases eleitorais. Deputados como Júnior Ferrari (PSD-PA), eleito na região Oeste do Estado, as despesas com passagem aéreas para Santarém e municípios no entorno se esquiparam ao cobrado por um trecho ao exterior.
O deputado federal Joaquim Passarinho (PSD-PA) foi ainda mais assertivo. Explicou que os preços das passagens subiram muito, especialmente as compradas na semana. Ou seja, o deputado, como um empresário ou executivo que precisa viajar com urgência não tem outra opção, vai pagar a tarifa cheia, que são as mais caras.
“O que tenho feito é fazer uma programação e reservas as passagens com bastante antecedência, os preços são menores e com isso consigo aliviar a minha [verba para passagens a que todos os deputados e senadores tem direito dentro do mês]”, explicou Passarinho.
Na tarefa de vice-líder do governo na Câmara, é comum que o deputado Joaquim Passarinho seja surpreendido com constantes mudanças de programação, e a mais comum é acompanhar a comitiva de um ministro de Estado que vai em visita para cumprir agenda de trabalho no Pará. Quando o voo não é num avião da FAB, o parlamentar é obrigado a remarcar a passagem.
“É mais fácil você remarcar uma passagem do que comprar sempre em cima da hora. Um ou outra que você não conseguir cumprir você remarca”, ensina.
Mas, de acordo com o parlamentar, nem tudo são noticias ruins. Na sua opinião, na pandemia houve um ganho. “Com a pandemia aprendemos a fazer as coisas de forma diferente. Por exemplo. Podemos fazer quinze dias de sessões virtuais e 15 dias de sessões presencias. O que exigir um debate mais profundo, tais como, sessão conjunta do Congresso, análise de vetos presidenciais, medidas provisórias exigem presença, e na semana que a pauta for mais leve, podemos evitar o vai e vem e economizar um bom dinheiro ao não comprar os bilhetes aéreas para deslocamento para o estado”, sugeriu o deputado, que vai levar o assunto para a avaliação da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Outra atividade muito impactada e que envolve milhares de empregos é a do turismo. Não existem turismo sem acesso rápido por linhas aéreas e com os preços praticados pelas companhias, o que antes era algo corriqueiro, hoje é luxo caro e proibitivo. Andar de avião, pelo visto, fica cada vez mais inacessível ao brasileiro comum e sem perspectiva de mudança.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.