Brasília – Embora as campanhas virtuais ganharam força nas eleições municipais de 2020, o uso indiscriminado das redes sociais para conquistar o eleitor indeciso, é uma “faca de dois gumes”. Como o isolamento social é a regra e as aglomerações continuam não recomendadas por conta da pandemia do coronavírus, as campanhas para prefeito e vereador migraram com toda força para o ambiente virtual. Em muitos municípios, a Justiça Eleitoral proibiu comícios e outras atividades presenciais dos candidatos. O jeito foi tentar conquistar o eleitor à distância e é aí que mora o perigo de candidatos sem estratégia profissional de marketing.
A resolução (23.610/19) do Tribunal Superior Eleitoral que disciplina a propaganda tem um capítulo dedicado à internet. No registro das candidaturas, quem pretende ser prefeito ou vereador teve que informar quais sites ou perfis usaria na campanha. A propaganda é permitida em blogs, redes sociais e aplicativos de mensagens, mas há uma série de restrições em relação a material pago e impulsionamento de conteúdo.
O cientista político Alessandro da Costa cita uma pesquisa, feita no início do ano pelo Comitê Gestor da Internet, mostrando que 74% da população com mais de 10 anos, cerca de 130 milhões de pessoas, têm acesso à rede mundial de computadores no país. Segundo ele, o uso da internet, que já foi forte nas eleições gerais de 2018, cresceu ainda mais em 2020, beneficiando o candidato que sabe utilizá-la com critérios e orientação técnica de um profissional da área de comunicação e marketing.
“Onde antes ele iria distribuir panfletos no centro da cidade, distribuir material de campanha, agora, com a internet e a possibilidade de impulsionamentos nas redes, ele vai atingir muito mais gente em muito menos tempo. De algumas eleições para cá, inclusive, os candidatos e partidos já perceberam que o investimento maciço deve ser em propaganda digital”.
Um exemplo foi a estratégia adotada pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), eleito deputado federal em 2018 com uma campanha eminentemente digital. Para ele, esse universo facilita que mais pessoas participem do debate político, que antes era mais elitizado, além de promover uma maior interação entre eleitor e candidato. Ele lembra que os políticos podem expor suas ideias com mais agilidade, mas também são mais cobrados pela população. O parlamentar aponta ainda outra vantagem.
“Amplia também o acesso para candidatos que não têm um histórico político, não têm o apoio de caciques partidários e estão disputando a eleição pela primeira vez.”
O cientista político Alessandro da Costa ressalta que as campanhas virtuais são mais baratas e mais eficientes. Ao invés de pagar cabos eleitorais para distribuir material impresso, o investimento do candidato agora é no profissional ligado à tecnologia da informação. E os políticos podem aproveitar a internet para segmentar a divulgação de suas ideias.
“Eu vou encaminhar de acordo com o perfil do eleitor uma propaganda que lhe interesse porque ele é jovem. Já para aquele profissional com mais de 30 anos, que já tem uma atividade no mercado de trabalho já estabelecida, eu posso encaminhar uma outra forma de propaganda, uma propaganda mais para o perfil adulto, de pessoas que têm experiência. Eu posso colocar uma propaganda fragmentada para um grupo religioso.”
Apesar de todas as vantagens, o cientista político alerta para os problemas do uso massivo da internet nas campanhas eleitorais, como as Fake News, a adulteração de vídeos e a obtenção de dados sobre os eleitores de forma ilícita.
Faca de dois gumes
A enxurrada de “santinhos” online irrita eleitores na campanha eleitoral, diz Costa.
“Como se trata de um recurso delicado, em que é fácil errar a mão, tem eleitor que já se irritou com o assédio e candidato que perdeu potenciais votos desde o início da propaganda eleitoral iniciada em 20 de setembro.
“Quem não amanheceu com as redes sociais cheias de ‘santinhos’ virtuais, que atire a primeira pedra. Desde a estreia das campanhas eleitorais, em que o corpo a corpo não é apenas inviável, mas pode pegar mal, forçou à ampliação o uso da propaganda digital por causa da Covid-19”, ilustra o especialista.
O uso indiscriminado de ‘santinhos’ virtuais é um recurso que tem que ser usado com técnicas de marketing e segmentação de grupos, “é fácil errar a mão, teve eleitor que já se irritou com o assédio e candidato que perdeu potenciais votos antes do início da propaganda”, adverte Costa.
As carreatas foram outro recurso usado neste primeiro contato com os eleitores. Outra aposta delicada, já que atravancar o trânsito pode conquistar antipatia do por parte do eleitor mais apressado.
“Além de atípica, a campanha é desafiadora para políticos, marqueteiros e eleitores. Tende a se sair melhor entre os indecisos aquele que souber encontrar o equilíbrio”, aconselha.
Val-André Mutran – É correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.