Calor e seca mataram botos, dizem cientistas

ICMBio constatou a morte de mais de 150 animais em trecho do Médio Solimões, no interior do Amazonas
Animais mortos foram recolhidos ao longo dos rios da região

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Brasília – Cientistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) concluíram, no último domingo (15), que a seca no estado do Amazonas e o aumento da temperatura da água do Lago Tefé estão diretamente relacionados à morte de 153 botos na região.

De acordo com o órgão, há um trecho no lago chamado de Enseada do Papucu que tem contribuído para o número de animais mortos. Em 28 de setembro, quando 70 botos foram encontrados sem vida, as medições da temperatura da água indicavam 39,1°C neste trecho, muito acima da temperatura normal do lago, que é de 30°C.

Ainda assim, muitos botos continuam frequentando o trecho pela grande quantidade de peixes no local, que são parte de sua alimentação básica.

O ICMBio informou estar elaborando uma espécie de barreira física, feita de madeira, para isolar a Enseada do Papucu e evitar mais mortes. Depois disso, planejam fazer uma condução dos animais para áreas mais profundas e menos quentes do Lago Tefé.

Nas pesquisas e autópsias realizadas, não houve indício de algum agente infeccioso como causa da mortalidade. O diagnóstico molecular realizado também deu resultado negativo para que as mortes tenham sido causadas por vírus ou bactérias.

A investigação teve três frentes de monitoramento: água, peixes e fitoplâncton. A única que mostrou comportamento anormal foi a água, por causa da temperatura.

Entenda o caso

Desde o dia 23 de setembro, foi identificado um evento incomum de mortalidade de botos e tucuxis na região do Lago Tefé, no Médio Solimões, no interior do Amazonas – um total de 153 indivíduos, sendo 130 botos vermelhos e 23 tucuxis. 

A seca e a temperatura da água, que chegou a 39,1°C no pico de mortalidade no dia 28 de setembro, estão diretamente relacionadas ao ocorrido, apesar de outras causas de morte ainda não estarem descartadas, como alguma contaminação da água ou doença nos animais. Além das altas temperaturas medidas no lago durante as tardes, há também uma grande variação da temperatura da água durante o dia, variando entre 29° e 38°C.

Dentre os resultados registrados até o momento estão: 153 botos mortos, sendo 130 botos vermelhos e 23 tucuxis. Desse total, 104 animais foram necropsiados e amostras de tecidos e órgãos enviados para diversos laboratórios especializados distribuídos pelo Brasil. 17 indivíduos já foram avaliados com análises histológicas e até o momento não há indício de um agente infeccioso relacionado como causa primária da mortalidade. O diagnóstico molecular (PCR) de 18 indivíduos também deu resultado negativo para agentes infecciosos, como vírus e bactérias, associados a mortes em massa.

A operação do Incidente Emergência Botos Tefé foi dividida em três frentes principais: Setores Operação Vivos, Operação Mortos e Monitoramento Ambiental. O Setor Operação Vivos tem o objetivo de monitorar os grupos de botos e tucuxis ao longo do lago. No caso de algum indivíduo apresentar sinais de anormalidade, existem condições de resgatá-lo e encaminhá-lo ao Flutuante de Reabilitação para monitoramento e possível tratamento e intervenção. Até o momento nenhum animal foi resgatado.

O Setor Operação Mortos tem o objetivo de identificar e buscar carcaças na região e realizar a necropsia, para coleta de amostras para análises laboratoriais (histopatologia, pesquisa de doenças infecciosas, pesquisa de elementos tóxicos e biotoxinas, etc.).

Já o Setor de Monitoramento Ambiental é composto por três frentes de monitoramento: Água, Peixes e Fitoplâncton. De todas as variáveis ambientais e biológicas analisadas até então, a única que tem mostrado um comportamento anômalo é a temperatura da água. A mortandade de peixes encontrada é normal para eventos de seca extrema na região. 

Pela equipe de Fitoplâncton, especialistas da consultoria ambiental AquaViridi, que atuam como voluntários na Operação, têm monitorado o lago e identificaram as espécies de fitoplâncton na Enseada do Papucu, no Lago Tefé. Foi identificada uma proliferação da alga Euglena sanguinea desde o dia 3 de outubro, que, apesar de ter potencial de causar mortalidade de peixes, até o momento não há evidências de que sua toxina esteja relacionada à mortalidade de golfinhos nem que tenha causado a morte de peixes no Lago Tefé.

O Incidente Emergência Botos Tefé foi instaurado pelo ICMBio com apoio técnico do Instituto Mamirauá. No total, mais de 100 pessoas estão envolvidas na operação, de outras diversas instituições brasileiras: Sea Shepherd Brasil, WWF-Brasil, Exército Brasileiro, Marinha do Brasil, GRAD, IBAMA, Aquasis, Aqua Viridi, Instituto Aqualie, Corpo de Bombeiros, Fiocruz, INPA, Polícia Militar, R3 Animal, Greenpeace Brasil, Instituto Baleia Jubarte, LAPCOM-USP, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Conservação de Tefé (SEMMAC) e Prefeitura de Tefé, Sea World.

Por Val-André Mutran – de Brasília