O município de Parauapebas nunca antes se vira tão aperreado num ranking econômico quanto atualmente. E a ameaça vem de um filho seu, que não foge à luta e, para variar, é vizinho: Canaã dos Carajás. Em 1994, quando Canaã foi rejeitado e ganhou, sem muita questão, direito à emancipação, ninguém imaginava que 25 anos depois se transformaria numa potência da indústria mineral que alcançaria o topo nacional de exportação de commodities.
E assim se fez: no primeiro semestre deste ano, Canaã dos Carajás foi o 6º maior exportador brasileiro, de acordo com dados liberados nesta quarta-feira (3) pelo Ministério da Economia. Parauapebas, o genitor, é o 5º maior exportador do Brasil, com diferença muito pequena de Canaã — que, aliás e em muito breve, deixará Parauapebas comendo poeira.
O Blog do Zé Dudu, desde o ano passado, previu a guinada de Canaã na balança comercial este ano. E essa guinada ocorreu de maneira tão intensa que, em maio, pela primeira vez desde que os números de exportação passaram a ser liberados no país, Parauapebas exportou menos que outro município paraense. Canaã é o protagonista da façanha.
No mês de junho, Parauapebas exportou 604 milhões de dólares em commodities e ficou em 3º lugar no país. Canaã, por seu turno, exportou 498 milhões de dólares e ficou em 5º. No acumulado do semestre, Parauapebas tem 2,501 bilhões de dólares em transações comerciais, ao passo que Canaã registra 2,126 bilhões de dólares. É uma diferença tecnicamente pequena, principalmente ao se considerar que nenhum outro município paraense conseguira antes chegar tão próximo da hegemonia de Parauapebas.
Canaã deve não só quebrar essa hegemonia na balança comercial, como também colocar uma margem de distância significativa, à medida que a produção de minério de ferro em S11D siga caminhando rumo à capacidade máxima programada. Além disso, com a expectativa de a multinacional Vale turbinar a capacidade produtiva em 2022, o município de Canaã dos Carajás se tornará imbatível, enquanto a produção em Parauapebas entrará em declínio por conta da exaustão das jazidas minerais atualmente em lavra.
Produção de minério
O Blog do Zé Dudu antecipa agora, a partir dos números do Ministério da Economia, a produção física de minério de ferro no complexo de Carajás, um dado geralmente concentrado e anunciado pela Vale em seus balanços trimestrais. Nos primeiros seis meses do ano, a produção de minério na Serra Norte de Carajás, dentro do município de Parauapebas, foi de 42,38 milhões de toneladas, o menor resultado semestral desde 2012, quando foram lavrados 40,24 milhões de toneladas. Se a produção não for ampliada substancialmente no segundo semestre, Parauapebas poderá registrar em 2019 um dos piores desempenhos na atividade mineral esta década.
Por outro lado, na Serra Sul de Carajás, dentro do município de Canaã, o primeiro semestre fechou com 32,25 milhões de toneladas de minério, volume recorde. No mesmo período do ano passado, a produção foi de 25,72 milhões de toneladas. Outro que também produz minério de ferro, na Serra Leste de Carajás, é Curionópolis, que contabiliza 1,69 milhão de toneladas nos primeiros seis meses deste ano, volume inferior a 2018, quando foram extraídas 1,95 milhão de toneladas.
Finanças municipais
A Prefeitura de Parauapebas, maior beneficiária de compensações financeiras da extração de recursos minerais, só não está sentindo o baque da queda brusca da produção de minério de ferro por duas razões: a alíquota incidente sobre o metal aumentou em 2018, passando de 2% sobre o faturamento líquido para 3,5% sobre o faturamento bruto; e o preço da tonelada do minério no mercado internacional rompeu a casa de 100 dólares, em razão de retiradas de volume do mercado transoceânico pela Vale. Não fossem esses ingredientes, os royalties recebidos pela administração de Parauapebas seriam fatalmente os menores da década.
Todavia, a baixa na produção física de Parauapebas pode afetar negativamente nos próximos anos o recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que se guia, entre outras razões, pelo valor adicionado fiscal, este o qual intrinsicamente ligado aos volumes físico e financeiro das operações minerárias.