Uma das sabedorias dos meus tempos enuncia: quando você quiser se posicionar corretamente sobre as coisas, primeiro saiba o que defende a grande imprensa brasileira. Depois, vá para a outra margem do rio.
Sempre achei que esse negócio de Estado de Carajás servia única e exclusivamente aos interesses imediatos de alguns “arautos” das terras de cá. Os de lá (Belém) nem se davam ao trabalho de engrossar a veia do pescoço contra a ideia. Tanto eles quanto eu achávamos que isso era coisa para as calendas gregas.
Hoje vejo que este país vai continuar a me surpreender até o fim dos meus dias – que só virá sob muito protesto! Aliás, pelo que andei assuntando, serviram-se de uma certa malandragem regimental para fazer com que o projeto fosse votado, o que só corrobora a ideia-chave segunda a qual este país se constitui como o paraíso dos malandros.
Iniciei a prosa falando mal da grande imprensa, coisa que sempre dá ibope, mas a frase ficou solta e preciso fechá-la: a grande imprensa é contra a criação dos Estados de Carajás e do Tapajós. Vou para a outra margem do rio: sou a favor.
Lúcio Flávio Pinto, caso se desse ao trabalho infrutífero de me responder, diria: “mas este argumento é raquítico, famélico, depauperado de ideias”. Ora, já que existe um Lucio Flávio imaginário no meu texto, vou aproveitar para responder, tentando usar minha parca imaginação: caro Lúcio, o Pará teve 400 anos para provar que era viável. Você não acha tempo suficiente?
Todos os dados econômicos usados para demonstrar a inviabilidade dos novos Estados são, invariavelmente, combatidos com argumentos sólidos, mostrando exatamente o contrário. Também já li coisas estapafúrdias em ambas defesas. Mas um fato é incontestável: esses dados são transitórios e absolutamente relativos.
Nesta luta de argumentos há um que – já usado acima – me parece o centro da questão: o Pará tem 400 anos; viveu grandes momentos na história econômica brasileira, protagonizando fatos memoráveis. Entretanto, a realidade que parece inamovível é a absurda diferença regional que se perpetrou por todo esse tempo.
O movimento da cabanagem de outrora e a luta pelos novos Estados de hoje se assemelham no que é central em ambas. São lutas contra a pobreza crônica, contra a discriminação, o descaso histórico e o abandono sistêmico.
A cabanagem foi o clamor mais forte contra esse estado de coisas. Sua força e memória ecoam no grito por liberdade contido na bandeira dos Estados de Tapajós e Carajás.
Aliás, é a memória da Cabanagem que faz as elites belenenses não suportarem a ideia de que alguém queira se libertar de seus tentáculos. Eles não se envergonham de expor as vísceras em público, como o exemplo recente do duelo entre Maiorana e Jáder (olha a grande imprensa aí!), mas não suportam a ideia dos novos Estados. Essas mesmas elites colocam a culpa, até hoje, tanto na cabanagem quanto na adesão à independência, como os principais fatores de desestabilização e ocaso econômico do Pará. Essa idéia-fantasma continua a morar em Belém, sobretudo nas coberturas dos Atalantas* da vida.
Ora, o que tem os cabanos, os tapajônicos e carajaenses a ver com a perda da Zona Franca para Manaus, por exemplo? Que culpa temos nós sobre a enorme descaracterização territorial imposta pela ditadura militar e seus grandes projetos? Por todos esses anos houve governo no Pará que assistiu a tudo como cúmplice direto ou como omisso contumaz. E no fundo, esta realidade insiste e continua a fazer suas vítimas. É só observar como o governo do Pará lida com a Vale, por exemplo.
Os pactos de elites que forjaram este país foram substancialmente perversos em dois casos: Maranhão e Pará, não por acaso os dois últimos estados a integrarem a idéia de independência brasileira.
A região de Santarém, que deve seu pouco desenvolvimento a uns pares de clérigos em missões européias de catequização, testemunhou, ao longo desses séculos, as embarcações conhecidas por gaiolas singrando o Tapajós. Dessas incontáveis viagens, não há uma sequer que não tenha a mancha do entreguismo, da dilapidação, da subserviência aos interesses estrangeiros. O caso emblemático e relativamente recente da Fordlândia é suficiente para atestar o que escrevo. Foram 400 anos de uma mesma cantilena. E quem perdeu com isso foram o povo do Pará e todo o País.
Ando por terras paraenses há 18 anos. Não há nome de rua em Belém homenageando minha família, o que não me impede de nutrir grande apreço por nossa capital. Adoro suas alamedas, suas praças, sua noite. Adoro o jeito do povo de Belém, mas, por onde já andei nesses milhões de quilômetros quadrados de Pará, só consegui observar esse “jeito paraense de ser” nos arredores de Belém. Então, eu me pergunto: o que é ser paraense? Vou a Conceição do Araguaia, é outra coisa. Vou a Tucuruí, é outra coisa. Vou a Marabá, é outra coisa. A conclusão a que chego é que há diversos Parás nestas terras. E se há muitos Parás é lógico concluir que não há como se ter apenas um.
A criação do Tapajós e de Carajás é a multiplicação de uma nação, que apenas quer ter o direito de sair de casa, depois de ter chegado à maioridade.
E se todos esses argumentos, que também a mim parecem fracos, não forem suficientes, termino com um infalível: a Globo é contra. Para o nosso bem estar mental, sejamos a favor!
Cláudio Feitosa
É parioca** da gema, mas adora uma ideia de liberdade.
*Atalanta – prédio conhecido como um dos mais luxuosos de Belém
**parioca – mistura de paraense com carioca
Texto originalmente publicado no Blog do Hiroshi Bogéa e reproduzido aqui com autorização do autor.
20 comentários em “Carajás e Tapajós: a nossa cabanagem”
#11 escrito por Zé Roberto
há 2 dias atrás
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Dados sobre a Divisão do Estado
1 – QUEM PAGA A CONTA. Diversos estudos demonstram a inviabilidade da
relação tributos/despesas destes novos estados, ou seja, os estados já
nasceriam falidos, e a União teria que complementar esta diferença, ou
seja, todos os brasileiros iriam bancar esta despesa.
2 – ESTRUTURA: um novo estado demanda grandes investimentos em
estrutura governamental, então seriam criados um governo estadual, uma
assembléia legislativa, um TJE, um MPE, um TCE, um TCM, cargos
comissionados, etc. E o dinheiro para educação, saúde e segurança
pública para essas populações? Não iria sobrar!
3 – POPULAÇÃO X TERRITÓRIOS: Há um equívoco quando dizem que o estado
é muito grande por isso tem que dividir. Estes novos estados teriam
uma população muito rarefeita, sendo que os dois teriam uma população
menor do que o município de Belém, excluindo região metropolitana
(Ananindeua, Marituba e Benevides, santa Isabel e Santa Bárbara). será
razoável um gasto tão grande para, em tese, beneficiar uma população
bem pequena? Ressalte-se que criação de estados por si só, não gera
riqueza, apenas para alguns. Vejam a região Nordeste (MA, PI, CE, RN,
PB, PE, SE, AL,BA) é a região mais pobre do Brasil, enquanto que a
região sul (RS, SC, PR) é a mais desenvolvida social e economicamente.
4 – FALÊNCIA DO ESTADO DO PARÁ. Mal ou bem o estado do Pará, possui
uma estrutura governamental para atender todo o estado. Com a divisão
os servidores públicos estaduais teriam o direito de optar em ficar ou
voltar para o estado do Pará, além do pagamento dos servidores
aposentados e pensionistas. Como o Pará iria bancar estes servidores,
se ocorrer diminuição de receita? Os investimentos que o governo do
Pará efetuou nestas regiões, Como o Pará iria quitar estes débitos? se
estes estados nascem livres de dívidas! como o Pará se sustentará com
diminuição de receita, mas a continuidade de maior parte das despesas,
já que ficará com a miaor parte da população?
5 – RIQUEZAS NATURAIS: Quando o capitão-mor FRANCISCO CALDEIRA DE
CASTELO BRANCO no ano de 1616 fundou o povoado de Santa Maria de Belém
do Grão-Pará, estas riquezas naturais (Serra dos Carajás), Rio
Tocantins (Tucurui) Rio Xingu (Belo Monte), Rio Tapajós (Alter do
Chão) entre outras já pertenciam a Provincia de Grão-Pará e Maranhão.
Assim, não se sustenta o argumento daqueles que chegaram no Pará,
durante a colonização da Amazônia, de que essas riquesas seriam suas e
que Belém se apropria delas, sem dar retorno para essas regiões.
6 – AUSÊNCIA DE PARAENSES NO SUL DO PARÁ – Um dos argumentos dos
separatistas é de que na região de Carajás não teria paraenses. Esta
informação é equivocada. O último censo do IBGE listou a origem dos
habitantes do Sul do Pará. O maior contingente populacional são de
nascidos no estado do Pará (40%), em 2º lugar, Maranhense (20%), 3º
Tocantinenses, 4º goiano etc. A grande confusão dos separatistas é
afirmar de que existem poucos paraenses no Sul, na verdade, existem
poucos belenenses nestes lugares, a maioria ocupantes de cargos
públicos. Em uma reunião na cidade de Redenção na época, quando eu
respondia lá, foi levantada esta situação, de que existem poucos
paraenses no Sul do Pará. Tinha um mineiro, um paulista e um goiano e
eu questionei quais deles eram oriundos de suas capitais de seus
respectivos estados. Nenhum!!!!!!!! Era de capital de estado, e sim do
interior!!!!, apenas eu era oriundo de Belém.
7 – DIFERENÇA CULTURAL – UM dos argumentos é de que existem diferenças
culturais entre o sul do Pará e o resto do Pará. Outra informação
equivocada, somente de Xinguara pra baixo e pro lado direito com
destino até Saõ Félix do Xingu, que a cultura é diferente, pois
Marabá, Parauapebas, Tucurui a cultura paraense é dominante ou muito
relevante, além do quê este fato por si só não justifica a criação de
um estado.
8 – INTERESSE PESSOAL X INTERESSE COLETIVO – um dos aspectos que se
observa, é que algumas autoridades destas áreas efetua um raciocínio
dentro de uma perspectiva individual (o que eu ganho com a separação?)
do que propriamente o interesse coletivo.Em uma audiência eleitoral na
comarca de Curionópolis, os advogados de Parauapebas e Marabá estavam
comentando acerca da distribuição dos Cargos no futuro estado do
Carajás. Lá foi dito que o atual prefeito de Parauapebas, Darci seria
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Governador seria Asdrúbal
ou Giovani, sendo uma vaga de senador seria para um deles. O prefeito
de Curionópolis Chamonzinho seria dep. Federal. Em Marabá, alguns
juízes estão eufóricos com a possibilidade de virem a ser
desembargadores, inclusive uma já se intitula futura presidente do
TJE/Carajás ou desembargadora. Alguns advogados já estão fazendo
campanha pela separação para entrarem pelo quinto constitucional como
desembargadores ou entrar como Juiz do TRE/Carajás.
Questiono onde está o interesse público tão almejado?
9 – PLEBISCITO – A legislação é clara sobre quem seriam os eleitores
do plebiscito. A população diretamente interessada (art. 18, §3º da
Constituição Federal) A legislação ordinária já regulamentou o tema.
Art. 7º da lei nº 9709/98. In verbis:
“Art. 7o Nas consultas plebiscitárias previstas nos arts. 4o e 5o
entende-se por população diretamente interessada tanto a do território
que se pretende desmembrar, quanto a do que sofrerá desmembramento; em
caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer
anexar quanto a da que receberá o acréscimo; e a vontade popular se
aferirá pelo percentual que se manifestar em relação ao total da
população consultada.”
Bom creio que não há dúvidas acerca do tema.
Após a publicação do decreto legislativo do plebiscito de Carajás, a
Assembléia Legislativa do Estado de Goiás, ajuizou ação perante o STF
requerendo liminarmente que apenas os moradores da região sul e
sudeste do Pará a ser cindida (Carajás) seja ouvida no plebiscito,
excluindo o oeste do Pará, Região Metropolitana de Belém, região da
Transamazônica, região Nordeste e ilha do Marajó. O Relator é o
Ministro Dias Tófoli, e o Estado do Pará, foi citado e já apresentou
Memoriais e argüindo a ilegitimidade ad causam, e no mérito, que todos
os paraense possam opinar.
Com que ética se espera destes cidadãos que estão a frente desses
movimentos separatistas? Que dizer então que como paraense nato, não
posso opinar sobre os rumos do meu estado?
10 – PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO – Entendo a relevância deste
debate, pois as mazelas que existem no interior do estado devem ser
enfrentadas para se propiciar maior cidadania e dignidade a estas
populações. A mera divisão territorial não é o remédio adequado para
sanar subdesenvolvimento. O Jornal “FANTÁSTICO” apresentou matéria
especial acerca do lugar mais violento do Brasil, com índices de taxas
de homicídio superior a regiões que estão em guerra, perdendo apenas
para Honduras. É a região do Entorno do DF (estado de Goiás) onde a
pobreza é alarmante, os médicos pediram transferência ou exoneração,
postos de saúde fechados e a PM de Goiás tem medo de trabalhar lá.
Fica apenas 40 quilômetros do Palácio do Planalto (Casa da Dilma),
distância equivalente entre Belém e Santa Isabel. E 60 quilômetros de
Goiânia, distância equivalente entre Belém e Castanhal.
Constatem que no centro político do Brasil existe esta região carente
de políticas públicas, o que rechaça os argumentos dos separatistas,
de que a pobreza do interior do Pará seja decorrente da distância de
capital Belém.
No meu entendimento, o que falta é melhorar a gestão da administração
pública, devendo atuar com mais agilidade e competência, combater a
corrupção e os vícios dos serviços públicos, e aumentar os
investimentos na Educação, Saúde e Segurança Pública, com maior
capacitação dos profissionais da área e melhorias salariais e das
condições de trabalho. Creio que atuando desta forma, existem chances
concretas de resgate da dignidade dessa população do interior e de
todo o Estado do Pará.
Sr. Cláudio Feitosa,
O seu texto é bonito e até simpático, agradeço a sua consideração pela minha pessoa, mas devo mais uma vez tentar explicar alguns mal entendidos.
Quando eu disse que o povo paraense é reconhecido pela sua hospitalidade é claro que eu me referia a um quadro geral. Se voce perguntar a qualquer pessoa que venha aqui o que acham dos paraenses em geral a primeira coisa que respondem é: “um povo hospitaleiro”. Mas é claro que existemas exceções, como em qualquer lugar, e em nenhum momento eu neguei essas exceções.
Aliás, pelo que vi no seu texto, a única pessoa que está generalizando aqui é o Senhor. Quando eu me referi aos “políticos forasteiros e oportunistas” eu estava apenas me referindo mesmo a esta situação em particular, que é real, e não estava discutindo sobre a vontade do povo em geral, que também é real, isso não estava em questão no meu argumento. Mas você não entendeu isso. Mas você não pode negar que a idéia da emancipação nasceu mesmo desses políticos, que o povo foi levado a acreditar como a melhor solução para eles.
Não quero discutir sobre o estado do Tocantins. Só acho que muitos dos indices sociais pífios que o Pará ostenta poderiam ser menores se o estado não recebesse tantos imigrantes sem qualificação e sem renda, inclusive muitos tocantinenses.
Outro mal entendido. Não chamei a FSP de imprensa isenta, me referi a uma mídia nacional “imparcial” no sentido de que não estão diretamente envolvidos na questão da divisão do estado do Pará. E essa imprensa nacional “imparcial” noticia apenas os estudos sérios feitos por institutos como o IPEA que demonstram que essa questão é no mínimo um duro golpe às finanças da União. Então não estou sendo “cego”, como economista que sou, sou obrigado a ter as minhas ressalvas com relação a essa questão.
Bom, só para finalizar, para não me alongar muito. Fico grato com a lembrança do meu time, o Remo, nos seus argumentos. Espero que um dia possamos reviver os bons momentos no brasileirão! E pra que não fique nenhuma dúvida, minha atual namorada é de Redenção, sendo filhas de goianos, e sempre tive muitos amigos que são “forasteiros” mas que aprenderam a amar estas terras. Alguns deles gostam tanto do Pará que acham uma “ingratidão” quererem se separar, outros são a favor, e a opinião de todos é respeitada.
Meu caro Gleydson,
O senhor definitivamente gosta de generalizar: todos os paraenses são hospitaleiros? Não! Então, não posso lidar com a sua tese, que na minha visão é xenófoba e caolha, partindo de um pressuposto que, apesar de ser real – sim, o povo paraense é hospitaleiro! – não pode servir de tautologia.
Como se estivesse bebendo do próprio veneno, no segundo parágrafo, o senhor dá pistas incontestes que se move “pela vontade cega e inabalável de manter tudo como está”. Veja como inicia o texto: “estou me referindo aos políticos forasteiros e oportunistas”. Ora, meu caro Gleydson, o senhor não pode achar que todo mundo que quer a emancipação seja dessa laia. Mais uma vez mostra-se generalista. Partes do pressuposto que a defesa dos Estados do Tapajós e Carajás é uma idéia que nasce contaminada porque há políticos oportunistas envolvidos. Não é, fique certo!
Sabe o que é cômico, de fato? É o Tocantins, “um dos estados mais atrasados e com piores indicadores sociais do país”, ostentar indicadores melhores que os daqui! Sabe o que queremos, e há séculos não conseguimos? É simplesmente ter indicadores como os do Estado do Tocantins. Ter tantos quilômetros de estradas pavimentadas, quanto lá; ter a mesma quantidade de universidades, ter policiamento e hospitais, para não ter que nos deslocarmos até Araguaína, por exemplo.
A cegueira é tanta que o senhor chama a Folha de São Paulo de imprensa isenta. A FSP é tão isenta quanto o Remo é o melhor time da série A do campeonato brasileiro.
Para quem conhece um pouco da história da Cabanagem sabe que uma de suas consequências foi beneficiar setores periféricos da oligarquia comercial, que vivia às margens do grande comércio capitaneado pelos portugueses. Veja como há efeitos colaterais em tudo, inclusive nas revoluções populares.
Sabe por que se festeja Landi? Porque esse forasteiro italiano, ligado aos interesses da corte portuguesa, aportou em Belém, transformando-a em um dos mais belos exemplos de arquitetura européia adaptada às condições dos trópicos. Este forasteiro ajudou Belém a se transformar na bela capital da Sentinela do Norte.
Todo lugar do mundo foi construído por forasteiros, que depois de certo tempo viraram “gente da terra”, e, muitas das vezes, começaram a chamar de forasteiros os que chegavam.
Como o senhor deve ter conhecimento, as pessoas não nascem por combustão espontânea. Elas formam uma comunidade por deslocamento. Os que chegaram há cerca de 90 anos em Marabá, por exemplo, já estão com suas famílias na quarta geração de marabaenses. Mais paraense impossível! Entretanto, conheço diversas famílias com essas características que são fervorosos defensores de Carajás. E aí? Essas pessoas estão iludidas com a conversa fiada dos políticos oportunistas e forasteiros, ou estão querendo construir um lugar melhor para a sua quinta geração se aninhar?
Não o conheço, o que não me impede de ter-lhe simpatia. O fato de o senhor estar encarando o debate de forma franca e aberta atesta a verdade de seus propósitos.
Não conheço, tampouco, sua árvore genealógica, mas sou capaz de apostar uma coca-cola como lá, em algum lugar do passado, há um forasteiro que chegou ao Pará e, desde então, vem ajudando a construí-lo. Também sou capaz de apostar uma coca-cola que a sua verve em defesa da Sentinela do Norte assenta-se nesta história familiar de vida.
Não pedimos que se abstenha de suas defesas, mas que tente compreender que por aqui há histórias bem parecidas com a sua, e que, por estes motivos, também são aguerridos defensores da emancipação dessa terra.
Por último, quero dizer que eu peguei o Ita quando ele vinha de volta. Não o Ita que levou Lucio Mauro, a Fafá de Belém, a Leila Pinheiro, o Palmério Dória, o Billy Blanco… Não! Peguei foi o Ita dos que continuam humildes e anônimos paraenses que aportaram no Rio de Janeiro e, no mais das vezes, foram bem recebidos.
Adoro o Pará! Tenho por esta terra profunda afeição e gratidão, mas não posso “fechar os olhos” para uma realidade que grita por liberdade; que grita pelo direito de romper os grilhões seculares de abandono e discriminação.
Cláudio Feitosa
Texto preconceituoso e sem fundamento. Não há argumentos sólidos para a divisão. Portanto NÃO À DIVISÃO.
Sr. Cláudio Feitosa,
Você acusar um paraense de xenófobo é no mínimo outra injustiça para com o povo q o acolheu. Nós paraenses somos reconhecidos como um dos povos mais hospitaleiros do país, sempre recebendo de braços abertos quem aqui chega. Não se tem notícia de que imigrantes sejam mal tratados neste grandioso estado, pelo contrário, aqui ocorre até uma curiosa inversão da coisa, onde os paraenses legítimos ou da capital são vistos pelos imigrantes que residem na região sul-sudoeste do estado com desconfiança, sendo chamados de preguiçosos ou sugadores. Sei do que estou falando porque viajo com bastante frequência para o Sul-sudoeste do meu estado.
E outra coisa, estou me referindo aos politicos forasteiros e oportunistas, aqueles que não tem nenhuma relação com este estado, com a história deste estado, que vieram aqui apenas movidos por interesses próprios, que pregam um discurso separatista não pensando em melhorar a vida dos cidadãos que moram na região e sim para obter mais poder e privilégios, e fazem isso usando os mesmos argumentos rasos de sempre, justificando uma divisão sem levar em contas estudos sérios e o bom senso. Aliás, quando os “forasteiros” da Folha ou de qualquer mídia imparcial mostram que a divisão é uma falácia, o fazem baseados em critérios técnicos e em estudos amplamente divulgados, que infelizmente, vocês, cegos pela vontade inabálavel de se separar, não querem enxergar. O Brasil está vendo coisas que somente vocês não querem ver.
Aliás, a tese do Tocantins é quase cômica. Tocantins é um dos estados mais atrasados e com piores indicadores sociais do país e vocês advogam como um estado desenvolvido! Seria a mesma coisa que o Amapá!
Só pra terminar eu peço uma coisa apenas:
Se vocês não são gratos ao povo e ao estado que os acolheu quando aqui chegaram com uma mão na frente e outra atrás, ao menos respeitem a história deste povo tão simples e sofrido mas hospitaleiro e orgulhoso de suas origens, tradições e lutas. Jamais comparem a Cabanagem com interesses escusos de quem quer que seja. Viva o povo Cabano! Viva o estado do Pará! Para sempre a Sentinela do Norte!
zé ficou faltando:
A pergunta que devemos nos fazer é por que esse Estado täo rico tem uma participacäo pífia no PIB nacional ? – cerca de 4%, salvo engano.
Fique certo: näo estamos propondo a emancipacäo de Carajás e Tapajós porque queremos “esfacelar” o Pará.
Propomos essa nova configuracäo porque queremos que essas regiöes se desenvolvam, e acreditamos que o Pará também ganhará com isso. Os dois exemplos mais recentes de emancipacäo – Mato Grosso e Tocantins – ajudam-nos a advogar a tese.
Cláudio Feitosa
Gleydson,
O Estado de Carajás é a luta em prol da melhoria do povo (sic) que aqui vive e ajuda a construir uma das regiöes mais pulsantes do País. É, sim, uma luta popular.
É claro que há interesses escusos entre os que defendem a emancipacäo da regiäo, assim como há interesses escusos entre aqueles que defendem a manutencäo dos limites geográficos atuais.
O problema é que vcs só veem sacanagem nos políticos forasteiros, mas näo veem a sacanagem secular dos políticos que nos mantiveram na condicäo de cidadäos de segunda classe.
Aliás, o que você chama de forasteiro? Säo aqueles que vivem aqui há apenas uma geracäo? Ou seriam aqueles que vivem por aqui há menos de 26 anos e 7 meses? Ou seriam aqueles que näo nasceram no Pará? Em que bases “científicas” você assenta a tese xenófoba?
Ora, Gleydson, os “forasteiros” da Folha de Säo Paulo estäo há 3 semanas batendo na mesma tecla, em uma clara demonstracäo que os interesses paulicentristas estäo sendo colocados em xeque. E o que vc deveria estar se perguntando é por quê eles säo täo insistentemente contrários a ideia. “Desconfio” que os reais motivos possam ser explicados com a inversäo daquela máxima preconizado por Juracy Magalhães que dizia “que o que é bom para o EUA, é bom para o Brasil”. No nosso caso a frase é essa: o que é bom pro Norte, é ruim pro Sudeste.
Longe de ser apenas um debate do Pará, a nova configuracao do mapa brasileiro é uma questäo estratégica para o desenvolvimento de todo o Norte.
A pergunta que devemos nos fazer é por quê esse Estado täo rico tem uma participacäo pífia no PIB nacional – cerca de 4%, salvo engano.
Comparar a Cabanagem com a Sacanagem desses políticos forasteiros canalhas é uma afronta e desonra a todos os paraenses verdadeiros descendentes dos Cabanos cujo sangue corre em suas veias. A cabanagem foi uma luta em prol da melhoria do povo paraense e não do seu esfacelamento.
Meu caro Zé Omar,
Suas sempre bem traçadas linhas estão prenhes (ops!) de argumentos interessantes. Entretanto, no concernente ao Rio de Janeiro, estás enganado. Há, sim, uma unidade no Estado, com certas particularidades em áreas de fronteira. Deste modo, podemos ver algo de mineirice em Bom Jesus de Itabapoana (RJ), município vizinho a Muriaé (MG), e algo de fluminense, em Juiz de Fora, cidade mineira, quase fronteira com o Rio. Isso gera certo “sincretismo cultural”, o que é salutar. Mas, convenhamos, isso é comum a todas as regiões fronteiriças do País. Porém, é só lembrar que não há nenhum movimento separatista no Estado do Rio de Janeiro para concluirmos que o seu argumento não procede.
A analogia com a família também me parece incabível, já que não escolhemos a nossa família. Isso, sem levar em consideração o fato recorrente de muitos familiares viverem separados por total e absoluta falta de identidade.
Esse problema da pata do boi é o mesmo da pata do búfalo, no Marajó; é o mesmo da soja, na BR 163; é o mesmo dos espigões, a descaracterizar a nossa Belém querida. Não há nestes aspectos nada que tangencie o debate sobre a criação de uma nova unidade federativa, no meu entender.
A essência desses problemas está em outro componente, que independe da luta pelo Tapajós e Carajás, qual seja: o modelo de desenvolvimento do capitalismo na região amazônica. Mas isso não mudará sob as condições geopolíticas atuais, e não creio que poderá mudar substancialmente com a criação dos novos estados. A configuração dos novos estados serve-nos, sobretudo, para duas questões: 1) buscarmos a diminuição substancial das diferenças regionais; 2) Fortalecermos a Amazônia, pelo simples fato de que a nossa representação política ganhará força.
Ainda sobre a elite da pata do boi, da grilagem e da pistolagem, que tal um pouco de Estado para tentar acabar com esses problemas? Pois se nos sobram agruras, meu caro Zé Omar, falta-nos o tal do Estado, do qual só tomamos conhecimento eventualmente.
Veja o exemplo do Tocantins, que transformou o Bico do Papagaio de região mais violenta do País, nos idos de 80, em uma região produtiva e com índice sociais bem melhores em relação ao passado, quando aquela gente morava “no corredor de pobreza de Goiás”.
Os vários Brasis não se constitui como um problema a ser resolvido com a criação de outra nação. Pergunte a algum brasileiro se ele quer que o seu estado ou região deixem de pertencer ao Brasil? O fato de não existir, desde a tentativa da república do Equador e do Movimento Farroupilha, um clamor dessa monta é sugestivo de que todos estamos satisfeitos com a nossa condição de brasileiros. Esse debate vale, por exemplo, para a Catalunha, na Espanha; não para esta terra de milagres – considero a nossa unidade federativa um milagre a atestar a máxima segundo a qual Deus é brasileiro!
Meu caro Zé, um problema só é real quando ele está além da nossa cabeça. A criação dos Estados do Tapajós e de Carajás não é uma necessidade somente na minha cachola.
Embora reconheça como legítima a sua preocupação em relação às reais intenções de alguns separatistas, peço que não abstraia das suas análises o fato de que há também na cabeça de alguns antisseparatistas intenções de mera manutenção de um status quo quatricentenário. Ora, meu caro Zé, há os pusilânimes de cá, e há os de lá!
Por último, faço uma sugestão: que tal terminar esse “duelo” com umas garrafas de cerveja bem gelada a nos mediar? Pode ser a Cerpinha, genuíno produto paraense ao qual faremos questão de manter em nossa pauta de importação para o Carajás.
Grande abraço,
CF
Parabéns Claudio Feitosa, pelo texto, preciasamos afinar este debate e pessoas como você faz a diferença para nossa região!
Ei Zé Dudu, publique aí a postagem do José Omar aí, seja imparcial!
Assim como existem muitos Parás, caro Claudio, existem no seu querido Rio de Janeiro, vários Rios. O residente em Niterói é diferente do Fluminense do interior, que em nada se parece com o carioca da zona sul. Nem por isso se fala em retalhar o estado do Rio de Janeiro. O Brasil, então! Quantos Brasis existem do Oiapoque ao Chuí?Vamos separá-los, portanto!Eu não me reconheço no Brasil do chimarrão e bombachas, por exemplo, muito menos nesse Brasil que derruba castanheiras para trazer a pororoca na pata do boi, achando que é progresso. Aliás, não me reconheço nem mesmo em muitos de meus irmãos de sangue, alguns tão diferentes de mim, no pensar e no agir. E minha esposa, mais diferente impossível..Meus filhos, cada um com sua cabeça..Separemo-nos,então, pois somos tantos e tão distintos, ainda que ,em nossas diferenças, sejamos parte de uma mesma família.
Desculpe-me, ainda que seja um argumento transitório, entregar meu destino a essa elite política que se pretende estadual, a elite do boi e da queimada, da pistolagem e da grilagem, das caminhonetes e do som automotivo, eu “quero não”!
Quanto a termos chegado à maioridade,quando olhamos para o “velho Pará” ,verifico que temos a pressa descuidada dos adolescentes, adultos no domínio do funcionamento dos sofisticados aparelhos celulares, mas recém-nascidos no quesito consciência política , visto que sequer cobramos de nossos governantes suas mais elementares responsabilidades institucionais.
Aí, sim, nossos posicionamentos, certamente, coincidem.
O debate sobre a criação do Estado de Carajás talvez seja a oportunidade para a nossa primeira e verdadeira cabanagem: uma cabanagem high-tech, com o Duda Mendonça, entre uma e outra rinha de galo, como um Antonio Vinagre, liderando nossos “tapuias, escravos libertos e mestiços”, na luta pela conscientização política, pela exigência de cidadania, pelo apego à ética na política, no trânsito, nas relações interpessoais, pré-requisitos indispensáveis para a formação do indivíduo, sem o que o Estado de Carajás será o que querem que seja: um atalho conveniente para o poder, a mudança que nada virá a mudar.
José Omar
Claudio parabéns,
Concordo em gênero número e grau com você.
Não confundam a cabanagem com sacagem.
A luta dos nossos antepassados não deve ser confundida com a luta de politicos interesseiros e inescrupulosos que querem esfacelar o Pará, em proveito próprio.
Claro!!! principalmente Criar tais estados por meio de regimes meramente democráticos(autoritários)…Com a falácia e/ou retoricas de que as populações mais isoladas ou que vivem entre a linha da subumanidade e da desumanidade conherão ao progresso….Que tal então se as periferias se tornassem estados, eita o Brasil com uns 200 mil municipios…
Reconheço sim a pobreza dos povos, e as representações políticas, só que muito mais pelas negligências e desrespeito (Aos mesmos que lutam pela criação dos estados). Poxa vida hein, seria excelente se pensassemos em desenvolvimento, baseados(Não no auge das nossas inspirações etilícas), mas em questões tão SOMENTE mais interessantes e não menos importantes (Coisas que excedem a moralidade) na intenção de proporcionar (OS PODRES PODERES) um pouco de dignidade, a grande maioria que não tem noção do que é saneamento básico(ISSO TUDO EM PLENO SÉCULO XXI)……
Achei magnífico o texto, Cláudio. Valeu!
hoje imprensa não tem mais força e domínio da sociedade, a imprensa precisa da sociedade; a imprensa globo como o amigo tem dito querendo ou não vai ser criado o Estado do Carajas, isso não depende da imprensa globo, e sim da sociedade. A imprensa tem que deixar de ser boba, foi o tempo que fazia e desfazia a hora que quisesse, mais essa criação depende da sociedade que tanto perece para uma vida melhor. povo que grita por socorro, povo que esta felizes com essa criação, da para perceber que o tiro da imprensa saiu pela culatra. Agora é realidade para o povo de carajás, se a imprensa for a favor vai ser realidade muito bom se tiver a imprensa reconhecendo a carência do povo pobre hoje sem futuro, tem projeto e perspectividade de vida melhor, so que o poder pulitico do Estado não da as condiçoes necessaria para que isso aconteça, agora com ajuda de imprensa ou nao vai acontecer. parabéns meu povo carajenseeeeee, voces merece,
Só para titulo de informação hoje, estar fazendo 16 dias que o DETRAN de Canaã dos Carajás encontra-se fazendo apenas entrega de documentos, por falta de pagamento todos decidiram ficar em casa, após a nomeação do novo gerente da agencia, todas as regalias que eram proporcionadas pela prefeitura do município foram cortadas, haja vista que foi o pupilo Sr Waldemar da Pavinorte (PSDB), e o Sr Prefeito Anura Alves (PDT), fidalgos mortais, então o povo grita, faz escândalo e o Sr gerente nada faz, apenas vai para a TV de seu patrão terce comentários sobre o Sr. Prefeito e ai de quem é a culpa do Estado ou do Município, sem conta que o DETRAN Belém, nada sabe a respeito das brigas por aqui alavancadas, aio povo é que paga o pato, haja vista que o Sr. Gerente nada vai fazer para os usuários que estão com seus processos de habilitação vencendo e correm o risco de perde e ter que começa tudo de novo e os usuários de veículos que precisam licenciar os mesmo e não podem por causa de palhaçada que encontra o nosso município, ou seja quando procuramos o DETRAN, não tem ninguém para resolver nossa situação, e quem vai pagar por nossos prejuízos, quem vai assumir a culpa, dessa vergonha que encontra o povo de Canaã dos Carajás.
Um forte abraço
Só para titulo de informação hoje, estar fazendo 16 dias que o DETRAN de Canaã dos Carajás encontra-se fazendo apenas entrega de documentos, por falta de pagamento todos decidiram ficar em casa, após a nomeação do novo gerente da agencia, todas as regalias que eram proporcionadas pela prefeitura do município foram cortadas, haja vista que foi o pupilo Sr Waldemar da Pavinorte (PSDB), e o Sr Prefeito Anura Alves (PDT), fidalgos mortais, então o povo grita, faz escândalo e o Sr gerente nada faz, apenas vai para a TV de seu patrão terce comentários sobre o Sr. Prefeito e ai de quem é a culpa do Estado ou do Município, sem conta que o DETRAN Belém, nada sabe a respeito das brigas por aqui alavancadas, aio povo é que paga o pato, haja vista que o Sr. Gerente nada vai fazer para os usuários que estão com seus processos de habilitação vencendo e correm o risco de perde e ter que começa tudo de novo e os usuários de veículos que precisam licenciar os mesmo e não podem por causa de palhaçada que encontra o nosso município, ou seja quando procuramos o DETRAN, não tem ninguém para resolver nossa situação, e quem vai pagar por nossos prejuízos, quem vai assumir a culpa, dessa vergonha que encontra o povo de Canaã dos Carajás.
Um forte abraço
Muito interessante o artigo:
“A criação do Tapajós e de Carajás é a multiplicação de uma nação, que apenas quer ter o direito de sair de casa, depois de ter chegado à maioridade.”