Uma parceria do Bio-Manguinhos (Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos), da Fiocruz, no Rio de Janeiro, com duas instituições americanas permitirá ao Brasil criar a primeira vacina do mundo a base de uma planta.
A técnica elimina a necessidade de usar vírus atenuados, o que torna o processo mais simples e seguro. O projeto inicial é um imunizante contra a febre amarela -doença grave que, em áreas urbanas, é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue.
Com investimento de US$ 6 milhões (cerca de R$ 10,8 milhões) da Fiocruz, o acordo, firmado com o Centro Fraunhofer para Biotecnologia Molecular e iBio Inc. prevê que os testes em humanos comecem em até três anos.
Embora a vacina atual – com tecnologia 100% brasileira – seja eficaz e barata, ela tem inconvenientes. A Fiocruz é líder mundial na fabricação da vacina, produzindo entre 30 e 40 milhões de doses por ano. Os cientistas cultivam uma estirpe atenuada do vírus em ovos de galinha embrionados. Esses, claro, são bem diferentes dos usados na cozinha: passam por um processo industrial que certifica que estão livres de doenças, entre outras coisas.
Nesse ambiente, o vírus se multiplica e produz o antígeno -a mais importante “matéria-prima” da vacina. Esse método pode causar alergias e, em casos raros, infecções graves. Pessoas alérgicas a ovo, por exemplo, ficam atualmente sem alternativa de imunização contra a doença.
NOVIDADE
Com a nova vacina, em vez de usar o vírus inteiro, os pesquisadores reproduzem apenas sua proteína que causa maior resposta imunológica no organismo. Para isso, eles isolam o gene responsável pela produção dela e o colocam na folha da Nicotiana benthamiana, um tipo de tabaco. Conforme a planta vai crescendo, ela vai produzindo os antígenos.
“As plantas viram mini fábricas da proteína viral que será usada na vacina”, explica Ricardo Galler, pesquisador-chefe do projeto. Nós usamos hoje uma técnica de quase 70 anos atrás. Com o novo método, daremos um salto tecnológico impressionante. Estamos bastante otimistas”, completa Ricardo Galler.
BENEFÍCIOS
Além da redução dos efeitos colaterais em relação à vacina tradicional, a imunização feita à base da planta pode contribuir para o desenvolvimento tecnológico de toda a cadeia produtiva de vacinas, diz Galler.
“Por causa do nosso acordo, ainda não podemos dar detalhes. Mas a técnica usada nas plantas é algo único no mundo”, diz.
O diferencial, segundo ele, é que as plantas usadas não são transgênicas. “Do jeito que nós fazemos, as mudanças não são incorporadas ao DNA da Nicotiana benthamiana. Os descendentes das plantas não têm o gene da proteína do vírus. É preciso repetir o processo”, explica ele.
O método de cultivo também deve permitir economia. Como as plantas são criadas em hidroponia – que substitui o solo por uma substância nutritiva especial – o cultivo pode ser feito em áreas relativamente pequenas, o que simplifica e reduz seu custo.
Este tipo de notícia mostra o quanto é importante o investimento em pesquisa científica no país. Se com poucos recursos nossos pesquisadores conseguem realizar tantas descobertas pioneiras, imaginem se os repasses para ciência forem maiores.
Fonte: Jornalisticamente Falando
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