O assoalho alto para fugir da maré cheia, o colorido das salas, a atmosfera dos bares de beira de estrada com as músicas marcantes e as frases desenhadas em embarcações que cortam os rios. Todos esses elementos juntos compõem parte da paisagem única que a floresta amazônica abriga e que é retratada na exposição “Caboclos da Amazônia – Arquitetura, Design, Música”, que pode ser visitada em Canaã dos Carajás, desde ontem, 18, até o próximo dia 29. Entre 4 e 14 de agosto, a exposição aporta em Marabá.
A exposição foi idealizada pelo designer Carlos Alcantarino e tem apoio cultural do Instituto Vale via lei Rouanet. Paraense radicado no Rio de Janeiro há cerca de quarenta anos, Alcantarino reuniu suas impressões sobre a Amazônia ao percorrer cidades do Marajó, como Afuá, e a ilha do Combú, em Belém. A ideia é mostrar a arquitetura incomum para os padrões do Sul, mas com uma identidade amazônica própria e perceptível em vários elementos.
A expectativa é que os visitantes sejam despertados para esses detalhes do dia a dia que se perdem na rotina. O próprio Alcantarino revela que se deu conta do quanto a arquitetura e as demais formas de representação da cultura amazônica são únicas, ao sair do Pará. “Esse povo criou intuitivamente uma cultura local, com soluções criativas, tanto na arquitetura totalmente integrada na natureza, como nos objetos do dia a dia, passando despercebido por nós paraenses”, observa.
“Eu ia muito a Belém para visitar minha família ou a trabalho. Comecei a andar pelo Combú e a ficar fascinado pela arquitetura. Quando você sai de um lugar e volta, a maneira de olhar muda. Antes, o que para mim era uma coisa normal passou a ser interessante. Ao andar pelo Ver-o-Peso, por exemplo, ver as barracas das erveiras, já achava lindo, mas passei a achar também interessante. Pareciam lindas instalações coloridas e olfativas”, conta.
Para Alcantarino, “a exposição é esse novo olhar sobre as coisas corriqueiras, comuns que a gente tem no Pará que é a arquitetura natural do caboclo, o design natural do povo mais simples. Acho que tem uma estética e cultura muito interessantes. Intuitivamente, criaram toda uma arquitetura local, no design e na música também. O Pará tem uma cultura muito rica”.
Salas – A exposição é dividida em quatro áreas: arquitetura, interiores, letras e música, onde estarão distribuídas mais de 300 peças. Na sala das letras, será possível conhecer um pouco mais do trabalho dos “abridores de letras” como são chamados os pintores de embarcações esmerados em caprichar na pintura de frases.
Nas salas de arquitetura e interiores, as fotos tiradas nas ilhas do Marajó e do Combú remetem às cores fortes das casas caboclas e arquitetura única.
Música
Alcantarino também vai apresentar a trilha sonora que embala essa cultura. Ritmos diversos como carimbó, guitarrada e festa de aparelhagem estarão presentes, onde os criadores apresentam um pouco o caminho para chegar nesses sons tão familiar para nós.
Designer
Carlos Alcantarino nasceu em Belém do Pará em 1958, é graduado e Mestre em Engenharia Civil pela PUC/RJ. Designer autodidata, está radicado no Rio de Janeiro, onde montou em 1996 o Estúdio Alcantarino, especializado no desenvolvimento de móveis e objetos utilitários, projetos arquitetônicos e cenográficos e consultoria em design. Participou de diversas exposições e ganhou alguns dos principais prêmios de design no Brasil e no Exterior.
Serviço
Canaã dos Carajás – A exposição será aberta no dia 18 e seguirá até 29 de julho, no Hall de Exposições da Casa da Cultura de Canaã dos Carajás. A visitação será de segunda a sexta, das 8 às 19 horas, com entrada franca.
Marabá
A exposição ocupará uma área de 200 metros quadrados, no Pavilhão do Carajás Centro de Convenções Leonildo Borges Rocha. Rodovia BR-222, 5210, Nova Marabá. A visitação poderá ser feita entre 4 e 14 de agosto de 2022, das 11 às 18 horas.
(Jambo Comunicação/ Rita Soares)